O inverno disfarçado de verão na pequena cidade de Monte Castelo é perturbador.De fato o Outono fora mais fresco que o inverno que se iniciou com um belo sorriso amarelo entre as nuvens. Um clima atípico, mas em breve as blusas e casacos de frio segundo os meteorologistas haveriam de ser retirados de sua tumba.
Os asfaltos repletos de marcas de pneus deixam claro a aspereza de seu solo escaldante. Uma chuva torrencial estava na lista de promessas para essa tarde. Nesse ano o clima estava ímpar ao que se esperava religiosamente nessa época. Há quem afirme que as estações do ano já não são mais as mesmas.
O ano é 1989. No colégio Augusto Breves os estudantes se preparam para a pausa merecida no meio do ano que ocorreria a alguns dias, onde planos de uma vida precisam se encaixar como peças de quebra cabeças em duas irrisórias semanas de não livros e encontros na saída.
Com Elisa não seria diferente. Havia um encontro marcado, mas não apaixonado e sim aterrorizante para uma garota do oitavo ano.
Na saída do colégio sentiu uma mão fria e bronzeada em seu ombro que a faz se voltar em um rodopio ligeiro até o restante da pessoa em questão. A seu lado está Sarah, sua amiga inseparável que assiste a cena apreensiva.
Kely a garota de jeito grosseiro e impulsivo balança os braços, com os pulsos cheios de pulseiras que tilintam enquanto gesticula freneticamente, proferindo ofensas à Elisa que apenas assiste sua afronte, junto aos pais de alunos menores, alguns alunos remanescentes do sétimo e oitavo ano e um pipoqueiro com uma das mãos à testa como um guarda sol improvisado.
- Eu disse que não ia passar e não é de hoje, mas você é teimosa, não ouve né garota? Problema seu porque eu vou te dar um tapa que você não vai esquecer. Vou meter a mão na sua carinha sardenta, sua infeliz.
Apesar das promessas, ninguém imaginava que o feito seria realizado publicamente. Os mais próximos à cena acompanham perplexos o estrondoso tapa que ressoa no rosto de Elisa. A garota se faz de forte, mas não por muito tempo.
Com uma retorcida plena do rosto inicia um choro alto, beirando a infantilidade. Kely ri com gosto. Retira um pirulito de dentro da bolsinha de lápis que estava na bolsa, desenrola a embalagem, a joga no chão impassível, coloca o doce na boca e se retira triunfante.
Sarah se põe a frente de Elisa e lhe segura os ombros, chacoalhando-os como se quisesse acordá-la de um sonho ruim.
- Olha aqui pra mim. Olha pra mim – grita. – Você confia em mim? Confia?
Elisa apenas acena a cabeça positivamente ainda chorando.
- Espera ela se distanciar e me segue.
Sarah é do tipo protetora, mas modesta. O tipo de aluna das boas notas e pouca conversa: a preferida dos professores. Seu rosto às vezes se torna inexpressível sem aviso prévio o que deixa Elisa alguns momentos falando com as paredes.
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A VINGANÇA DE KELY
KorkuSarah e Elisa acreditam que sua vingança após um ato impulsivo de Kely seria apenas mais uma brincadeira sem consequências sérias, mas os acontecimentos posteriores mostram que não foi bem assim e agora Kely está desaparecida... Mas não por muit...