Capítulo Catorze

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Alice Rigby

    Acordo com o som do meu despertador, exatamente às 8:30 da manhã. Se tem algo que eu odeio, é acordar cedo. E parece que, quando sou acordada pelo despertador, fico com mais ódio ainda.

    Me arrasto até o banheiro, a fim de tomar banho e dar um trato no rosto de zumbi. Enquanto espero meu cabelo secar, enrolado na toalha, escovo os dentes e passo uma maquiagem leve, mas com muita base para esconder as olheiras.

    Pego qualquer roupa que vejo, que se resume em um jeans comprido e uma blusa lilás, e prendo meu cabelo em uma trança longa, acima do ombro.

    Antes mesmo de terminar a trança, ouço uma batida na porta, e me lembro de Nicholas. Talvez ele queira me mostrar a escola agora cedo.

    Me esforço para deixar uma expressão um tanto aceitável no rosto, e vou atender a porta.

    - Oi...Vitor? O que você faz aqui? - minha voz que, a principio estava até um tanto meiga, se transformou em uma voz cheia de ódio e rancor.

    - Você não quis me ouvir, decidi te procurar novamente. Me escute, por favor, Alice... - ele começa, mas nem lhe dou chances de terminar a frase.

     - Espera, deixa eu ver se entendi. Você errou feio e ainda acha que merece meu perdão? Você é doente mesmo, Vitor. Não sei o que um dia eu vi em você.

    Fecho  a porta em sua cara, e espero o silêncio chegar para ter certeza de que ele já foi embora. Me afasto então da porta, como se tivesse levado um choque no braço, e corro para o banheiro. Meus olhos, mesmo maquiados, mostram claramente o quanto sofrem para segurar as lágrimas. E meu coração, meu maior traidor, ainda ousa me dizer que devo escutar Vitor. Talvez eu esteja o julgando muito precipitadamente.

    Mas me recuso a pensar que isso seja verdade. Se ele me deixou sem nenhuma razão, é porque hoje não merece meu perdão.

    Me desculpe, Vitor, mas não sou capaz de te perdoar.

********************

    Evitei encontrar Vitor novamente durante o dia. Na hora do almoço, decidi permanecer no quarto, lendo alguns livros e até arranjei uma maçã para comer e não desfalecer de fome.

    "Todo mundo em quem confiamos, todos aqueles com os quais pensamos que podemos contar, com o tempo acabam nos decepcionando."

    Meus olhos, que antes apenas passeavam nas páginas do livro, se fixam nessa frase. Ela me arranca dos meus pensamentos, que nem concretos eram, e novamente encaminha minha mente para Vitor.

    "...com o tempo acabam nos decepcionando."
    Será que, na verdade, nosso mundo é um livro? Eu sou a Lena, então? Exitem outras "Lenas" ao redor do mundo, apenas esperando que o amor não as fira? Se Vitor não foi meu "pareado correto", quem será?

    "Todo mundo em quem confiamos..."
    Minha cabeça gira, meus olhos giram, meu cérebro gira, e nada mais parece fazer sentido. Não consigo pensar em mais nada.

    "...todos aqueles com os quais pensamos que podemos contar..."
    O já comum gosto de bile sobe pelo esôfago, e me seguro na cama como se fosse ser arrancada de órbita, e quisesse evitar isso.

    "...com o tempo acabam nos decepcionando."
    O refluxo some. E quando finalmente penso que serei deixada em paz, que me deixarão ter sossego, alguém bate na porta.

    - Quem é? - grito de onde estou, com receio de abrir a porta e me deparar com o pior par de olhos castanho que poderiam existir.

    - Nicholas. Vim te buscar para mostrar a escola - ele responde. E ao invés do receio me dar tchau e ir embora, ele simplesmente continua lá, não deixando a paz aparecer, ocupando o espaço do alívio. Como se fosse uma segunda Alice que me assombraria para sempre.

    com ele, eu digo a mim mesma.

    Está louca? É melhor ficar aqui, minha mente responde.

    Mas Nicholas é legal, ele é diferente, eu rebato.

    Como sabe? Acabou de conhecê-lo, o anijinho no meu ombro diz.

    Mas será apenas um passeio pela escola. O que de perigoso nisso? Digo.

    Você achou o mesmo com respeito ao Vitor. E veja no que deu..., a boa razão aparece, pondo ponto final na discussão do meu íntimo.

    Mas não escuto-a. Ignoro.

    Às vezes, correr riscos não levam à morte, certo? Penso, mas ninguém aparece para me responder.

    - Já vou - respondo para Nicholas, e me levanto para me arrumar.

   

   

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