Capítulo VII

33 20 2
                                    

A gaiola estava intacta. Não tinha um fio de diferença desde que se mudara, além da poeira, claro. O porão também estava igual sempre foi. A luz pendurada no centro do cômodo, gerando umas sombras macabras em algumas partes do porão, os furos no canto superior da parede  que faziam o ar ali circular, a pintura antiga, tudo. Roy trás madeira, tinta, pregos e todos os matérias necessários para a reforma, entra na gaiola e se tranca. Senta no centro da mesma, cruza as pernas e fecha os olhos. Se inspirar profundamente, ainda da pra sentir aquele perfume. Aquele perfume doce.. com leves toques de lavanda. Ele nunca esqueceria aquele cheiro, aquela voz, aquela pele, aquele olhar.. nunca. Mas isso virou passado. Roy abre os olhos e se levanta. Ele tinha logo que terminar tudo que deveria fazer.
São 21h quando a reforma é finalizada. Esse fora seu recorde, tinha demorado dois dias para finalizar o porão na última vez. A isolação acústica estava perfeita e todos os recursos necessários estavam a sua disposição. Roy sai do porão e vê sua mãe com uma torta de frango quentinha saindo direto do forno. Sua mãe o conhecia perfeitamente. O conhecia como ninguém. D. Rose serve o filho e se senta do lado oposto da mesa, a torta estava deliciosa como sempre, mas um caldo avermelhado do prato da senhora chama a atenção de Roy.
- você não consegue ficar sem, né?
- a meu filho, você me conhece.
Um ensopado de carne solta vapor do prato de D. Rose. O cheiro estava ótimo e a carne estava com uma aparência apetitosa. Mas Roy sabia o que aquilo era, e sabia também que nunca conseguiria comer com tanta tranquilidade como sua mãe fazia. A carne bem passada com um caldo avermelhado repousava no prato enquanto a mulher pegava o arroz. Ele sabia que aquela cor não era em si do sangue e sim de vários temperos e especiarias que a mãe usava em todos os pratos.
- Quem é?- Diz Roy apontando para o prato.
- É um jovem que sempre vinha cortar a minha grama. Era um bom rapaz. Mas vi ele tentar abusar uma moça quando estava bêbado, e você sabe meu filho. Agora está aí e é tão bom quanto era quando estava vivo.- Rose o abraça e serve mais uma fatia de torta antes de se deliciar em seu prato preparado com tanto gosto.

As duas facesOnde histórias criam vida. Descubra agora