O ômega estrangeiro

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Os olhos vermelhos como rubis encaravam aquela passagem larga de água entre dois penhascos que era o caminho da embarcação em que estava. Era bem cedo então a névoa fria marítima ainda estava presente para tornar a situação ainda pior do que realmente era. Não sabia como se sentir perante tudo o que estava acontecendo, normalmente sairia explodindo alguma coisa ou alguém para se sentir melhor, mas não adiantaria nada no momento. Suspirou cansado e se apoio na borda do navio, o frio molhado que cobria a madeira se alastrando por suas mãos e braços desnudos, como não deviam estar no momento, os cabelos loiros e espetados acompanhavam a contra gosto o vento com gosto de sal e umidade. Se lembrava perfeitamente de se sentar na mesa de café da manhã farta e discutir com sua mãe por algum motivo banal como não querer ir as malditas aulas de costura e etiqueta que eram obrigatórias para todos os ômegas de sua idade em sua aldeia natal.

Ouvir seu pai rir e pedir calma com seu típico sorriso tranquilo.

Então isso era sentir saudades?

Mais tarde naquele mesmo dia viu sua casa, construída com tanto esforço de seus pais por não terem posições muito importantes na alcateia, pegar fogo enquanto corria junto a sua mãe para algum lugar seguro e seu pai ia lutar junto aos outros Alphas adultos que estavam presentes no momento do ataque surpresa vindo da vila vizinha, que desejava locais mais férteis para o plantio e veios mais abundantes de água. 

Um motivo banal para levar as vidas de tantos à completa desgraça, não? 

Perdeu seu pai, casa e amigos íntimos na mesma tarde e sequer conseguia chorar por isso, apenas confortar sua mãe que tinha perdido um marido pela segunda vez na vida. E agora, por pura sorte, ou azar ainda não sabia, alguns de sua aldeia e da outra que também tinha sido atacada estavam sendo acolhidos por uma nova vila em uma ilha vizinha _ aparentemente só existia essa na ilha inteira, o que evitava conflitos por terra e fazia dela tão grande e próspera. Iriam começar uma nova vida longe de tudo o que conhecia e ainda não sabia se seria bom ou ruim, afinal seria um estranho em terras estrangeiras. Tinha notado que ele e outro rapaz eram os unimos ômegas entre as trinta pessoas que estavam sendo acolhidas, que eram em sua maioria Alphas e com mais cinco betas, todos na mesma faixa etária de 18 à 20 anos _ por pura coincidência e não seleção, já que sua mãe, uma Beta de trinta e oito anos, estava ali também. 

– Bakugou-san, bom dia – uma morena de olhos negros puxados chegou perto com um discreto sorriso e ar tranquilo. Apenas estalou a língua em resposta, não estava com humor para as tentativas de conversa de Momo, que pareciam bem insistentes nas semanas que estavam naquela embarcação – Ansioso para desembarcar? – a Alpha parecia empenhada em ignorar suas resposta malcriadas desde sempre, e isso só o irritava mais ainda.

– Não é de sua conta, olhos puxados – disse por fim e saiu dali, indo para a cabine pequena que dividia com sua mãe. Mitsuki estava muito deprimida, como o esperado de uma mulher que se tornou viúva recentemente, mas tentava não passar isso para o filho se fingindo de forte como se ele não a escutasse chorar baixinho todas as noites, quando achava que o loiro tinha dormido na cama de baixo do beliche pequeno que dividiam. Encontrou a loira terminando de quadrar as coisas na mala média, coisas que conseguiram recuperar nos escombros da casa após o incêndio _ como algumas roupas, objetos pessoais e uma pequena pintura onde estavam os três membros da família, que por algum milagre sobreviveu dentro de sua moldura de cobre e vidro. O redor de seus olhos escarlates estava avermelhado e olheiras ocultavam sua beleza junto a expressão cansada e pálida, viu como seus lábios tremeram ao forçar um sorriso para não preocupar sua cria. 

A tristeza estava destruindo aquela mulher forte que lhe deu a luz e isso o estava consumindo por dentro, era difícil encarar e não poder fazer nada a respeito. Carinho não era seu forte, mas se ajoelhou diante da mulher e lhe tomou nos braços como ela sempre fazia quando ele era apenas uma criança e se machucava caindo de árvores na vizinhança, não demorou para ouvir o fungar na curva de seu pescoço e o apertar dos braços calorosos.

Rosmarinus (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora