VI - Las Vegas

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Chegamos à Vegas no começo da tarde. Fomos para o hotel com tema de cabaré. Minha visão já estava turva e bem falha, era bem difícil enxergar coisas simples como os letreiros brilhantes e eu me sentia bem preocupada, também tinha fadiga e estava difícil disfarçar a palidez.

Escrevi uma carta para Henrique e Antônio para saberem o que fazer caso eu morresse ali e entreguei assim que nos instalamos. Pedi que não a abrissem até a hora certa e disse que estava tudo bem.

Quando anoiteceu nos vestimos com trajes de gala e partimos para o cassino.

Descidi ficar nos caça níqueis, onde poderia ficar sentada e sem me comunicar. Uma garçonete passou trazendo champanhe e eu aceitei.

- Você não pode beber... Por causa dos remédios, acabou de tomar um coquetel. - Brigou Henrique.

- Se eu vou morrer que seja com estilo. - E tomei tudo num gole só. Apesar de Henrique não gostar ele não me impediu.

Logo estava bêbada.

Resolvi levantar e fui pro salão de dança puxando os meninos. Me acabei na pista e acabei beijando Henrique. Antônio nos empurrou e saiu bufando do salão.

Henrique começou a beber também, o que me surpreendeu, logos estávamos na mesma. Depois disso não lembro de mais nada.

Acordei com um sol forte rompendo da janela aberta. Levantei e percebi que Henrique estava largado junto a mim na cama. Fui até o banheiro e lavei o rosto, minha cabeça doía demais.

Algo machucou meu rosto quando esfregava o olho e quando olhei era uma aliança com uma jóia em forma de dado branco.

Voltei pro quarto cambaleando e procurei na mão de Henrique algo igual, e para meu espanto tinha outra aliança só que com dado preto. Antes que eu pudesse entrar em pânico a campainha tocou. Abri a porta e um funcionário do hotel trazia a comida e um livro grosso.

- Bom dia senhora. Trouxe o almoço de lua de mel e seu álbum de foto. Espero que tenha tido uma ótima noite. - E estendeu a mão.

Mecanicamente dei sua gorjeta e peguei o álbum. Assim que ele saiu o folheei. E tudo se esclareceu. Eu e Henrique nos casamos.

Tinham fotos d'eu entrando em uma capela com um buquê vermelho sangue e com a cara de um defunto. Foto do Henrique colocando a aliança em mim e me carregando capela afora.

Larguei o álbum em cima da cama e me sentei com a cabeça entre as pernas. Henrique acordou e meio grogue foi até o banheiro sem me perceber ali. Quando voltou me olhou e veio correndo até mim.

- Eu to viva. Só assustada!

- O que aconteceu? O Antônio ta bem? Alias cadê ele?

- Eu não sei... Mas não é com ele... Você olhou sua mão?

Ele olhou as duas mãos bem confuso e quase caiu de costas quando viu a aliança.

- Com quem eu me casei?

Mostrei minha mão para ele e esperei sua reação.

- Sério? nossa? .. Sério?

Assenti.

- O álbum está em cima da cama.

Ele se levantou e olhou o álbum, mas antes de abrir me olhou assustado.

- Tem certeza que ta bem? Por que tem sangue na cama.

- Sangue? - Me levante e olhei mais de perto. Realmente tinha uma mancha de sangue na cama, mas não era perto de onde minha cabeça estava. - Ai caramba... Nós... Eu e você... Fizemos... Caramba!

Meu estomago embrulhou e senti que ia desmaiar.

Henrique me sentou na poltrona e começou a olhar em volta. Qualquer lugar menos pra mim.

- Você não queria... Que fosse comigo?

- Que... Não é isso... É que eu planejem me lembrar desses momentos... Eu me casei e tive minha primeiro vez sem nem me lembrar... E com meu melhor amigo.

- Desculpa... Tinha que ter sido com alguém que amasse. Não comigo.

Eu não sabia o que dizer. Claro que não estava triste ou arrependida, só queria me lembrar. E eu não queria que o Henrique pensasse errado... Eu o amo desde que o conheci e não imaginei esse momento com mais ninguém.

- Mas eu te amo... - Foi quase um sussurro.

- O que?

- Eu não queria que fosse com outra pessoa. Queria que fosse com você. Só não queria que fosse assim. Queria me lembrar.

O olhei nos olhos e tentei demonstrar o máximo de tudo que sinto por ele. Mas foi quando tudo começou, Antônio invadiu o quarto e começou a gritar com Henrique que ele tinha roubado algo dele e que nunca o perdoaria, eu gritava que parassem com a briga, mas era em vão percebi que se não fizesse algo eles iriam brigar sério.

Com dificuldade me levantei e entrei na frente bem na hora que Antônio levantou a mão. Levei um soco bem no meio da cara.

Sinto uma dor horrível como se minha cabeça fosse explodir. Era a hora.

- Para... Ai... É o Henrique, sempre foi ele eu quero que nunca mais briguem... Ai.... Aceite.... É meu pedido de morte.

- Não fala isso, me desculpa...

Ele parou de falar e colocou a mão no meu rosto, quando tirou de lá e me mostrou estava suja de sangue.

Cai de joelhos e senti meu corpo pesar e não pertencer mais a mim, mas eu não estava com medo e sabia que era minha hora.

A hora da morte, essa é minha verdadeira liberdade, ela está muito além que 7 palmos. Eu estava verdadeiramente livre e não tinha que armar mais nada. Bastava ir. E eu fui.

7 Palmos para Liberdade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora