CHAPTER 6

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Sarah se arrastou até os dias subsequentes à segunda, mas na sexta acorda indisposta. Um pensamento de assalto a faz lembrar que sexta era o dia das amigas formarem uma lista para tentarem adivinhar quem alcançaria a primeira posição em um famoso programa de clipes.

Ambas trocavam suas listas e acompanhavam em casa para contemplarem o clip de posição um. A vencedora teria que pagar uma pipoca na segunda ou um sorvete do vendedor cantarolante e de ares loucos.

Quando ninguém acertava acumulavam ou uma pipoca ou um sorvete. Houve um dia em especial que Elisa pagara cinco pipocas e cinco sorvetes à Sarah, mas no fim acabaram dividindo todo o prêmio.

Sarah sorri com a lembrança, mas logo um choro sentido a toma. Mônica observa a filha esfregar os olhos tentando não transpor sua tristeza, mas sabe o que era a sexta-feira para as garotas, sabia da ansiedade da filha nas sextas e às vezes na segunda se ganhava e quando não, tentava lucrar mais aos fins de semana para pagar a amiga.

Leva a mão ao ombro de Sarah que procura não encará-la. Talvez cansaço por sinalizar sua amargura constante.

- Quer ficar hoje em casa? Melissa precisa conversar com seu antigo Patrão, se passar no vestibular no ano seguinte como ela disse outro dia, já irá estagiar na empresa.

Sarah limpa as pequenas lágrimas com as costas da mão.

- Que legal. A tia merece. Ela vai ser muito bem-sucedida né mãe?

Mônica sorri simplória.

- A Melissa sempre teve essa chama nos olhos. É a única que eu acredito que irá fazer faculdade na família, claro, fora você. Talvez por ser filha de um pai que também era assim. Sabe. O seu Osvaldo era muito batalhador e bem mais entusiasmado que o papai, aliás, melhor em tudo, até da forma que tratava nossa mãe.

- Mãe. Se sua mãe conseguiu alguém legal, será que você também não...

- Você quer ou não ficar em casa?

Sarah entende que passara dos limites.

- Quero sim e muito.

- Se cuidar bem dos seus irmãos trago pipoca e sorvete.

Mônica pisca para Sarah que compreende a referência. Não percebe, mas a mãe faz o sinal da cruz do alto da cabeça, coração, terminando na lateral do ombro direito enquanto ora.

Começa organizando a mesa da janta que ficara com alguns resquícios de comida. Percebera a mãe especialmente cansada nesses últimos dias.

Desconfia que não apenas trabalhe, mas procura por mais casas para faxinar no pouco tempo livre após as faxinas costumeiras. Sarah sabe que precisa aguentar firme até se formar na oitava série, mas gostaria de trabalhar meio período para ajudar nas despesas.

Enquanto varre o chão da cozinha pensa na última visita de Dona Quênia, a questão da carta não a abandonara durante toda a semana, mas a esperança da pobre senhora a atordoava.

Não parecia preparada para uma má notícia, estava realmente convicta que a filha lhe pregara uma peça, mesmo há mais de um mês de seu desaparecimento.

Naquela época os desaparecimentos eram tratados como coisas de adolescentes.

Alguns de fato voltavam após um tempo reclusos, mas alguns casos permaneciam na escuridão por muitos anos. Talvez Kely se transformasse em apenas mais uma nas estatísticas, mas enquanto sua mãe ali estivesse não seria esquecida.

A morte de Elisa apenas complicara algo que apenas poderia sumir no ar, cair no esquecimento, mas agora seriam duas mortes e com gana e especulações já sabiam que Kely havia tido uma indisposição com Elisa o que serviria de gancho para talvez uma vingança.

A VINGANÇA DE KELYOnde histórias criam vida. Descubra agora