CAPÍTULO VIII

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Alguns minutos antes da porta ser arrancada das dobradiças por um possível louco...

Georgina achou que deveria ter guardado a ânsia e o constrangimento ao entrar no salão de baile para aquele momento. Ela ficou em dúvida se tinha adentrado mesmo a sala privativa das damas ou um ninho de cobras das mais venenosas. Teve certeza então de que estava na sala das moças, pois uma delas apontava o dedo indicador em sua direção, e cobras não tinham dedos.

As mulheres se aproximaram como cardume, sufocando Georgina. Elas a olhavam com olhos cerrados e tão atentamente que era como se estivessem olhando para uma mercadoria que desejavam muito comprar. Uma delas disse:

— Bem, certamente há um motivo pelo qual o Villamontes a escolheu.

A moça que havia acusado Georgina de roubar August pareceu extremamente irritadiça quando perguntou:

— O que quer dizer, mamãe?

A mais velha, então, tira de sua bolsa um lorgnon e o leva aos olhos, examinando Georgina desde as barras de seu vestido dourado até os fios negros de seus cabelos fartos.

— Dê uma olhada nela, Portia. É uma moça deslumbrante.

— Quanto deslumbrante, mamãe? — A tal Portia cruzou os braços.

Sua mãe ainda a examinava.

— Deslumbrante a ponto de roubar o Sr. Villamontes de você e todos os rapazes do restante das moças, eu presumo.

Georgina estava tão desconcertada diante daqueles olhares que não soube se devia ficar agradecida por aquele "elogio" ou mais assustada. Mas pensou que deveria deixar uma coisa bem clara, antes que algo ruim viesse a acontecer. Por isso tomou forças para abrir a boca e dizer:

— Eu não roubei nada de ninguém, pelo amor de Deus, meninas! O Sr. Villamontes apenas me convidou para o baile e eu aceitei.

— E ele a pediu em casamento? — Perguntou uma moça que Georgina conheceu, Araminta.

— Não.

Araminta franziu o cenho.

— Estranho. Ele me disse mais cedo que havia comprado um anel e que pediria alguém em casamento no baile. — Ela respira fundo. — Bem, se ainda não o fez, creio que o fará em breve.

Portia gemeu e, com a mão na testa, caiu em mais um desmaio. Ninguém pareceu se importar dessa vez.

Georgina também quase caiu com o anúncio de Araminta. Deus do céu! August tinha mesmo planejado pedi-la em casamento? Ela ficou extremamente agradecida que não tinha acontecido, pois se imaginou saindo correndo de um homem ajoelhado diante de si segurando uma caixinha com um anel dentro, trazendo total vergonha e desapontamento para ele, pois sabia que não conseguiria dizer sim.

— E você ia aceitar? — Perguntou uma desconhecida.

Georgina virou para olhá-la.

— O que disse?

— Deixe de ser tonta, Louise. Quem não aceitaria o pedido de casamento de um Villamontes? — Falou a mulher do vestido vermelho decotado.

Uma outra senhora se aproximou, o olhar vítreo fazendo os pelos de Georgina se eriçarem.

— Estranho uma moça desconhecida aparecer assim num baile e causar tanto alarde nos rapazes. — A voz dela soava bastante fria na opinião de Georgina. — Afinal, quem é você?

— Eu a conheço! — Uma mulher levantou a mão enluvada para o céu, tentando ser notada.

Um burburinho tomou conta da sala, e as moças se afastaram como o Mar Vermelho se abrindo para Moisés. A mulher que supostamente conhecia Georgina se aproximou em seu amplo espaço aberto. Perto como estava, Georgina também a reconheceu.

Os Segredos de Manchester [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora