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Christopher olhou com desgosto para cerca a sua frente. Adam seu irmão havia passado um bom tempo preparando para seu alfa o que ele chamava de "trabalho útil e seguro". Algo que Christopher desaprovava profundamente. Limpar calhas, consertar encanamentos, cuidar dos fungos das árvores e pintar cercas não era o trabalho de um verdadeiro alfa.
Mas ele não podia reclamar com Adam, seu irmão já estava bastante sobrecarregado agora que o executor da matilha estava fora. Só de lembrar disso as entranhas de Christopher se retorceram. Mesmo que Liam tivesse sido como sempre muito legal e o perdoado por tudo a culpa ainda o cobrava caro. Ele quase matou seu amigo de infância.

Por isso ele continuava a pintar cada centímetro de madeira sem reclamar, mesmo que fosse um dia absurdamente quente. E no fim ele tinha que admitir que os seus trabalhos manuais realmente o ajudavam a esgotar suas energias de uma forma segura. Mas ele precisava de mais se quisesse realmente se esgotar, e Christopher sabia que uma caçada não seria seguro com seu animal tão no limite. Então ele pensou nas opções que o restava. Ele poderia se trancar em casa e surtar olhando para as paredes, ir atrás do seu irmão e irritar ele até ganhar algo ou arrancar as ervas daninhas do terreno da senhora Elisa.

A velha Elisa morava perto dos terrenos da matilha, e possuía uma casa bem nos limites do território. Durante anos ela e os Lakes tinham um acordo mútuo, ela não contava o que sabia para ninguém e permitia que suas terras fossem usadas pelos sentinelas para proteger o território do bando e em troca ela tinha a amizade e lealdade dos lobos.

Adam seu irmão era de longe o mais próximo da velha Elisa, eles não só eram grandes amigos como Adam à estava ajudando a reforma a antiga casa para realizar seu sonho de ter uma pousada.

Diante dos terrenos da senhora Elisa Christopher não pode deixar de notar que ser irmão realmente tinha feito um bom trabalho. A casa ainda estava aos pedaços é claro, mas estava bem mais segura agora. E o terreno do lado estava começando a ser limpo e não tinha mais tanto entulho como antes.

Christopher não levou nenhum material para remover as ervas ele pretendia arrancar uma por uma com as próprias mãos e torcia para que aquilo durasse dias. Ele estava tão descontrolado e esgotado que passar horas sem pausa alguma arrancando mato com as próprias mãos lhe parecia o mais são à ser feito.

E ele começou o mais rápido possível. Mas quando já havia arrancado onze tufos ele sentiu vontade de colocar fogo em tudo e rir enquanto aquelas malditas ervas daninhas queimassem.

- Christopher? - a voz do seu irmão o salvou do seu desejo insano de assassinar plantas.

- O que foi? - ele perguntou de mal humor.

- Preciso que você vá até a cidade.

- Eu não vou fazer compras! - ele rosnou só de imaginar. Uma coisa era ele trabalhar nas coisas mais idiotas possíveis mas ir as compras como se não tivesse nada melhor para fazer já era de mais.

- Nora aprontou outra vez. - Adam declarou como se fosse uma sentencia a muito esperada.

Nora tinha a péssima mania de contar suas histórias "absurdas" para vender seus amuletos inúteis para um bando de turistas que estavam de passagem. Mas uma hora ou outra ela acabava exagerando na dose.

- O que ela inventou dessa vez? Contou de novo que sua mãe teve um caso com um lobisomem e ela escapou da maldição porque todas as noites toma um banho de água de lírio a luz da lua? Ou que seu marido foi morto por um dos nossos? Ou...

- Ela disse o que viu no Gardens Park.- Adam disse cautelosamente.

O sangue de Christopher congelou. De todas as histórias que eles permitiam que ela falasse essa era a única que eles sempre deixaram bem claro que era proibida. E ela sabia bem disso.

