Bônus

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NEVIO FALCONE

Alessio e eu tínhamos saído pra resolver algumas pendências da Camorra, meu pai estava ansioso, da forma dele, pra ver como a gente trabalharia junto, afinal a gente se implicava o tempo todo. Minha mãe e tia Kiara ficaram esperando na lateral do portão, enquanto Alessio tirava o carro minha mãe me disse pra ter cuidado e não ser imprudente, e tia Kiara disse que iria fazer bolo de banana pra gente na hora que a gente chegasse. Elas ficaram no portão até o carro sair de vista. Dizer que elas estavam tranquilas ela um puta eufemismo, não que meus pais se divorciaram mas quando meu pai disse que meu primo e eu estaríamos indo resolver as coisas eu pude jurar que minha mãe ia pedir o divórcio. Meu pai riu na cara dela e disse que não conseguia viver sem ela. Tia Kiara ficou sabendo que o filho dela estava indo matar alguém, literalmente, cinco segundos antes do Alessio sair de casa, mas meu tio tinha dado algumas dicas, Tio Fabi disse que era pra imobilizar primeiro e fazer perguntas depois.

Massimo ia encontrar a gente no local, um dos bairros afastados de Vegas, as casas não tinham cor nenhuma e o ar era pesado. A quantidade de droga e álcool que deveria rolar por essas bandas da cidade era absurda.

-Você fez voto de silêncio, é? - provoquei meu primo, que me deu uma olhada que eu jurei que ele viu minha alma
-Você quer por a fofoca em dia? A gente coloca a fofoca em dia, como você está com a sua irmã e o playboyzinho estando juntos? - ele me respondeu e eu pensei na oportunidade que eu perdi de ficar calado
-Minha irmã tem um péssimo gosto, e olha que ela falava dos homens literários e todos eles eram incríveis, e agora ela tá com o Amo? E que diabo de nome é esse? Parece que o Luca tava pedindo pra zoar com o filho. Ele chegando com a motoquinha dos transformers dele, que ceninha mais desagradável. E ele ainda tem a pachorra de debochar na cara do meu pai? Eu teria quebrado o pau da vassora nele, ainda bem que minha mãe me segurou. - meu primo levantou a mão em um claro gesto pra eu parar de falar
-Nevio, não precisa disparar a falar assim, toda Las Vegas entendeu que você vai levar aquele moleque pra uma luta na gaiola antes ds estadia dele ter fim.
-Minha irmã só não pode ficar sabendo.
-Nem seu sogro.
-Nem minha mãe.
-Nem a minha mãe. - tia Kiara vai ficar muito brava se souber o que a gente pretende
-Tia Gemma aprova.
-Tio Savio te ajuda. - meu primo não poderia estar mais certo.

Massimo estava encostado naquele Audi que tinha virado o amor da vida dele nas últimas semanas. Inclusive, a garagem da mansão teve que ser aumentada depois que a gente tirou carteira e ainda assim, às vezes, o tio Fabiano tinha que estacionar uns carros na garagem dele. Alessio estacionou do lado do carro do irmão e logo desceu, fazendo o toque de cumprimento dos dois. Desci do meu lado do carro e acenei pro meu primo.

-Vocês vieram dando volta pela cidade? - Massimo perguntou com aquele tom de voz que era igual ao do tio
-Bem que eu queria, o Nevio só estava reclamando do cunhado mesmo. - Alessio disse e deu um risinho
-Eu não vou dizer que sua hora vai chegar, mas deixa sua melhor amiga Aurora começar a namorar e a gente conversa.
-Nevio, absolutamente todo mundo sabe que só uma pessoa vai namorar com a Aurora e essa pessoa é você. - eu engasguei, pela primeira vez desde que eu tinha 13 anos, e isso foi nove anos atrás
-A gente só se implica.
-Tá bom, vamos acabar logo com isso. Nevio, sua irmã ligou e pediu pra gente encontrar ela depois. Não. Não sei onde e nem o que ela quer fazer. - Massimo disse e eu quis socar o rostinho dele por ler minha mente antes de eu perguntar as coisas

Estávamos ali pro segundo aviso. O terceiro seria sangrento.

-Vamos pegar o lobo mal. - eu disse
-Parabéns, Nevio, essa foi a frase mais bizarra que você já disse. - Massimo comentou
-E você diz frases bizarras constantemente. - Alessio completou e eles fizeram, novamente, aquele toquinho
-Por que vocês tem um toquinho e eu não? - não que me incomodasse nem nada, era só uma curiosidade
-Ah, o neném Nevio tá bravinho porque ele não tem um toquinho. - Massimo, que era alguns centímetros mais baixo que eu se inclinou e balançou meu cabelo
-A gente vai te incluir no toquinho, birrento. - Alessio apertou uma das minhas costelas
-Tá. Tá. Que saco vocês dois. Vamos acabar logo com isso e ver o que minha irmã quer.

Entramos no galpão, que aparentemente, estava abandonado e encontramos o grupo de homens que procurávamos. Alessio vestiu a máscara fria que havia herdado do pai enquanto Massimo e eu mantíamos nossa expressão serena. Alessio tirou a arma do coldre e deu um tiro pro alto; fazendo com que o grupo olhasse pra gente.

-Nevio, você está calmo demais, quem vai morrer hoje? - Alessio perguntou enquanto encarava os três presentes
-Para a sorte de vocês, ninguém. Mas sérios ferimentos serão inflingidos aqui.
-Eles estão muito chapados pra ter noção de qualquer coisa. - Massimo chegou mais perto e disse baixo

Tio Fabiano uma vez contou que quando o pai da Leona tentou entregar ela como forma de pagamento, ele gravou um 'C' de covarde no homem. Fizemos um pouco melhor, afinal, as nossas táticas de tortura haviam sido ensinadas pelos melhores. Antes de limparmos as mãos um barulho alto de moto chamou nossa atenção.

-Nevio, não mata o pretendente da sua irmã. - Massimo avisou, mas meu corpo estava tão cheio de adrenalina e zero de noradrenalina que só o comentário me deixou estressado

Amo entrou no galpão e deu um pequeno show, antes de apoiar um pé no chão e tirar o capacete. Ele abriu a jaqueta de couro, o que era estúpido ele estar usando uma, já que era verão em Vegas, tirou um papel do bolso e antes de dizer o que realmente queria ele deu o sorrisinho mais debochado que eu já vi, o que, além de me tirar do sério tirou Alessio da razão.

-Vocês precisam aprender a torturar com uma faca, muita bagunça.
-A gente pode praticar em você. Sempre bom ter uma cobaia. - Alessio despejou
-Fica pra próxima. Greta pediu pra entregar isso pra vocês dois. - Amo entregou um papel pequeno com um endereço no centro da cidade
-Você foi promovido a pombo correio? - perguntei
-Sua irmã pede, eu faço. Sou facinho facinho.
-Você em silêncio já é errado, aí você abre a boca e fica mais errado ainda. Parece uma metralhadora ambulante de merda. - respondi
-Fazer o que, herdei o dom do meu tio. Recado dado, até depois. Idiotas, Massimo. - ele fechou o zíper e colocou o capacete, dando partida na moto e saindo tão rápido quanto entrou, não me dando tempo de passar com aquela motoquinha por cima dele, repetidas vezes.
-Vamos terminar isso logo e ir embora, eu quero atualizar Dexter. - Massimo se pronunciou e Alessio e eu reviramos os olhos

Saímos do galpão e fomos em direção ao tal do endereço, Alessio dirigia como se essa merda fosse velozes e furiosos, o velocímetro tinha batido 120km/h em um momento, Massimo passou e meteu a mão na buzina e ainda gritou um 'exibido'. Eu poderia dizer que meu primo estava tão puto quanto eu. Torturar é ok. Agora ter o pirralho de Nova Iorque questionando as formas que a gente faz, nada ok.

Chegamos no endereço que minha irmã tinha dito e ela estava parada na porta, com os braços cruzados, roupa de academia, um coque e uma bolsa na mão.

-Achei que as princesas iriam demorar mais. - ela disse e entrou no lugar
-Você já foi mais educada. - Alessio disse e foi completamente ignorado pela prima
-O que a gente tá fazendo aqui? - perguntei e foi Massimo quem me respondeu
-Desestressando e tirando as energias ruins do corpo.
-Você disse que não sabia o que ela queria fazer. - Alessio respondeu indignado
-Eu não sabia. Mas é o que se faz em um estúdio de yoga.
-Yoga? - Alessio e eu perguntamos juntos
-Sim. Andem logo. Eu não tenho o dia todo e tenho que treinar pra uma apresentação. - Greta disse impaciente e botou a bolsa no chão
-O que é isso? - perguntei
-Roupa de academia, vão se trocar enquanto Massimo e eu nos aquecemos.
-E ele? - Alessio apontou pro irmão, que tirou a jaqueta e abaixou a calça, mostrando um short dos Simpsons
-Sempre preparado. - Massimo debochou

Alessio e eu trocamos de roupa no pequeno banheiro que tinha na lateral da sala espelhada e quando voltamos minha irmã e meu primo estavam em um tipo de posição de ponte, com um 'V' do corpo que eu não sei nem imaginar como começar a descrever. Nos alongamos como se fôssemos lutar e cada um tomou um colchão.

