Eu encarava aquele céu, tão fixada na sua beleza, já era de noite e os trovões desenhavam aquela imensidão escura em meio às nuvens, as rajadas dos raios se combinavam perfeitamente com os barulhos daqueles trovões, era alto, tão alto que me arrepiava, minhas mãos continuavam a soar frio. A maldição da ansiedade me fazia criar mentalmente vários cenários que eu poderia vivenciar em Gatlin, eu me sentia irremediavelmente sem graça e isso sempre me pareceu tão ridículo, se rebaixar para exaltar coisas alheias, talvez isso fosse só uma sensação temporária por estar em uma " nova" cidade, não é algo que eu já não esteja familiarizada, pois eu e mamãe havíamos viajado muito por anos até sossegarmos em Londres, porém não pensava outra descrição melhor para mim.
Cruzei meus braços apoiando minha cabeça no canto entre a janela e o banco, Londres era tão linda quanto aquele céu quando fechava em um dia de tempestades, as reuniões com meus amigos no Starsbucks depois de um dia longo de aula, as noites sempre agitadas, a rotina de Londres nunca me entediava.
No dia anterior da minha vinda para cá, me reuni com meus amigos em casa, eu não saía para ir as festas nesses últimos meses, mas eles entendiam o motivo do meu sumiço, então de vez em quando eles vinham me ver, chegavam a cozinhar para mim, acendíamos alguns baseados de maconha e ficávamos em frente à lareira refletindo sobre a vida, eram momentos bons na semana para descansar a mente, naquele último dia em específico, eu acabei entrando em uma crise de existencialismo e enquanto falávamos sobre uma perspectiva do futuro, eu comecei a chorar, foi algo fora de controle, Carter, Eva, Jes e Luck tentavam de toda forma me consolar, até que chegou a um ponto em que todos me acompanharam naquele momento, estávamos chapados em pleno sábado chuvoso na madrugada, abraçados naquele chão gelado, era um momento tão libertador, chegou a um ponto que começamos a rir da situação, mas naquela mesma manhã eu me despedia deles no aeroporto.
- Querida - Minha tia chamou minha atenção, me tirando daquele estado pensativo - Chegamos em casa.
Ela acariciou meu cabelo, enquanto sorria em pura animação por estarmos ali, sorri em resposta a ela, me espreguicei no banco sentindo meu pescoço doer um pouco pela posição nada ergonômica que fiquei naqueles minutos, minha tia já estava estacionando seu Jeep em sua garagem, ela logo desceu do carro após desliga-lo, quando retirei o sinto, sentindo aquele aperto ir embora, e um alívio maior vindo, desci do carro passando meus olhos por toda extensão daquele lugar, não chegava a ser enorme, mas tinha um tamanho considerável, logo de cara percebi a organização super presente, as gavetas e prateleiras todas rotuladas e as bicicletas nas paredes, que de certa forma estavam perfeitamente colocadas naquele lugar, sorri por ver a harmonia que possuía aquele simplório lugar.
Minha tia abriu o porta-malas e dali tirou a minha malinha esverdeada, ela me impediu de pegar-lá enquanto eu insistia que não precisava se incomodar, eu a carregava sem problemas para não fazer algum barulho pela casa, mas ela apenas recusava até que consenti, gargalhei baixo com aquela situação, minha tia se mantinha atenta para eu não pegar aquela mala, a forma que ela pegou a mala em seu colo e a abraçou a protegendo da minha visão foi impagável, percebi que ela era muito criançona quando estávamos nesses momentos descontraídos.
- Você veio tão preparada para vir a Gatlin que dá até uma inveja - Ela me disse em tom irônico indo em direção a porta - Sério sua mala está tão leve, fico pensando o quanto a Amelia a influenciou para ser minimalista como ela - Ela me olhou com carinho por alguns segundos ao mencionar-lá, o jeito como ela falou da mamãe foi como se estivesse se lembrando de bons tempos.
Eu sabia que mamãe era muito organizada nos tempos da juventude, porém durou até nossa saída de Gatlin, que foi quando tudo ficou um pouco instável e ela se desprendeu dessa neura de arrumação, não que nossa casa vivia na bagunça, ao contrário, sempre estava limpa, mas minha mãe não tinha mais o hábito de sair organizando os móveis ou objetos pela casa quase como um hábito rotineiro, ela era tão desprendida das coisas e eu adorava isso nela, o único motivo para minha mala estar apenas preenchida com o básico e apenas o necessário, era porque no fim eu não tinha planos em ficar aqui mais que alguns meses, eu tinha uma vida em outro país e isso pesou muito más escolhas do que era apenas necessário para passar não mais que esses meses aqui.
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Ao Norte
FanfictionAquela garota com o olhar perdido para o céu me fazia ficar eufórico, como pode ela estar tão calma em um momento desses? Ela não havia mudado nada, seus olhos castanhos continuavam imersos em seus pensamentos, eu amava a observar, ficaria horas a o...