Capítulo Três

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Alice Black

    Depois de todo o processo de cumprimentar minha mãe, conhecer meu padrasto, pegar minhas malas e usar o banheiro, entramos no carro de Paul, em direção de minha nova casa.

Durante o caminho inteiro, não ouso me separar de meus amados fones de ouvido, meus eternos companheiros. Minha playlist favorita toca e retoca algumas vezes. Acredito que tanto minha mãe como Paul tentaram iniciar alguma conversa comigo, mas minhas respostas "uhum", "sim", "é", devem tê-los feito desistir.

Mal percebo quando paramos o carro.

- Bem-vinda a sua nova casa, Alice! Entre e sinta-se à vontade! – Paul, cordialmente, me acorda de meu devaneio e abre a porta para mim.

Saio do carro, então, me atrapalhado um pouco para pegar minhas malas. Me surpreendo ao ver a casa. Não imaginava que professores podiam pagar mansões. Eles devem ter até criados!

- Não vai entrar, querida? - Ouço minha mãe dizer atrás de mim.

- Já vou, Elizabeth - respondo.

Percebo que ela não fica feliz com o modo que lhe tratei. Mas eu não tenho culpa! Ainda não me acostumei a ter uma mãe, e vai demorar para eu passar a encará-la como uma.

Entro na casa, enfim, e me deparo com uma enorme sala de estar, uma escada grande e ostentosa direcionada ao andar de cima e, mais ao fundo, a cozinha. Provavelmente, não preciso dizer que estou encantada.

- Seu quarto é no andar de cima, Alice - diz Paul.

Assinto e, com um pouco de dificuldade por causa de minhas milhões de malas, tento subir as escadas.

Tentativa falha. Não consigo subir nem cinco degraus.

Decido, então, conhecer meu quarto primeiramente. Depois me preocupo com minha bagagem. Assim que chego no andar de cima, vejo uma porta entreaberta e penso ser meu quarto.

Abro-a sem nenhuma reverência. Péssima ideia, aliás. Meu dia está coberto de m

Deparo-me com um ser pertencente ao sexo masculino deitado em cima da cama, agora gritando por causa de minha intromissão.

- Ei! Não sabe bater, não?

- Ah! Desculpe! – Logo respondo, fechando a porta. Encosto-me nela, ainda assustada pelo ocorrido, e vejo meus novos "pais" subindo as escadas, provavelmente porque ouviram o grito.

- Vejo que conheceu Alex - diz Paul.

- Quem? - Pergunto, ainda assustada com o que acabou de acontecer.

- Alex, meu filho. Você não sabia que eu tinha um filho? - Ele pergunta. Eu nego com a cabeça, respondendo sua pergunta.

- Seu quarto é o do lado, querida - diz minha mãe, calma, mas percebo que ela está se segurando para não rir.

- Ok! Obrigada - respondo, e corro para dentro do meu suposto quarto.

Pela enésima vez hoje, me surpreendo. Sabe quando você cresce sonhando com um quarto, com decoração e cores específicas? Pois o quarto que encontro saiu dos meus sonhos. Talvez um pouco mais perfeito do que em meus sonhos, aliás.

Ele possui as paredes brancas, uma delas com detalhes variados de cinza e preto. Meu quarto é uma suíte, com closet acoplado. Há pendurado nas paredes pôsteres de minhas bandas favoritas, e também há uma sacada linda virada para o pôr do sol. Prateleiras recheadas de livros ocupam quase uma parede inteira e minha cama está coberta por almofadas.

Não me privo do prazer de sair correndo e pular na cama mais atraente que já vi em minha vida. Creio que já posso morrer, agora.

Depois de alguns longos minutos brincando com as almofadas (que ninguém jamais saiba disso), resolvo buscar minhas coisas na sala.

Ao sair do quarto, trombo com o tal Alex, e só agora posso reparar nele de verdade.

É alto. Bem alto. Eu sei que qualquer um perto de mim é alto, já que eu tenho pouco mais de um metro e meio de altura, mas ele é alto mesmo. Possui cabelos castanhos, completamente fora de ordem, e seus olhos, como os meus, são verdes. Parece um pouco mais velho que eu, talvez uns 18 anos.

Que ninguém saiba disso também, mas só encontro coisas/pessoas atraentes nesse lugar!

- Bom...desculpe pela intromissão... - digo meio envergonhada. Talvez seja o fuso horário ou meu cansaço, mas estou mais educada que o normal hoje.

Ele me analisa, como se estivesse considerando me perdoar. Suas sobrancelhas se unem e se separam conforme pensa, e uma mexa de cabelo cai sobre um de seus olhos. Que Deus cuide do meu coraçãozinho.

- Ok, tudo bem - ele diz, desviando o olhar para qualquer coisa que não fosse eu - Sou Alex.

- Alice.

Voltando a me encarar, percorre meu corpo com os olhos. Sinto minhas bochechas corarem, e não gosto disso.

- Gostei do cabelo! – Ele diz, sorrindo – Você tem quantos anos? Quatorze?

Alex explode em gargalhadas, como se tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do mundo, e sinto meu rosto queimar novamente, mas agora de raiva. Quem ele pensa que é para fazer piada com minha altura?

- Dezesseis, idiota... - respondo irritada. Minha baixa estatura não me faz parecer mais nova!

Desço as escadas com a cabeça em chamas, largando-o sozinho, e decido esquecê-lo por pegar minhas coisas, começando com a mala de pertences de importância sentimental - livros, discos colecionáveis, CD's, filmes, etc.

Subo a escada, quase correndo, e tenho a "sorte" de tropeçar no último degrau. Já estava esperando cair de cara no chão, depois que a caixa já se fora, se não fosse uma mão milagrosa que me ampara.

Kurt Cobain? Quem dera.

Alex. Seu nome soa como o nome de uma doença em minha cabeça e, como medida de segurança, é bom se afastar de doenças, certo? Talvez amanhã eu vá tomar a vacina anti-Alex.

Encaro seus olhos verdes penetrantes, um pouco hipnotizada. Meu orgulho me manda empurrá-lo para longe e minha consciência, chutá-lo em certas partes. Mas eu sou burra e não faço nem uma coisa, nem outra.

Talvez aqui não seja tão ruim assim, afinal.

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