PRÓLOGO

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Montagu House... (Londres, 1798)

Carmen Jones, agora Sra. Montagu há dois anos, nunca pensou que fosse realmente ser feliz ao lado do marido, o duque de Manchester. Afinal, o casamento não passava de um acordo. Estava destinada a casar-se com ele desde que nascera. Não se amavam, é claro. Mas eram... como pode-se dizer, amigos.

Portanto, ali estava ela, em uma das propriedades mais luxuosas e belas da Bloomsbury Square, em sua encantadora sala de estar, conversando com Carlos Montagu. Ele era um homem excepcionalmente belo, com cabelos da cor do carvão e olhos da cor de um céu em uma bela manhã ensolarada. Era aquele homem cobiçado pelas mulheres e invejado pelos homens.

Isso mesmo, era.

Pois em poucos minutos Carlos Montagu estava prestes a morrer de uma causa desconhecida.

Carmen conversava com seu marido sobre coisas banais, de como seria ótimo eles terem uma filha, além do herdeiro que era a prioridade, e vê-la bela em seu baile de debutante, quando o sorriso de Carlos se fecha de repente e sua mão vai de encontro ao peito, ao lado do coração, onde aperta com os dedos em forma de garras tão forte que suas juntas ficaram brancas. Sua face fica dura feito rocha, então ele cai com um baque surdo sobre o tapete persa sem ao menos ter tempo de pedir ajuda ou gemer.

Carmen não soube o que fazer de início além de encarar o corpo caído do marido com a boca aberta e a respiração ofegante. Desesperada, ela vai até ele e o vira para que pudesse ver o seu rosto, que estava branco feito papel, os olhos arregalados como se estivesse em uma tormenta eterna.

Ela o chacoalha algumas vezes pelos ombros, chamando o seu nome. Checa sua pulsação. Nada.

O duque de Manchester estava morto.

Quando se dá conta do fato, Carmen começa a chorar feito uma criança e a gritar, enquanto tinha o rosto enterrado no pescoço do marido. As portas duplas da sala se abrem e alguns criados entram apressados. Ela os ouve rezar, horrorizados com o acontecimento fatídico.

É quando sente todas as suas forças se esvaírem do corpo e, não mais aguentando o próprio peso, cai em um desmaio.

***

Assim que acorda com uma dor de cabeça infernal, percebe sua sogra, Melissa Montagu, assentada na beirada da cama conversando com algum outro rapaz no quarto. É quando se lembra do que acontecera na sala de estar, e as emoções a dominam, fazendo-a chorar. A quanto tempo fazia que tinha visto seu marido morrer bem na sua frente?

Percebendo o que estava havendo, Melissa aperta sua mão em um gesto reconfortante, enquanto dizia que tudo ficaria bem. Não só com ela, mas com o ducado também, pois aquele rapaz dentro do quarto, um médico, acabara de dizer que Carmen não desmaiara apenas pelo choque da morte do marido, mas também porque tivera uma pequena vertigem.

Estava esperando um bebê.

***

Logo no dia seguinte, sem querer saber se estava bem o suficiente para resolver coisas sobre o título, o Comitê de Privilégios apareceu na Montagu House. E Carmen sabia muito bem o porquê daquela visita.

O duque de Manchester falecera sem deixar herdeiros. Por causa disso, o título teria que passar para outra pessoa na linha de sucessão, um primo delinquente que não merecia tais responsabilidades. Mas isso foi antes de Melissa se levantar e dizer que Carmen estava esperando um bebê, e o tempo todo dizia ao Comitê que tinha certeza de que era um menino. Até lá, ninguém tinha permissão de mexer na documentação do ducado.

***

Os meses que se seguiram foram estranhos. Carmen sentia que Melissa estava diferente, mais agitada. Sem falar que ela saía toda noite sabe-se lá para onde.

Até que os nove meses se passaram, e a chegada do bebê veio.

Outra coisa extremamente estranha.

Carmen lembrava-se de estar deitada em sua cama sentindo dores terríveis, quando a porta do quarto se abre e Melissa entra acompanhada da parteira. Só que em todo momento, sentia sua visão turva e uma tonteira que tinha a sensação de que não era normal.

A última coisa de que se lembra, contudo, é de ouvir a parteira pedir para que fizesse muita força, até que um choro estridente é ouvido, e uma sensação de alívio a percorre. Ainda com a visão turva, ela vê Melissa pegar a criança e embrulhá-la em um manto branco e sair pela porta.

Carmen tentou protestar, dizendo que queria ver seu filho, pelo menos para saber se era menina ou menino. Não ligava para o título, apenas queria a criança e ponto final. Mas o cansaço a venceu, e caiu em um sono profundo instantes depois.

Os Segredos de Manchester [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora