Apartamento Nº 7 - Pé de Moleque

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No dia 15 de outubro, Karen, de 14 anos, foi à uma festa de aniversário sem a autorização da mãe, após a saída da escola, e acabou por voltar bêbada às 3:45 da manhã. Não tinha outra saída ou entrada no apartamento se não fosse a porta da frente. Sua mãe a esperava cochilando no sofá da sala e Karen decide entrar na ponta dos pés, porém bêbada, pisa num mordedor barulhento de sua irmã mais nova.

-Karen? É você? - Fala Dona Suzana, acordando.

-Sou eu sim, mãe. - Karen fala, tentando parecer menos embriagada.

Suzana se levanta e anda até Karen, que sem conseguir se segurar, vomita nos pés da mãe um líquido azul.

-Bebida? - Fala Dona Suzana.

-N..ã.o... - Karen tenta justificar, mas não para de vomitar.

- Limpe tudo isso, e depois vai se deitar. Nos próximos meses, de casa para a escola e da escola para casa, e seu tempo será cronometrado, se chegar tarde você vai morar com a sua avó paterna.

Karen acena com a cabeça, parando de vomitar, e vai até o banheiro pegar os materiais para limpar o vômito.

5 da manhã, e Dona Suzana havia decidido virar a noite lendo, pois tinha que acordar o marido para ir trabalhar, pois ele era motorista de transportadora.

Seu Jorge acorda e passa no quarto das filhas para lhes dar um beijo antes de sair. Ele encontra Karen com a maquiagem toda borrada, ainda com a farda da escola, cheirando a bebida e com o cílio postiço colado na bochecha. Seu Jorge vai até a sala e fala:

-O que houve ontem?

-Adivinhe. - Disse Dona Suzana.

-Olha, Suzana, parece que ela só faz isso para passar o máximo de tempo longe de casa. Desde que a Marian nasceu, você deixou o trabalho, deixou a família, vive por Marian e para Marian. Você precisa descansar, porque parece que está descontando sua frustração na Karen.

Suzana respira fundo:

-Independente do que seja, Karen está passando dos limites na rebeldia.


Durante toda a semana, fortes cólicas atingiam Karen, e ela jamais teve cólica. Ela dizia à Suzana que era como se estivesse queimando do útero ao estômago, e Suzana decidiu comprar uma pastilha mastigável para gastrite. Karen começou a levar essa pastilha para a escola também, e decidiu obedecer a mãe por algum tempo, ao menos até a dor passar, pois não se via capaz de sair para beber naquelas condições.

Nada da dor curar, até que dia 30 de outubro, ocorre com Karen, um vômito em jejum seguido de um desmaio curto. Dona Suzana começa a desconfiar de gravidez, então espera ficar de noite e senta-se com Karen na cama:

-Minha filha, você já é mulher?

-Sim, mãe, eu já menstruei.

-Não é disso que eu estou falando.

Karen hesita um pouco e responde:

-Sim, minha primeira vez foi esse mês.

-Você sabe quem era o rapaz?

-Conheci ele na festa da Milena, ele bebe um pouco, mas não fuma, não usa drogas, e nem quero nada sério com ele.

-Eu acho que essas informações não são o bastante para você oferecer sua virgindade.

-Vai dar lição de moral agora?

-Para ser sincera, não me sinto confortável, você é muito nova, mas não quero dar lição de moral, só me importa saber se usaram camisinha.

-Ele me disse que não precisava, por que ele não tinha nenhuma doença.

-Filha, vou te dizer o motivo pelo qual decidi termos essa conversa: eu quero que você faça um teste de gravidez.

-Oi??? - Indaga Karen. - Eu não vou fazer isso, me humilhar a mijar em um potinho, por algo sem fundamento. Não tem como eu estar grávida. Primeiro porque eu sou muito nova, e segundo porque seria muito azar isso acontecer na minha primeira vez.

-Quantos anos tinha o rapaz?

-Acho que uns 20, não cheguei a perguntar.

-Você vai fazer o teste, não é um pedido.

Karen bufa.

Suzana entrega uma nota de R$10,00 para Karen, e esta vai até a farmácia espumando de raiva e de vergonha.

Ao chegar em casa, Karen nem olha para a mãe, apenas vai direto para o banheiro e faz o teste. 5 minutos depois, Suzana vai até o banheiro e bate na porta, porém nada de resposta, então ela decide entrar, encontrando Karen chorando, sentada no chão, com a cabeça deitada na tampa da privada. Ao olhar para cima da caixa de descarga, Suzana vê o resultado, logo indo até o quarto e voltando com um cinto largo e marrom: Tinha dado positivo.

Podia-se ouvir os gritos ecoando pelos corredores do terceiro andar.

Na manhã do dia 31 Karen mal podia levantar-se, e sua mãe havia saído cedo para ir à uma bomboniere no cais de Santa Rita, comprar pé-de-moleque. Logo, não adiantava pedir ajuda, pois seu pai estava viajando com a transportadora, e sua irmã Marian era um bebê, e também tinha ido com a mãe.

Sem poder levantar, Karen acaba por urinar na cama, e voltar a dormir. 

1 hora depois, Karen acorda com o grito de sua mãe, e ao abrir os olhos, vê ela sentada no chão, com a cabeça abaixada sobre a cama. Quando Karen enfim pôde reparar na cama, ela se viu deitada sobre uma enorme poça de sangue: ela perdera seu filho, e agora, sua mãe se culpava.

Seria esse o pretexto para elas começarem a se entender? Era necessário chegar a esse ápice para restabelecer o respeito entre mãe e filha?

Edifício e Delicatessen Veneza do Melaço.Where stories live. Discover now