As duas faces

Capítulo VIII

  Zoe pula da cama com um sobressalto. Está suando frio e seus olhos se mexem sem parar, como se estivesse procurando algo ou alguém que deveria estar ali, ou não. O quarto estava abafado e uma lufada de vento gelado bate em seu rosto assim que ela abre a janela. Na cama, Peter ronca levemente e não percebe que ela acordou. Era o terceiro pesadelo na semana, o mesmo pesadelo voltara para atormentar suas noites de sono. Mas Zoe sabia que superaria, pois desta vez não estava sozinha. Tinha seus pais, tinha Peter, tinha Roy. Ao se lembrar dele, seu coração aperta e sua barriga embrulha. Zoe prefere acreditar que é fome, então desce pra cozinha para comer algo. O cômodo está embrulhado na escuridão, o que é interrompido quando a garota acende a luz. A geladeira estava cheia como sempre e na sua cabeça, um lanche cairia muito bem aquela hora.
  O silêncio da noite é interrompido apenas pelos roncos de seu pai que é bem mais alto do que os de Peter, que está em seu quarto. O lanche está pronto e Zoe se senta na mesa para matar a fome e esquecer aquele pesadelo maluco que insistia em atormenta-la. Ao morder o sanduíche que tinha preparado, a visão periférica de seu olho capta algo que ela não tinha percebido desde a hora que desceu. Um bilhete tinha sido grudado na parede. Zoe se levanta para ver o que é e seu corpo paralisa no meio da cozinha.

 O que é, o que é? Sempre do seu lado e mesmo assim invisível? Sempre visto mas nunca notado? Sabe quem sou eu? Se sim, vai nesse endereço aqui.

Abaixo do bilhete tinha um endereço que Zoe conhecia bem. A universidade que ela e os amigos estudavam. Ela sobe as escadas com cautela para não acordar os pais e se deita assustada na cama. Sua tentativa de dormir é em vão pois a curiosidade infelizmente é maior. Zoe levanta e veste uma calça jeans e um moleton, abre a gaveta e pega um spray de pimenta e um canivete. Olha para Peter antes de fechar a porta do quarto e descer novamente a escada. Antes de sair, Zoe arranca o bilhete da parede e coloca no bolso, encosta a porta e sai, permitindo que o frio e a escuridão da noite a engula por completo.