Levanto-me imediatamente e corro em direção ao teu grito. Você está no chão, sangrando, chorando. Não há mais ninguém em nossa casa, a porta permanece fechada. Pergunto o que aconteceu, mas você não consegue responder. Te carrego até o carro e corro com você para o hospital. Chegando lá o carrego em meus braços, você sangra e afoga em sua própria dor, me implorando pra voltar.
- Olá, sou a Dra. Samara, como posso ajudá-lo? – uma médica me para ao me ver entrar.
- Como assim? Não vê que ele está sangrando?! Ajude ele, por favor! – estou desesperado, incrédulo que ela ainda pergunte.
- Desculpe-me, mas quem está sangrando? O senhor precisa se sentar? – ela coloca uma de usas mãos em meu ombro e parece ignorar o fato de que sua vida aos poucos escorre por entre meus dedos.
- Ele! Ele está bem diante dos seus olhos! Não vê quanto sangue há aqui?! Por favor, Doutora, ajude ele! Não quero que ele morra em meus braços- o pânico invade, não consigo entender.
- Mas de quem você está falando? Não há ninguém aqui. O senhor está bem? – ela realmente não está te vendo. Como isso é possível? Ela tenta me fazer sentar em uma cadeira, mas eu me recuso.
Corro pelo hospital com você em meus braços, tua essência cai pelo meu corpo. Grito sentindo que ninguém ali conseguia me ouvir. As pessoas parecem não te ver. Por quê? Por quê?! Todas estão loucas? Você tenta me dizer algo, mas está afogando, nada sai além de bolhas em meio ao sangue. Seu corpo se torna mais pesado e mais leve ao mesmo tempo. Você se vai. Eu choro, grito, peço ajuda, mas não tenho respostas. Seu corpo desaparece e eu percebo que estou cercado de pessoas assustadas. Onde está você? Por que elas não podiam te ver? Por que eu não consigo mais te ver?
Sinto tudo girar e meu corpo dói. Caio e meu corpo se encontra com o chão gelado. Ouço ao longe alguém me chamar. Sinto meu corpo sendo carregado. Acordo alguns segundos depois, estou em uma sala, deitado em uma cama, tem agulhas em meus braços. Tento entender o que aconteceu. Um enfermeiro me diz que fiquei desacordado por três dias e que eles fizeram exames toxicológicos em mim. Ele me diz pra descansar pois eu precisaria responder algumas perguntas em breve.
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Suplício
Teen FictionDeimos Cipriano precisa lidar com a perda de alguém importante, mas a maior dor que ele tem de enfrentar é a de ter perdido a si mesmo. A torturante tarefa de lutar contra a dor, solidão e abandono podem destruir as mais belas almas.