Entre Capítulos: Mefistom

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– Até ... O fim ...

Pisco algumas vezes, observando as coisas por uma fraca luz, não conseguia sentir nada além de um vazio estranho nas entranhas. Lembrar do que ocorreu. Mentir para Khairo. E estar preso.

Como se tivesse uma pequena versão de mim mesmo, observando do outro lado daquela cela, que tipo de palavras aquele Hyde diria agora? Que tipo de homem ele teria se tornado? Isso não importava, não realmente, mas me peguei questionando.

Porém meu devaneio foi interrompido com o barulho de passos me tirando da solidão. Alguém apareceu e entrou na prisão onde estava, era uma mulher que não saberia dizer se tinha vinte e poucos anos ou quarenta. Era atemporal seu rosto, com algumas marcas aqui e ali na boca carnuda.

– Olá – Ronrono em sua direção, voltando a sentir alguma coisa além de autopiedade – O que uma beleza dessas vem fazer aqui?

– Hyde Noustruem, eu suponho? – Ela ignora minha tentativa falha de seduzi-la – As acusações foram retiradas e está livre. Nós capturamos o verdadeiro Ceifeiro Rubro. Sinto muito pelos inconvenientes de hoje cedo

– Que? Hã?

– Era para a armadilha ter pegado o Ceifeiro, mas acabamos por capturar um inocente que apenas se enfiou em uma briga de rua contra uma raça que sente apatia – A moça não olhou nos meus olhos quando disse isso, tinha consigo um papel que parecia ser importante – Mas é um fato de que tivemos ciência de sua condição ... Estranha, por assim dizer. Não somos mentes fechadas para o julgar por ser diferente. Mas precisa entender que isso vai gerar perguntas que devem ser respondidas

– Do que está falando?

– Não é de hoje que Apocrifes tem problema com demônios, mas os classificamos como monstros ou criaturas sem consciência – Ela finalmente me responde alguma coisa – Mas é a primeira vez que um humano é transformado em demônio. Sugiro que retorne para Arcaden e se apresente as autoridades de seu reino, para melhores explicações

– Farei isso

E ela me solta, tira a chave do bolso e começa a destrancar as correntes e me liberta. Sinto que a volta da mobilidade faz bem, os pulsos se regeneram rapidamente e qualquer ferida aparente some em segundos. Ela parecia assombrada, mas, ao mesmo tempo, deliciada com a visão daquilo.

– Impressionante – Disse.

Dou uma risadinha e deixo que a mulher me guie pelo corredor escuro para chegarmos as escadarias, que subiam em caracol. Continuo indo e observando o quadril dela, rebolando conforme erguia a perna e conquistava um novo degrau. Quando chegamos ao topo, a porta se abre e um soldado faz reverência para aquela que deveria ser sua superior. Mas o olhar que me deu era mortal.

Meneio os ombros e ando para fora, onde outra parcela de corredores esperava e depois de uma virada abrupta para a direita: O hall de entrada.

Era uma fortaleza no meio da cidade dourada de Ra-Wa, com os arcos das portas altas, pedras quentes sob o toque, resistentes e fortes para permanecer em pé no meio do deserto. Um balcão de pedra solar com infinitos tons entre amarelo e laranja, se encontrava no meio do salão e ali um homem familiar me esperava. Era o meu advogado e maior defensor.

Doutor M. Mefistom sorria para mim, seus olhos dourados estranhamente mortais do outro lado dos óculos diminutos. Usava roupas formais para a cidade, era uma túnica de um ombro só, com outro tecido cobrindo o que deveria ser a outra manga. Era uma cor creme perolada, muito bonita e cara, usada apenas em momentos como aquele.

– Oh, meu adorado cliente! – Ele dizia com o sotaque do sul de Arcaden, carregando as vogais enquanto falava – Que booooooom! Está inteiro!

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