Convivência

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Em apenas duas semanas trabalhando naquele lugar Bakugou já tinha uma lista de coisas que descobriu por acaso, umas que o tiravam do sério e outras nem tanto:

1º: Os clientes eram educados e nem sempre faziam comentários sobre sua origem estrangeira ou seu género e idade. Alguns até lhe davam boas vindas a vila e davam presentes simplórios _ coisa que descobriu ser cultural por ali. Os clientes regulares que Inko tinha mencionado na entrevista, na verdade, era um pequeno grupo de senhores e senhoras que apareciam no final da tarde para apreciar um bom vinho e petiscos caseiros feitos pelos donos do local _ e que pagavam gorjetas bem gordas. Eles eram bem educados consigo e evitava ficar muito irritado perto deles, já que não tinha motivos para tal.

2º: Inko era casada com o líder da alcateia, quase teve um ataque cardíaco ao ir conferir a quantidade de rótulos prontos e pegou os dois aos beijos e amassos no ateliê da esverdeada. E também que ele não era o pai de Midoriya, era padrasto, e que seu filho de sangue e futuro líder era Togata Mirio _ uma surpresa e tanto, nunca que iria ligar os dois loiros, já que por respeito a sua falecida mãe, última de sua linhagem, o sobrenome dela foi mantido.

3º: Midoriya Izuku é um completo tarado disfarçado de anjo. Certamente o alpha era gentil e atencioso, o ajudando com tarefas que ainda não estava habituado ou corrigindo alguma conta incorreta feita por si em algum momento de distração, não brigava muito quando dava o preço errado de alguma garrafa pois ainda confundia os rótulos e safras, e acreditava que não tinham segundas e nem terceiras intenções por trás destas ações. Mas perdera as contas de quantas garrafas, bandejas e até mesmo jarras cheias de vinho tinham ido ao chão pelo esverdeado ficar encarando, despudoradamente, sua bunda enquanto limpava alguma coisa no alto, varria o chão ou servia algum cliente.

O pior é que não sabia como agir perante isso.

Da primeira vez que pegou o alpha encarando sua bunda e a curva de seus pescoço com fixação, sua primeira reação foi quebrar o cabo da vassoura que usava para limpar atrás do balcão na cabeça dele. O que pareceu nem fazer cócegas! O cabo do objeto se partiu e o esverdeado nem fez cara feia, apenas pediu desculpas e se afastou. Na segunda, explodiu a cara dele e novamente não teve outro efeito além de um ‘mil perdões’ e uma cara de tacho de quem não fez nada de errado, nas próximas vezes nem se lembrava o que fez, apenas que não teve efetividade nenhuma. 

Aquele peste era feito de metal por acaso?! 

Estava quase pegando ódio dele quando foi informado que o esverdeado ficaria alguns dias fora para supervisionar a colheita das uvas e alguns frutos de época que eram usados em outras bebidas, que eram cultivadas ou colhidas no outro extremo da ilha. No início se sentiu aliviado por se livrar do assédio visual insistente de todos os dias, mas depois de dois dias sem nem mesmo ver a cara de bobo ou senti o cheiro de carvalho e orvalho do outro, começou a se sentir triste e solitário naquela loja. Nem sabia o por que disso, já que praticamente matava o alpha cada vez que o via, aquele Deku não era ninguém importante, então por que estava sentindo a falta dele?!

Sentia-se estranho indo a aquele lugar e não receber um ‘Bom dia’ sorridente que já tinha virado uma rotina, ou não escutar ele paparicando a mãe com algum bolinho, carinho ou chá. O cheiro dos petiscos feitos por ele geralmente impregnava a loja e o armazém inteiro quando estavam no forno e a falta disto dava uma sensação de estranheza, pois o odor que predominava era o de vinho e madeira. Também sentia-se estranho de não ter que limpar alguma poça de bebida que o alpha destrambelhado deixou cair ao ficar o encarando por trás. O tédio dominava.

