CAPÍTULO II

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Vincent não esperou um minuto sequer para sair dali.

Assim que acordou foi em direção às suas roupas esticadas no chão para se vestir. Infelizmente ainda estavam úmidas, mas nada que não suportasse. Sem falar que a malha estava tão amassada que era como se tivesse sido mastigada por uma vaca.

Vestido, ele foi até a janela para ver como estava o tempo, e ficou encabulado ao perceber o sol escaldante que iluminava o dia lá fora. Estava tudo completamente seco; nenhuma poça, o telhado não respingava, nada. Era como se a chuva da noite anterior nem tivesse existido.

Estranho, ele pensou. Ocorreu-lhe então outra coisa ainda mais estranha. Vincent teve a sensação de que a chuva de ontem tivera o objetivo de levá-lo à Pousada Fernsby. Mas para quê? Apenas para que tivesse a experiência de como era dormir em um sótão estreito e mofado? Ou...

Ele espirra diversas vezes seguidas.

Maldição!

Apenas que pegasse um resfriado?

Balançando a cabeça para se livrar dos devaneios, ele vai até a portinhola do sótão e a abre, colocando a cabeça para fora. Espiou de um lado e outro do corredor. E quando constatou que estava totalmente vazio, jogou a escada para fora e desceu. No chão, empurrou a escada novamente para cima e se foi.

Tentou não se perder em meio àquele monte de corredores. Tentou se lembrar do caminho pelo qual seguiu a Srta. Fernsby ontem à noite, mas agora que estava de dia parecia diferente.

E falando na Srta. Fernsby, Vincent sentiu uma vontade imensa de despedir-se dela antes de partir. Talvez nunca mais a visse, afinal de contas.

Ele vira a primeira esquina à esquerda e quase dá de cara com uma mulher.

— Perdão, senhora.

Desvia e segue o caminho apressado.

— Espere! — Grita a mulher de repente, fazendo-o parar abruptamente no meio do corredor.

Vincent se vira para encará-la.

— Pois não?

Ela se aproxima alguns passos.

— O que está fazendo aqui? Este andar é proibido para os hóspedes.

— Então creio que você não seja uma das hóspedes. — Ele apenas queria saber a identidade dela.

O que funcionou, pois ela disse:

— Não mesmo. Sou a dona da pousada, Sra. Fernsby.

Vincent franziu as sobrancelhas, completamente confuso.

— É mesmo?

Se aquela é a Sra. Fernsby, então só pode ser a mãe da Srta. Fernsby. Só que aquela mulher a alguns metros de distância parecia tão diferente da senhorita da noite passada em termos físicos que ele nunca desconfiaria de que era a mãe da outra caso a mesma não tivesse revelado o sobrenome.

Ele aperta os olhos a fim de tentar encontrar alguma semelhança. Eram mãe e filha, portanto, há de ter algo parecido, não? Mas a verdade é que ele não conseguiu encontrar nada. Nem os cabelos, que daquela senhora eram marrons ao invés dos negros da Srta. Fernsby, nem os olhos que eram castanhos ao invés dos azul-claros da filha. Por mais que tivesse escuro ontem quando chegou, conseguiu reparar em cada centímetro da Srta. Fernsby, pois algo nela era realmente hipnotizante. Talvez fosse o olhar.

A Sra. Fernsby, então, se aproxima alguns passos de Vincent.

— O senhor não respondeu a minha pergunta. O que estava fazendo andando por... — Ela para de repente no instante em que um arquejo sai do fundo de sua garganta.

Os Segredos de Manchester [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora