PARTE UM

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Maldito frio congelante. A respiração de Bailey May paira no ar, quase sólida, na forma de um ninho de vespa congelado e destituído de oxigênio. Suas mãos estão pesadas sobre a direção; ele está grogue acordou em cima da hora de fazer o percurso até o hospital para assumir o turno da noite. Os campos cobertos de neve dos dois lados da estrada são pinceladas fantasmagóricas de azul sob o luar; seus lábios azulados estão quase insensíveis pela hipotermia. A neve é tão espessa que encobre todos os vestígios de galhos espinhentos, que geralmente permeiam os campos e dão uma falsa aparência de calma. Ele sempre se pergunta por que seus vizinhos continuam vivendo nesse ponto tão ao extremo norte do Maine; solitário e frígido, um lugar difícil para a agricultura. O inverno reina durante metade do ano, forma pilhas de neve nos parapeitos das janelas e solta lufadas de vento congelante sobre a plantação de batatas.

Vez ou outra alguém realmente congela e, como Bailey é um dos poucos médicos da região, já presenciou a cena. Um bêbado (o que mais há em St. Andrew) pegou no sono sobre a neve e, pela manhã, havia se tornado um picolé humano. Um menino patinando sobre o rio Allagash, caiu em um buraco que se abriu quando passou pela camada mais fina do gelo. Às vezes, o corpo é encontrado na metade do caminho para o Canadá, no encontro do rio Allagash com o rio St. John. Um caçador perde a visão por causa do reflexo da neve e não consegue sair da Floresta Great North; seu corpo é encontrado sentado, recostado em um tronco, a espingarda sobre o colo, sem uso.

- Aquilo não foi acidente, que nada! – Noah Urrea, o xerife disse a Bailey, desgostoso, quando o corpo do caçador foi levado ao hospital. – O velho Ollie Ostergaard, ele queria mesmo morrer. Este foi o jeito dele de cometer suicídio. – Mas Bailey suspeita que, caso fosse verdade, Ostergaard teria atirado na própria cabeça. Hipotermia é um processo lento de morte, dá tempo suficiente de reconsiderar qualquer decisão.

Bailey estaciona a caminhonete em um lugar vazio do estacionamento do Hospital Municipal de Aroostook, desliga o motor e promete a si mesmo, mais uma vez, que se mudará de St. Andrew. Ele só tem que vender a fazenda de seus pais e, então se mudará, ainda que não saiba exatamente para onde. Suspira, tira as chaves da ignição e se dirige à entrada da sala de emergência.

A enfermeira de plantão o cumprimenta com a cabeça enquanto Bailey entra tirando as luvas. Ele pendura a parca no pequeno vestiário dos médicos e volta para a recepção. Sina diz:

- Noah ligou. Está trazendo um prisioneiro, quer que você dê uma olhada nele. Vai chegar a qualquer minuto.

- Motorista de caminhão?

Quando dá problema, geralmente envolve um dos motoristas das empresas madeireiras. São famosos por ficar bêbados e provocar brigas no Blue Moon.

- Não.- Sina está absorta em algo que está fazendo no computador. A luz do monitor reflete em seus óculos bifocais.

Bailey limpa a garganta querendo chamar a atenção dela.

- Quem é, então? Alguém daqui? - Bailey está cansado de costurar seus vizinhos. Parece que só os desajustados, bêbados e briguentos conseguiam tolerar aquela cidade miserável. Sina tira os olhos do monitor, cotovelo plantado no quadril.

- Não. Uma mulher. E também não é daqui.

Isso é incomum. Mulheres raramente são trazidas pela polícia, exceto quando são vítimas. De vez em quando, uma esposa da cidade é trazida após uma briga com o marido, ou, no verão, uma turista pode perder o controle no Blue Moon. Mas, nessa época do ano, não há nem sinal de turistas. algo diferente para se esperar esta noite. Ele pega uma prancheta.

- Ok. Que mais temos aqui?- Bailey escuta mais ou menos enquanto Sina lista a atividade do turno anterior. Ele volta para o vestiário para esperar pelo xerife. Tinha sido uma noite bem movimentada, mas, agora, dez da noite, está tranquilo. Não consegue aguentar outro relatório sobre o casamento da filha de Sina, que está prestes a acontecer, um discurso interminável sobre o preço de vestidos de noiva, serviço de buffet e floristas.

- Diga a ela pra fugir com o noivo. - Bailey disse uma vez para Sina, que o olhou como se ele tivesse se declarado ser membro de uma organização terrorista.

- O casamento é o dia mais importante da vida de uma jovem - Sina respondeu em tom de zombaria. - Você não tem um osso romântico no seu corpo. Não é à toa que Shivani se divorciou de você.

- Shivani não se divorciou de mim; eu me divorciei dela.

Ele parou de explicar, pois ninguém lhe dá atenção. Bailey senta-se no sofá surrado do vestiário e tenta se distrair com um Sudoku. Mas não consegue e pensa no caminho para o hospital naquela noite, as casas pelas quais ele passara nas estradas desoladas, luzes solitárias queimando na noite. O que as pessoas fazem enfiadas em suas casas por tantas horas nas noites de inverno? Como médico da cidade, não há segredos que Bailey não conheça. Ele sabe de todos os pecados: quem bate na esposa, quem tem a mão pesada com as crianças; quem bebe e termina batendo o caminhão nu monte de neve; quem tem depressão crônica em razão do outro ano ruim na colheita, sem perspectiva no horizonte. As florestas de St. Andrew são escuras e cheias de segredos; lembram a Bailey por que quer ir embora desta cidade: está cansado de saber dos segredos dos outros e de que eles conheçam os seus.

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então gente eu fiz um capitulo hoje, amanhã eu volto com mais um ou dois capítulos

-bjs, A

Ladrão de Almas [Joaley adaptation]Onde histórias criam vida. Descubra agora