Contos de Amorzinho

Mas... por que?

Nem sempre eu tive esse ardor no peito que todos dizem ser a melhor sensação do mundo. Eu nunca amei, e eu me arrependo de um dia ter amado alguém.

Ele era aquilo que todos e todas babavam só para tirar uma casquinha daquele ser tão dotado de beldade.

Ele foi aquele que ganhou meu coração, aquele que infelizmente não soube cuidar.

Lembro dolorosamente como se fosse ontem.

Ele chegou na sala de aula atrasado como sempre, com os cabelos bagunçados e o rosto vermelho de tanto correr, e aquelas covinhas que me tiravam do sério.

Se sentou ao meu lado e não disse nada.

Apenas observei os olhares dos outros alunos em mim, estranhando o porquê dele ter se sentado ao meu lado enquanto tinha tantos lugares vagos.

Também estranhei.

Eu era apenas um garoto excluído, que usa óculos e era taxado como o estranho pela sala.

Mas ele escolheu se sentar ao meu lado, por quê?

Semanas se passaram e ele continuou a se sentar ao meu lado, sem falar uma única palavra comigo. Até que um dia, ele finalmente falou.

— Oi! Você pode me emprestar um lápis?

Ta! Eu sei que aquilo foi ridículo. Mas poxa! Ele pelo menos trocou uma palavra comigo.

Pensando que ele não ia falar mais nada, voltei a copiar a matéria do quadro.

Quando de repente...

— Qual o seu nome mesmo? - incrível! Mais de duas semanas sentando do meu lado, e o imbecil só foi perguntar meu nome agora.

— Pietro... - eu respondi

— O meu é Lucas - como se eu já não soubesse.

Foi aí onde tudo começou, foi nesse momento onde eu devia ter dado apenas um adeus e ter seguido com a minha vida.

Mas não foi bem isso que aconteceu, depois dessa conversa, vieram outras e outras...

Nós viramos amigos, por incrível que pareça.

Ele era o oposto de mim.

Enquanto eu era tímido, excluído e estranho, ele era extrovertido, popular e incrível.

Mas ele escolheu a mim! Por quê?

Até parece aquelas histórias do "nerd" e o popular, né? Que o casal passa vários momentos terríveis e depois ficam juntos num mar de açucarados brigadeiros... pena que a minha história não tem nada de doce!

Eu a essa altura, já estava apaixonado por aquele desgraçado, que simplesmente me fazia ter um mini infarto toda vez que ele sorria.

Como se já não bastasse, me peguei pensando nele várias vezes e suspirando, imaginando o quão bom seria receber um beijo dele.

Estava desprevenido, e sem nenhum escudo protegendo meu coração quando ele me veio do nada e disse que nesse momento, me considerava mais do que um amigo...

Aquilo foi demais para mim, demais para o coração de um pobre garoto apaixonado.

Estávamos na praça do colégio quando tudo aconteceu.

Ele me puxou pela cintura e disse palavras que me deram vontade de agarrar ele ali mesmo.

Palavras tão doces que parecia que a qualquer momento, eu ia ter um diabetes.

Mas sem deixar eu ter chance de reagir, ele falou...:

— Eu te amo Pie... — o apelido que ele me deu, tão fofo.

E então, ele me beijou intensamente para todo mundo ver, me tirando do ar e me deixando perplexo.

Semanas se passaram.

Nós saíamos juntos, brincávamos, namorávamos...

Era tão mágico que às vezes, jurava ser um sonho, e se fosse, não queria acordar nunca.

Mesmo com os olhares de reprovação de todos, nós estávamos ali, juntos e felizes.

Mas eu sempre soube que esse sonho um dia chegaria ao fim.

Estávamos completando um mês de namoro, preparei uma linda surpresa para ele.

Uma cartinha e uma noite especial, iria relembrar tudo o que vivemos.

Cheguei na escola saltitante e alegre. E quando entrei na sala, eu me deparei com uma cena que arrebatou meu coração, que me paralisou.

Ele estava lá, agarrando uma garota, na minha frente.

Eu não sei o que senti no momento, apenas senti minhas lágrimas descerem pelo meu rosto e meu coração se despedaçando em mil pedaços.

Os amigos dele começaram a rir ao me ver.

Lucas percebeu a minha presença e ficou parado me olhando, sem saber o que fazer.

Apenas larguei o presente que daria a ele na sala e saí correndo de lá aos prantos.

Ele me alcançou e me parou no corredor, eu tentei me soltar, mas não deu certo.

— Pie... por favor me escute! Eu não queria... Eu te amo!

— Não mente para mim!

— Não estou mentindo!

— Sim, você está. Você mentiu no momento que disse o primeiro eu te amo, mentiu quando disse ser só meu. Eu te entreguei meu coração de bandeja e você o destruiu como se fosse nada! Que tal você ser sincero uma única vez?

— Pietro... - ele respirou fundo. Seus olhos se encheram de lágrimas. - Me desculpe, eu não queria! Eu realmente te amei... Mas eu já tinha cumprido a aposta, precisava me livrar disso de alguma forma e eu...

— Foi uma aposta!? Eu não acredito que eu pude ser tão burro a esse ponto!

— Você me entendeu erra...

— Eu entendi! Por isso que você não quis ir comigo na festa semana passada, porque já tinha cumprido a aposta. Você só me usou para provar algo para seus amiguinhos. Você me dá nojo, eu te odeio!

— Não fala isso Pie...

— NÃO ME CHAMA ASSIM! Você fez isso por pena, você me destruiu, você me usou e me abusou! Você nunca me amou... isso foi só para provar que você realmente não é "gay" né? Claro! Não quer queimar o seu filme... me esquece Lucas, esquece que um dia a gente já teve algo. A esqueci, foi tudo uma farsa.

Escondidos numa sombra de mentiras.

Queria ter te dito que sempre te amei e que aquilo não foi nada para mim... Você era aquilo que eu sempre quis!

Mas eu te afastei como sempre afasto tudo.

Aquela aposta não foi nada, o que importa é você do meu lado!

Não... Você não me quis, você pegou meu coração e quebrou.

Você disse que me amava, disse que iria ficar comigo para sempre... Quantas mentiras você me contou?

Quantas?

Várias...