II - Julieta, Só que não!

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Foi fácil juntar os remédios, logo já tinha um estoque mais que suficiente na casa de Henrique. Fiz uma carta com minhas últimas vontades, como coisas tipo:

1. Não abram meu caixão;

2. Não abrir meu corpo;

3. Não aplicar formol e etc...

Tinha que ter certeza que não me matariam de verdade. Comprei um pequeno cilindro de gás pra aguentar esperar os meninos depois que acorda-se e a parte principal, foi a mais difícil de achar, mas achei a substância que diminuem os sinais vitais até que realmente pareça um defunto, ele tem um período de efeito de 48h, dependendo da quantidade que eu beba, então o enterro não poderia demorar.

Passei o plano direitinho para os meninos e no dia da "minha morte" já estava tudo certo, bastava "morrer".

Eu levantei da cama e desci até a cozinha, tinha separado uma pequena quantidade de sangue e já apliquei na orelha como se estivesse escorrendo de lá, bebi o conteúdo no vidrinho e me sentei no chão perto do fogão.

- MÃE... - Gritei. Ela estava na sala e logo estava do meu lado.

- Ai meu deus! Por que saiu da cama... O que é isso na sua ore..? NÃO... Filha reage. - Ela já estava chorando.

Eu sei que é errado fazer meus pais sofrerem desse jeito, mas ele iriam sofrer daqui 4 meses de qualquer maneira. Melhor agora.

- Mãe minha cabeça parece que vai explodir. Me ajuda! - Tentava fazer o melhor drama possível. Senti a substância fazer efeito e aproveitei pra encaminhar tudo. - Eu não vou aguentar. Na minha escrivaninha tem um papel com minha vontades. Prometa que vai cumpri-las!

- Prometo. - Só ouvi ela soluçar isso e desmaiei.

Henrique

Quando a senhora Gasparini ligou avisando da morte de Laura senti uma pontada no coração, meu único conforto foi que por ora era falso. Avisei Antônio e fomos ajudar no enterro, como Laura pediu. Estava em sua lista. Chegamos na casa e tinha um médico examinando o corpo.

- Vou levar o corpo para o IML e no fim do dia será liberado. - Disse o médico à mãe de Laura.

- Eu só peço que não mexam nela. Foi um de seus pedidos. - Ela estava desolada, seu marido a abraçava, se segurando muito pra não desabar também.

- Bem como já sabemos a causa não vejo motivo de mutila-lá. - Menos um problema.

- Logo viram buscar o corpo. Se tiver algo que queiram colocar no corpo para o enterro separem agora. Já vou, meu trabalho acabou. - Eu não conseguia acreditar como esse médico estava sendo babaca. Ele falava " o corpo" como se fosse um objeto quebrado, não uma garota que acabará de morrer.

- Tudo bem. Obrigada doutor. - Disse o pai de Laura.

Meia hora depois Laura estava sendo levada. Já estava anoitecendo e eu e Antônio não iriamos dormir tão cedo. Próxima parte do plano. Teríamos que esperar passa- lá para a funerária e colocar o cilindro de oxigênio em seu caixão. Estava com medo e Antônio também, mas por Laura faríamos tudo, mesmo que ela nunca se descida.

Passamos a maior parte da madrugada pensando em como entrariamos na funerária.

Lá pelas 5h da manhã o corpo foi levado pra funerária e logo iria ser colocado no caixão. Vigiamos pela janela até o senhor terminar seu trabalho e arrumar o salão pra cerimônia de despedida. Quando ele finalmente saiu da sala corremos pra colocar no cilindro, quase fomos pegos, mas terminamos com sucesso.

O enterro seria cedo, então já havia gente chegando. Quando fugiamos por trás pudemos ver os pais de Laura chegando.

Cada um foi pra sua casa.

Eu arrumei minhas coisas pra passar quatro meses fora. Dei a desculpa pros meus pai que iria pra casa da minha vó no interior superar a morte de Laura e Antônio iria junto, como Laura sempre foi muito importante pra nós e nossos pais sabiam disso, não pestanejaram muito. Deixamos umas bolsas na minha casa e voltamos para o enterro. Como esperado o caixão estava fechado com um pequeno espaço com vidro mostrando o rosto de Laura, que mesmo morta estava linda.

Demorou mais que o esperado, mas o efeito só acabaria depois de anoitecer. Quando finalmente começou o cortejo eu e Antônio tomamos nossos lugares pra carregar o caixão, andamos lentamento até onde iriamos enterra-lá, lá colocamos o caixão no chão e deixamos os profissionais trabalharem, os olhava colocando terra no buraco.

7 palmos foi preenchido de terra rapidamente, que logo teria que cavar tudo de novo. Antonio também parecia aflito em ter que cavar tanto, mas não podíamos cogitar desistir, é Laura que está lá e ainda está viva.

Os pais de Laura foram os últimos a sair do cemitério. Nós fizemos que iríamos embora, mas contornamos e fomos vigiar os coveiros. Antônio ficou encarregado em ver o horário deles e qual estaria na área dela no horário que vamos desenterra-lá e eu fui saber onde ficavam as pás.

O horário estava certo e já esta ciente das pás, no momento do ato só teria um vigia e não passaria muito por lá, teríamos que fazer tudo com o minimo de luz possível, mas teríamos tempo.

Voltamos a minha casa e pegamos as bolsa, inclusive a de Laura, com uma troca de roupa e seus remédios.

Novamente no cemitério. Já passava das 23h e tínhamos que começar logo. Nos certificamos que o coveiro estava longe e corremos pra desenterra-la. Tínhamos 7 palmos para cavar.

7 Palmos para Liberdade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora