Nemu se esforçou ao máximo para manter o jantar quente enquanto esperava por Mayuri. Ele não costumava demorar tanto assim no banho, e quando ela já estava prestes a ir atrás dele, o mesmo apareceu em sua frente.
Jantaram em silêncio, Nemu procurava se concentrar na refeição e afastar os pensamentos que invadiam sua mente. Ela não pôde evitar dar uma ou duas olhadas para o rosto de seu capitão. Em geral ele chegava em casa, jantava, e só depois se banhava e já se recolhia. Eram muitíssimo raras as ocasiões em que ela o via sem as pinturas e adereços extravagantes.
Ela sabia que já tinha o visto daquela forma antes, mas não conseguia se lembrar quando. Muitas vezes ela se deparava com o paredão em sua memória, e naquela noite, mais que em todas as outras, ela sentiu necessidade de lembrar-se de sua vida passada.
Ao terminarem a refeição, Nemu começou a recolher a louça quando Mayuri interrompeu o silêncio:
— Vou ficar uns dias fora, quero que cuide de tudo no quartel e no Instituto — disse num tom extremamente baixo.
— Trata-se de alguma missão, Mayuri-Sama?
— Viajarei ao mundo humano com um pequeno grupo de cientistas sob meu comando, caçaremos novos espécimes por alguns dias e depois retornaremos. — Suspirou. — É de suma importância que os trabalhos no Instituto continuem a ser realizados sem atraso. Quando voltar haverá muito trabalho, teremos que catalogar os novos espécimes e dar início as novas pesquisas, então preciso que deixe tudo em ordem até o meu retorno.
— Sim, Mayuri-Sama — respondeu e saiu para colocar as louças na pia.
Nemu estava um pouco incomodada com aquela notícia. Mayuri não costumava realizar expedições sem ela. Será que ele estava decepcionado com ela? Evitando-a por algum motivo? Ela não tinha as respostas para essas questões, mas sabia que havia algo de diferente acontecendo.
Após lavar a louça e deixar a cozinha em ordem, Nemu constatou que Mayuri estava sentado na varanda com ar pensativo e uma garrafa de saquê.
Ele percebeu a presença dela e fez menção para que se sentasse com ele. Ela obedeceu e ele serviu uma dose de saquê para ela e outra para si. Nemu encarou Mayuri por um momento tentando entender o gesto dele, afinal de contas, ele nunca havia dado nada de alcoólico a ela.
— Se você bebe na rua pode beber em casa também — disse sem nenhuma emoção, enquanto olhava para o jardim. — Se você quiser, é claro.
Nemu encarou a dose de saquê por um instante e refletiu sobre o significado daquele gesto. Servir saquê a alguém demonstrava respeito e até mesmo apreço. Aquela era a primeira vez que bebiam juntos — até onde se lembrava — e foi estranho constatar o fato de que, apesar de jamais ter oferecido, Mayuri nunca a proibiu de beber.
Ele bebia com certa frequência, não oferecia doses a ela, mas Nemu também jamais pediu. Sendo assim, por que havia internalizado a ideia de que não podia beber?
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A Viagem de Nemu
FanfictionNemu já não era mais a mesma desde seu renascimento. Ela sabia e Mayuri também. Após a Guerra Sangrenta dos mil anos, quase tudo havia voltado ao normal e Nemu era uma das exceções. Ninguém nunca compreendeu o relacionamento do capitão da 12ª divis...