Também sentia falta _ por mais que fosse constrangedor _ dos olhares divertidos de quando se atrapalhava com algo e o esverdeado vinha a seu resgate, dos olhares carinhosos quando o mais alto vinha lhe trazer algum chá para espantar o frio que já vinha se fazendo presente ou para que experimentasse alguma receita nova, quando se sentavam juntos para apreciar o início da tarde acompanhados de um café e biscoitos caseiros. Sentia falta também dos olhares indiscretos e profundos que o faziam se sentir despido, exposto e quente na mesma medida.

Não negava, internamente, que o desejo de Midoriya servia para alimentar seu ego. Saber que era desejado, quase cobiçado, por ele era gratificante para seus instintos carentes de ômega que tinham sido deixados de lado depois da tragédia que foi acometido em sua terra natal, mas agora, instalado em uma nova casa e em um lugar onde poderia recomeçar, seu corpo começava a pedir por companhia e seu cérebro começava a entender que estava carente, sozinho como não deveria estar em sua idade. 

Ter um alpha com um cheiro tão bom e saudável, em plena forma física, o desejando era delicioso. 

Admitiu corado que, sim, estava interessado naquele anjo pervertido! 

***

– Bakugou querido, poderia me ajudar aqui? Se não for te atrapalhar – Inko surgiu da porta que conectava a loja ao armazém com um sorriso no rosto, demonstrando com palavras a afinidade que adquiriu com o loiro no pouco tempo em que esteve ali. O loiro parou de limpar o balcão e seguiu a mulher para dentro do armazém. As adegas estava cheias de garrafas escuras e a iluminação das lanternas a óleo _ ou lamparinas _ davam um charme a mais a madeira escura e conseguia ver algumas caixas grandes, que provavelmente tinham sido entregues pelas portas dos fundos – as encomendas do festival das lanternas chegou e não vou conseguir colocar todos no lugar sozinha.  

– festival das lanternas? – perguntou curioso, olhando os jarros de barro e cerâmica branca lacradas com rolhas que estavam dentro das caixas, pareciam ter algum líquido dentro pois pesava e fazia barulho quando levantados.

–à, sim, provavelmente vocês não sabem ainda. A lua cheia de outono é a mais bela do ano, e o festival é um símbolo de purificação, apesar de sair do controle na maioria das vezes – riu constrangida e se sentou num pequeno banco que era usado para alcançar as prateleiras de cima, o loiro apenas pôs o pote de bebida que carregava no chão e se apoiou na parede para ouvir melhor – a intenção do festival e aproveitar a euforia que a luz da lua incide sobre nos, lobos, para reunir a alcateia em uma grande celebração onde dividimos um grande banquete, dançamos e brindamos às colheitas. Nos divertimos. Mas, como você já deve estar imaginando, antes que a lua chegue ao pico a maioria já está bêbada e … Não, deixa pra lá, você terá a chance de ver com os próprios olhos, agora vamos terminar de colocar o vinho de arroz no lugar, logo logo faremos uso dele. – riu novamente e retornou ao serviço, se encarregando das garrafas menores e mais leves.

Aquela conversa só serviu para atiçar ainda mais a mente curiosa do loiro! 

Durante o resto do dia inteiro o Katsuki ficou com aquilo martelando na cabeça, o quê realmente acontecia no Festival das lanternas? 

***

Quando retornou ao dormitório ao fim do dia de trabalho _ onde não conseguiu tirar o tal festival da cabeça _ deu de cara com uma mulher baixinha que entregava alguns embrulhos para sua mãe, alegando serem presentes dos moradores e que as vestes para o festival estavam entre estes. Eram roupas, acessórios e coisas simples para a casa que acharam de muito bom gosto por sinal. Mas não foi isso que realmente prendeu sua atenção e sim algumas caixinhas de madeira clara e amarradas com fitas prendendo pequenos bilhetes nomeando sua mãe, ele, Momo e Yo, separadamente. Seus olhos quase dobraram de tamanho ao ver dentro delas alguns colares de cores e símbolos diferentes, cada um de uma forma diferente e com materiais diversos, mas todos no mesmo estilo de gargantilha com um pingente central.

Tinha achado que aquela ilha era completamente diferente de sua terra natal, mas ali estava um costume que se repetia naquela terra. Aqueles colares feitos à mão eram claramente propostas de possíveis parceiros!

Rosmarinus (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora