•6 de janeiro, 2020•

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Dear Diary,

Feliz ano novo atrasado primeiramente, sim eu sei que eu sumi por muito tempo mas esses últimos meses foram os mais difíceis da minha vida.

Você provavelmente não vai lembrar mas aconteceu uma coisa que mudou minha vida, calma vou explicar do começo.

Desde pequena eu achava que tinha vontade de fazer medicina, todos os meus parentes sem exceção queriam que todas as "mulheres" da família fossem médicas, minha prima fez faculdade de odontologia, minha outra prima ficou 4 anos tentando passar no Enem em medicina (sem sucesso, infelizmente) e eu sempre tive certeza que era isso que eu queria, até eu crescer e pensar por mim mesma.

Vi que não era exatamente o que eu queria, era sim uma carreira interessante mas eu sentia que o que eu precisava era outra coisa. Comecei a passar muito tempo pensando nisso e com a chegada do 3º ano foi eu decidi, eu queria ser Médica Veterinária, sempre fui apaixonada por animais e imaginei que seria algo que eu faria por puro amor. Mas quando eu falei com a minha mãe sobre, ela falou essas palavras:

Veterinária não dá dinheiro!

Eu muito incrédula que ela realmente tinha dito isso falei que eu não iria fazer por dinheiro e sim por amor. Mas ela falou outra coisa que me magoou muito também:

Amor não leva ninguém a lugar nenhum!

E ainda terminou dizendo que era um desgosto pra ela e pro meu pai, que eu ser médica era o sonho deles. Isso mesmo que você leu, o sonho deles... não o meu.

Eu fiquei realmente triste e não falei nada pro meu pai, deixei pra dizer quando saísse a nota do Enem no começo desse ano (lembrando que isso aconteceu em março do ano passado, mais ou menos).

A partir daí as coisas começaram a piorar. Em junho pouco antes do recesso no meio do ano, meu pai me perguntou o que eu achava sobre fazer faculdade fora do país, eu disse que era interessante e que era uma experiência de grande crescimento pessoal, não satisfeito com a minha reposta ele perguntou o que eu achava de ir estudar medicina na Argentina, eu muito fodasse disse que parecia interessante. Então ele disse que estava pensando em me mandar pra lá, eu naquele momento estava com 99,9% de certeza que ele não teria coragem, afinal sou filha única e ele é muito apegado à mim, e outra eu nunca nem paguei uma conta sozinha na minha vida.

Mas bom, aqueles 0,01% estavam certos, poucas semanas depois eles chegou com os papéis de inscrição para eu assinar e ir averbar, eu não sabia o que pensar afinal eu não queria ir, eu não queria fazer medicina mas o sorriso no rosto dos meus pais foram mais fortes. Fiz tudo o que ele pediu, e detalhe minha prima que não passou no Brasil iria também. Durante as férias eu não conseguia falar com ninguém, passava o dia todo deitada enfurnada no meu quarto assistindo vídeo no YouTube ou jogando alguma coisa pra esquecer. Não foi o bastante.

Eu já sofria de ansiedade bem antes disso acontecer, mas a partir desse momento eu comecei a ter crises de ansiedade que eu ia bater no hospital. Não sei se você que está lendo (se é que alguém está lendo) já sofreu disso, mas é a pior sensação que eu senti desde sempre!

Pra vocês terem uma ideia, eu estava na sala de aula em agosto ou outubro, não estava acontecendo nada demais apenas eu prestando atenção na aula. Até que eu consigo sentir a minha respiração descompassar, meu olhar ficar embaçado, meu coração errar as batidas (não de um jeito bom), sentia extrema vontade de vomitar e um incômodo enorme no peito, como se alguém estivesse jogando água fria e água quente sucessivamente, minhas mãos tremendo, comecei a suar frio e minha mente estava vazia, eu não conseguia pensar em nada eu tentava pedir ajuda para a minha amiga que estava na cadeira a frente da minha, literalmente 3 centímetros, mas eu não conseguia. Isso deve ter durado mais ou menos 30 segundos que pareciam anos, foi horrível, a parte boa é que minha amiga virou pra mim e falou uma coisa muito besta e nada a ver que chegava a ser engraçado, aquela sensação tão ruim foi embora mais rápido do chegou apenas com a minha risada.

Enfim essa foi uma das muitas vezes que isso aconteceu, eu tinha medo de contar para os meus pais tudo, dizia que era apenas estresse, sem contar que eu chorava exatamente todas as noites e só ia dormir de 3:00 / 4:00 da manhã chorando. Na data perto de vim eu já não conseguia sentir mais nada, nem tristeza, nem felicidade... nada. Quando me perguntavam se estava nervosa ou feliz eu só dizia "eh, vai ser legal" com um sorriso no rosto pra ninguém ver a verdade.

Então estou aqui em Rosário, Argentina há mais ou menos dois meses e meio, estou conseguindo me adaptar e fiz uns amigos legais, saímos bastante (algo que eu não fazia no Brasil), a faculdade não é tão ruim o quanto pensei, ou talvez eu tenha apenas me convencido disso, acho que estou bem, mas com certeza estaria melhor se eu fizesse terapia e eu planejo fazer!

Muita gente me dizia "nossa como você é egoísta, tem a melhor oportunidade do mundo e está está triste?", você já foi obrigado a fazer algo que não queria? Qualquer coisa? Qual é a sensação? Até as mínimas coisas, como sua mãe não deixar você ir pra festa da sua(o) melhor amiga(o) porque ele(a) sei lá, é gay ou porque bebe qualquer coisa. Ou talvez quando você queria sair com determinada roupa e te proibiram, ok? Imagine você fazer uma faculdade forçadamente, só imagine.

É fácil falar que é só dizer que não quer e não ir, afinal não tem ninguém "apontando uma arma na sua cabeça" como dizem... infelizmente a vida não é tão fácil assim.

With love,
Mahina.

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