- Vou vê-la. - ele rosnou por entre os dentes.

- Eu vou com você. -Adam se apressou a declarar. Mas Christopher não se importou.

A cada sinal vermelho em que o carro parava na estrada a ansiedade de Christopher aumentava. Ele queria gritar com aquela mulher, perguntar se todo o dinheiro que arrancou mentindo pras pessoas já não era o suficiente.

- Chegamos. - disse Adam. Mas quando Christopher tentou sair as portas ainda estavam trancadas.
Ele encarou zangado o irmão.

- Tem certeza que da conta? - Adam perguntou preocupado.

- O que quer dizer com isso?- ele achava que seu alfa não dava conta de uma velhinha?

- Ficar calmo irmão. Não pode entrar lá e surtar com aquela senhora, vinhemos resolver isso o mais pacífico possível. Entende? - Adam realmente parecia tentar transmitir suas palavras de uma forma gentil mas seu irmão mais velho não gostou do sermão e forçou a porta até Adam à abrir.

Ele não iria surtar com a senhora. Não porque seu irmãozinho pediu mas porque ele tinha o controle da situação. Ele era o alfa.

Adam entrou primeiro no antro de loucos que Nora chamava de casa, e Christopher assim que entrou se sentiu tonto com o cheiro forte de incenso. A única coisa que realmente poderia assustar um lobo ali era o péssimo gosto que aquela senhora tinha.

Nora apareceu um pouco depois que eles entraram e pareceu bastante surpresa à vê-los.

- Vocês aqui, que surpresa. Desejam algo...

- Você nos decepcionou Nora. - Adam a cortou. - Deixamos que trabalhasse em nossa cidade. Que vendesse seus amuletos. E contasse suas histórias mas sinceramente você passou dos limites.

- Eu não entendo. Do que está falando? - Nora parecia agora fazer um grande esforço para demonstrar ignorância ao assunto enquanto os guiava até a sala.

- Você quebrou o acordo. Todos concordaram com os termos e fizeram sua parte. Mas você quebrou sua promessa. - As palavras de Adam agora eram tão duras quanto sua expressão.

- Já se faz oito anos o que poderia ter de mal? - Nora tentou se justificar.

- Ah, então agora sua memória funciona? - Christopher rebateu com ironia.

- Ora vamos não me digam que...

Christopher não estava mais ouvindo. Tão pouco saberia distinguir qual dos dois estava falando agora. Todo o seu corpo estava se acendendo como uma fogueira em brasas, havia algo de diferente no local. Ele sentiu.

- Quem esteve aqui? - ele não sabia dizer em qual volume sua voz saiu mas viu de relance as duas outras pessoas da sala se sobressaltarem.

- Quem? - Sua voz saiu agora mais autoritária ele pode notar.

- Ninguém...- Nora tentou mentir.

O alfa congelou no lugar, seus pulmões agora impregnados com um delicioso aroma que chamou seu lobo para frente com um único salto. E ele rosnou quando seu lobo se permitiu analisar o odor mais de perto. Parecia que todo o seu mundo estivesse se alinhando em seu eixo. A grande fera descontrolada dentro de si e o desejo de violência não mais o dominava. Agora sua vida girava em torno daquele cheiro. Era frutado e floral com um toque tão imponente que ele quase pode sentir seu gosto. E sua boca se encheu de água só de imaginar prova-lo. Christopher soube que não tinha volta agora, ele estava livre do controle de sua fera e ligado a esse odor delicioso de uma forma desesperadora. Seu lobo uivou enquanto seu corpo ansiava por estar coberto pelo cheiro.

Sua companheira.

- Quem esteve aqui? - ele ouviu um Adam distante e preocupado perguntar.

- A detetive Herrera.- Nora respondeu nervosa.

E o alfa sorriu triunfante pela primeira vez em anos.

Perigo Sedutor - Série Lobos De Lakeville - Livro 1DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora