CAPÍTULO I

571 47 34
                                    

Pousada Fernsby (maio de 1822)

— Tenham uma ótima estadia, Sr. e Sra. White.

Georgina Fernsby entrega ao casal as chaves do quarto nº 17, último aposento disponível da pousada.

Graças a Deus, ela pensa com um suspiro cansado enquanto observa o casal subir a escadaria. Apesar do cansaço, Georgina sentia-se realizada por ter terminado mais um dia de trabalho com exatidão, pois, assim como todos os anos quando faltavam apenas alguns dias para a temporada social, o lugar ficava lotado, com todos os quartos felizmente alugados.

Ela fecha os diários com as fichas dos hóspedes e os guarda. Depois disso começa a subir a escadaria em direção ao terceiro andar.

Ao todo a pousada tem quatro andares, que é dividida pelo andar térreo, onde eram feitas as fichas e, caso o cliente não quisesse ter uma refeição em seus aposentos, ali também servia como um restaurante e bar. O primeiro andar é dos quartos medianos, com taxa de aluguel mais baixa e com quartos mais simples. O segundo andar é o mais luxuoso, com quartos dignos de hospedar até a família real caso eles quisessem passar um período ali. Cada andar com quinze quartos. E então vinha o terceiro, que era todo e inteiramente de Georgina e sua mãe, Phillipa; mais precisamente a sua casa. Por fim, o quarto andar é a ala dos criados. Além disso, na parte de trás da Pousada Fernsby havia um jardim enorme, com um lago de águas cristalinas, um campo de golfe para os cavalheiros e os estábulos.

Foi ali que Georgina nasceu, foi ali que cresceu.

Por isso, apesar de já ser tarde e os corredores estarem escuros — a não ser pelas arandelas acesas sobre as paredes — ela não tinha medo de tropeçar em algo. Conhecia aquele lugar na palma da mão. Não porque trabalhava ali e precisava saber onde tudo ficava, mas porque um dia tudo aquilo seria seu, o que a deixava com um misto de medo e ansiedade quando pensava no assunto. Será que conseguirei administrar este lugar tão bem como minha mãe o faz? Afinal, a Pousada Fernsby é um sucesso e referência em toda a Inglaterra. Situada a algumas milhas de Londres, na estrada que dá acesso à Kent, o lugar é um ótimo ponto para quem está cansado de uma longa viagem e quer descansar por alguns dias antes de retornar. Georgina sempre adorou morar ali, e nunca pensou na possibilidade de algum dia ter que se mudar.

Adorava ainda mais a história por trás de todo aquele sucesso. Sua mãe lhe contou certa vez de que cada pedra levantada daquela pousada foi com o seu próprio suor e o de seu pai, que trabalharam a vida inteira para que pudessem realizar seus sonhos de ter o próprio negócio. E hoje eram ricas como qualquer família de título nobre. Apesar de ainda a pousada às vezes ser julgada por ter duas mulheres como proprietárias... Mas só falava mal quem não conhecia o lugar, que era um verdadeiro paraíso para aqueles amantes do campo.

Toda vez que pensava nisso Georgina ficava com um sorriso bobo no rosto, pois Phillipa sempre colocou o Sr. Fernsby como herói, e ela queria muito ter conhecido ele. Mas, infelizmente, seu pai falecera de malária alguns meses depois do seu nascimento, segundo a sua mãe.

E falando nela, Georgina lembrou-se de que Phillipa provavelmente estaria em seu escritório, como sempre fazia antes de ir para o apartamento. Por isso resolveu passar por lá antes.

Ela bate levemente na porta.

— Mãe? — Georgina abre uma pequena fresta e coloca a cabeça para dentro, espiando o interior.

O cômodo estava um breu, a não ser por uma única vela acesa em cima da escrivaninha, onde Phillipa tinha a cabeça abaixada sobre um amontoado de papéis, e a pena se movimentava freneticamente em sua mão enquanto fazia contas e mais contas.

Os Segredos de Manchester [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora