Alice Rigby
Acordo com o som do meu despertador, exatamente às 8:30 da manhã. Se tem algo que eu odeio, é acordar cedo. E parece que, quando sou acordada pelo despertador, fico com mais ódio ainda.
Me arrasto até o banheiro, a fim de tomar banho e dar um trato no rosto de zumbi. Enquanto espero meu cabelo secar, enrolado na toalha, escovo os dentes e passo uma maquiagem leve, mas com muita base para esconder as olheiras.
Pego qualquer roupa que vejo, que se resume em um jeans comprido e uma blusa lilás, e prendo meu cabelo em uma trança longa, acima do ombro.
Antes mesmo de terminar a trança, ouço uma batida na porta, e me lembro de Nicholas. Talvez ele queira me mostrar a escola agora cedo.
Me esforço para deixar uma expressão um tanto aceitável no rosto, e vou atender a porta.
- Oi...Vitor? O que você faz aqui? - minha voz que, a principio estava até um tanto meiga, se transformou em uma voz cheia de ódio e rancor.
- Você não quis me ouvir, decidi te procurar novamente. Me escute, por favor, Alice... - ele começa, mas nem lhe dou chances de terminar a frase.
- Espera, deixa eu ver se entendi. Você errou feio e ainda acha que merece meu perdão? Você é doente mesmo, Vitor. Não sei o que um dia eu vi em você.
Fecho a porta em sua cara, e espero o silêncio chegar para ter certeza de que ele já foi embora. Me afasto então da porta, como se tivesse levado um choque no braço, e corro para o banheiro. Meus olhos, mesmo maquiados, mostram claramente o quanto sofrem para segurar as lágrimas. E meu coração, meu maior traidor, ainda ousa me dizer que devo escutar Vitor. Talvez eu esteja o julgando muito precipitadamente.
Mas me recuso a pensar que isso seja verdade. Se ele me deixou sem nenhuma razão, é porque hoje não merece meu perdão.
Me desculpe, Vitor, mas não sou capaz de te perdoar.
********************
Evitei encontrar Vitor novamente durante o dia. Na hora do almoço, decidi permanecer no quarto, lendo alguns livros e até arranjei uma maçã para comer e não desfalecer de fome.
"Todo mundo em quem confiamos, todos aqueles com os quais pensamos que podemos contar, com o tempo acabam nos decepcionando."
Meus olhos, que antes apenas passeavam nas páginas do livro, se fixam nessa frase. Ela me arranca dos meus pensamentos, que nem concretos eram, e novamente encaminha minha mente para Vitor.
"...com o tempo acabam nos decepcionando."
Será que, na verdade, nosso mundo é um livro? Eu sou a Lena, então? Exitem outras "Lenas" ao redor do mundo, apenas esperando que o amor não as fira? Se Vitor não foi meu "pareado correto", quem será?"Todo mundo em quem confiamos..."
Minha cabeça gira, meus olhos giram, meu cérebro gira, e nada mais parece fazer sentido. Não consigo pensar em mais nada."...todos aqueles com os quais pensamos que podemos contar..."
O já comum gosto de bile sobe pelo esôfago, e me seguro na cama como se fosse ser arrancada de órbita, e quisesse evitar isso."...com o tempo acabam nos decepcionando."
O refluxo some. E quando finalmente penso que serei deixada em paz, que me deixarão ter sossego, alguém bate na porta.- Quem é? - grito de onde estou, com receio de abrir a porta e me deparar com o pior par de olhos castanho que poderiam existir.
- Nicholas. Vim te buscar para mostrar a escola - ele responde. E ao invés do receio me dar tchau e ir embora, ele simplesmente continua lá, não deixando a paz aparecer, ocupando o espaço do alívio. Como se fosse uma segunda Alice que me assombraria para sempre.
Vá com ele, eu digo a mim mesma.
Está louca? É melhor ficar aqui, minha mente responde.
Mas Nicholas é legal, ele é diferente, eu rebato.
Como sabe? Acabou de conhecê-lo, o anijinho no meu ombro diz.
Mas será apenas um passeio pela escola. O que há de perigoso nisso? Digo.
Você achou o mesmo com respeito ao Vitor. E veja só no que deu..., a boa razão aparece, pondo ponto final na discussão do meu íntimo.
Mas não escuto-a. Ignoro.
Às vezes, correr riscos não levam à morte, certo? Penso, mas ninguém aparece para me responder.
- Já vou - respondo para Nicholas, e me levanto para me arrumar.
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AliceS in Wonderland
ChickLitDuas meninas completamente diferentes, com apenas uma coisa em comum: o próprio nome. Alice Black, rockeira e revoltada com a vida, tem problemas com a família e esconde seu verdadeiro eu atrás de uma cabeleira azul e de uma lista nada pequena de en...