-Se eu cair isso aqui não vai me impedir de ficar roxo. - eu disse
-Isso não é um amortecedor, pelo amor de Cristo. - Greta respondeu sem olhar pra mim
-Você tá brava porque eu quis passar com o transformer por cima do seu namoradinho?
-Transformer?
-A motoca. - Massimo respondeu e minha irmã deu um riso anasalado.

Começamos nossa sessão de tortura com uma posição simples. Greta observava tudo pelo espelho na frente dela e vez sim e vez também corrigia alguma coisa na minha postura ou na de Alessio.

-Por que só a gente tá sendo corrigido? - perguntei
-Massimo e eu fazemos isso quatro vezes por semana fora as práticas que meu parceiro não pode. Acredite, a postura dele é quase tão boa quanto a da mãe.
-Eu sou bom mesmo. - Massimo respondeu e eu dei o dedo pra ele, o que me fez perder o equilíbrio e bater o ombro no chão.
-De novo. - Greta disse, simplesmente inacreditável.

Minha irmã e meu primo pararam em uma pose estranha só com os braços no chão, uma perna esticada e uma dobrada. E depois fizeram uma variação bizarra dela. Eu tinha força nos braços. Muita. Mas aquilo ali, era puro abdômen. Alessio e eu nos entreolhamos e depois Greta e Massimo nos ajudaram a pelo menos tentar fazer aquela coisa com o corpo.

Uma hora e meia depois estávamos saindo do prédio.

-E aí, estão mais calmos? - Massimo perguntou, ele nem estava suando
-Sim, e mais doloridos também. Caralho, meu irmão, parece que uma manada de elefante passou por cima de mim. - Alessio respondeu enquanto tentava por o ombro no lugar
-Nunca mais, Greta, nunca mais. - eu disse pra ela
-Nunca mais pro inferno, a matrícula de vocês tá feita aqui e no pilates. Massimo, você me leva?
-Você perdeu o juízo se acha que a gente vai passar por isso de novo. - Alessio variou de Salsicha pra Scooby Doo do quão irritado que ele estava
-Me testa. - e minha irmã entrou no carro, eu gostava mais dela quando ela era uma criança quieta, calma, serena e só respondia o básico, andar com meu primo deixou ela sem educação (Quem eu estava querendo enganar? Massimo era o apogeu da educação humana. Isso era obra do capeta de Nova Iorque. Se eu pego esse moleque eu deito ele no tapa.)

Voltamos pra casa e pela primeira vez o limite de velocidade foi respeitado. O carro de Massimo estava estacionado e ele estava com a cabeça apoiada no ombro da mãe. Minha irmã estava abraçada a cintura de meu pai. Alessio e eu descemos do carro só a derrota, o que não passou despercebido por tio Savio. Todos eles estavam sentados na área da piscina.

-Caralho, vocês apanharam ou o quê?
-Sua sobrinha preferida. - respondi
-Gretinha, quem te viu que te compre, dando uma surra nos meninos grandes. É o orgulho do tio mesmo.
-Antes fosse, tio, eu levei eles pra uma aulinha básica de yoga. - minha irmã respondeu
-Derrotado por yoga, Alessio? Que decadência. - tio Nino apareceu com duas bandejas de alguma coisa que tia Kiara havia feito e em seguida um barulho na estradinha que ligava a casa à casa do tio Fabi soou, ele, tia Leona e a princesa se acomodaram no sofá que tinha.
-Quem te viu que te compre, cheio de marra, lutando na gaiola e foi derrotado por uma aula de yoga? - Aurora se intrometeu
-Faz melhor então, princesa. - Alessio saiu de perto e se juntou a mãe, que deu um beijo na testa dele e o acomodou no colo
-Greta. - Aurora chamou minha irmã e elas fizeram aquelas poses doidas no gramado, e depois uma ponte, viraram a ponte em uma quase cambalhota e eu fiquei lá com cara de trouxa perdendo, novamente, a oportunidade de ficar calado.

Sins of Father - contos Onde histórias criam vida. Descubra agora