CAPÍTULO IV

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Arnold deu uma rasteira entre as pernas de Vincent, fazendo-o cair de costas no chão, e apontou a espada a poucos centímetros de seu pescoço.

Touché, primo. — Arnold disse, e ergueu a mão para ajudá-lo a se levantar.

Vincent aceitou a ajuda, pouco se importando com a derrota. Normalmente teria ficado estressado, quase nunca é vencido na esgrima. Mas naquele momento tinha coisas mais importantes com que se preocupar.

— Meus parabéns. — Ele deu tapinhas no ombro de Arnold.

— Não me parabenize. — Disse o outro, erguendo o capacete. — A luta não durou mais que três minutos, Vincent. Por que tenho o pressentimento de que me deixou ganhar?

Vincent pousou a espada sobre a mesa e começou a tirar as roupas e luta.

— Por que não pode simplesmente aceitar que venceu, Arnold?

— Eu teria aceitado se você tivesse feito o mínimo para uma luta decente. — Contrariado, Arnold aponta com a espada para August, que estava sentado na cadeira do outro lado da sala. — Sua vez. August! — Gritou!

— Hã... O quê? Eu... Hum... Ah, certo. Minha vez.

Vincent apenas ri.

— Pelo jeito não sou o único que anda disperso esses dias. — Comentou.

— Eu disse. Os dois estão apaixonados. E o efeito disso é deplorável. — Arnold diz com certa resignação.

August, que estava se equipando, fala:

— Espere só até chegar sua vez, irmãozinho. Então poderá falar sobre o assunto com mais convicção. — Ele vai até o meio da sala e se posiciona para dar início à batalha.

— Então admite que está apaixonado? — Provoca Arnold.

Os dois ficam frente a frente, com as espadas em riste e as pernas afastadas uma da outra, os joelhos levemente curvados.

— Talvez. — August responde simplesmente.

Então a luta começa. As duas espadas se chocam, metal contra metal, e o barulho faz os dentes de Vincent trincarem. Ele estava sentado no mesmo lugar onde August antes estava, o pé esquerdo apoiado no joelho direito. Não estava prestando muita atenção na luta que se seguia. Sua mente o obrigava a pensar no bilhete que enviara mais cedo com destino à Pousada Fernsby, convidando a senhorita que não conseguia tirar da cabeça para o baile em sua casa no sábado.

Ele escuta um baque, e ergue o olhar para ver August no chão e Arnold apontando a espada para a garganta do irmão. Mais uma vez ele tinha vencido. E mais uma vez a luta não durou nem três minutos.

Arnold não se vangloria pelas duas vitórias consecutivas, ao invés disso, joga a espada para longe e resmunga várias imprecações.

— Vocês dois são patéticos, sabia? Estão se portando como dois bobões enfeitiçados.

— Tem razão, Arnold. — August começa a tirar as roupas de luta. — Aquela senhorita só pode ter me enfeitiçado, é a única maneira de explicar o por que não consigo tirá-la da mente. Só a vi uma vez, afinal.

Aquilo chamou a atenção de Vincent.

— Então parece que toda mulher tem o poder da feitiçaria, pois também a vi apenas uma vez e não consigo esquecê-la.

Arnold gira o pescoço para fitá-lo.

— Espera, você acabou de admitir que está mesmo apaixonado?

Cansado daquilo tudo, Vincent se levanta e vai até a mesa de canto.

— Quer saber de uma coisa? Talvez eu esteja mesmo. — Ele serve dois copos de uísque e entrega um a August. — Não dá para saber, na verdade. Como eu disse, a vi apenas uma vez.

Os Segredos de Manchester [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora