O primeiro e último prólogo

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À luz da ousadia, coloquei-me a tecer, em uma arte de selvageria, as palavras da ponta à extremidade de um período. Arranquei vírgulas a dentadas e degluti preposições. Minhas mãos foram responsáveis por abomináveis atos de rebeldia e bestialidade contra a Língua Portuguesa. Com a ponta de um grafite, cortei-lhe os advérbios dos órgãos e devorei-lhe as entranhas das locuções. Em seguida, regurgitei os restos meio digeridos, misturados ácidos sobre o papel como se fizessem algum sentido. Repeti o ciclo e, eventualmente, descobri o fogo e a culinária foi refinada ao longo da prática. A  alquimia literária para devida degustação como resultado. O sabor das palavras na boca era de um agridoce e árduo esforço, mas a garganta nunca parou de queimar.


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