Capítulo Quinze: Alakke

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– Eu sabia que você não ficaria satisfeito em voltar a ser humano

A voz que me alcançou era familiar, meu irmão Khairo era uma versão maior do irmãozinho que um dia foi meu reflexo, mas que tinha os olhos de nossa mãe. Aquele garoto de dez anos atrás teria dito coisas cheias de ódio e repudio?

– Uma vez demônio, sempre será um demônio – Dizia Khairo com desprezo e nojo na voz.

Não consegui me impedir de rir daquilo, chegava a ser hilário nossa situação e deixo Briseida se afastar de mim, correndo para um canto do beco e se protegendo da possível briga entre irmãos.

"Briga" era um eufemismo. Verdade seja dita, era uma guerra que nosso laço de sangue desaparecia, deixando apenas um guerreiro contra o outro. Extremos opostos, era isso que éramos agora.

– Solte Pierrote! Agora!

– E o que você vai fazer se eu não obedecer?

Levo a fadinha para próximo da boca, passando a ponta da língua por sua pele. Era uma visão hedionda em que por um segundo a possibilidade de devorá-lo era real e Khairo sentiu isso como um golpe físico, porque a expressão de raiva foi abrandando, dando lugar para um medo frio.

– Por favor, irmão – Ele apelou – Você pode escolher ser humano! Afinal, você conseguiu por pouco tempo retomar sua humanidade! Podemos ser uma família de novo e junto de Cristina e ...

– Cristina? – Ouvir seu nome me fez congelar por dentro – Do que está falando?

– Hã? Que ela está na capital Arcadiana. Você não sabia?

– Não

– Achei que soubesse – Ele sorria de alívio, parecia ter encontrado uma brecha – Lembro que vocês se amavam, né? E que papai iria aceitar seu casamento com ela! Posso dizer aonde ela está agora, posso te ajudar a resgatar ela também

– Resgatar? Por que Cristina precisaria ser resgatada?

– Eu já trabalhava para meu lorde dragão então não pude fazer nada

Ele pareceu visivelmente embaraçado, o gelo em minhas veias agora vazava pela ponta dos dedos e formavam garras, o medo sendo cruel e me fazendo entender antes mesmo dele continuar

– Ela se tornou uma escrava de um Grão Solar importante. Acho que se chamava Rakshaza-Sol-Rha

Eu conhecia esse nome tão bem que até doeu lembrar que uma vez já me encontrei em seu palácio, isso tinha já uns bons cinco anos, quando Azs-He-Wur foi para a capital pela primeira vez. Uma festiva aconteceu na época e fizemos vários bons contatos entre os Filhos do Sol, afinal de contas, Rakshaza era um símbolo de autoridade de salamandras no reino dos humanos em Arcaden e era responsável pelos bons laços entre raças.

Até o rei compareceu. O monarca que um dia foi amigo de meu pai, seu ex general e que não me reconheceu, porém veio falar comigo por ter muitas semelhanças com o falecido. Naquele tempo o nome de Khairo nunca foi tocado e nem de Cristina.

Apenas que o rei estava crente de que "ninguém" sobreviveu ao ataque daquele grupo religioso e acreditavam se tratar de humanos e Filhos do Inverno, os neustinees, que fugiram de Misque para lá. Foi compreendido que se tratava de um evento isolado e de consequência da guerra travada por territórios anos atrás.

Eles estavam enganados, todos eles. E agora percebo, que até mesmo eu tinha uma venda nos olhos e nada percebi, nem mesmo cogitei pensar a respeito até que tive meu encontro com a advinha no deserto: Que Cristina poderia estar viva e precisando de mim.

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