III

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Eu amava acordar com o amanhecer do sol, tinha algo único e especial quando a escuridão dava espaço a claridade. Era inverno e apesar de tudo era a minha estação favorita. Penso que mesmo amando demais o sol, o frio era mais aconchegante em muitos aspectos, como quando chego em casa e aquele calor logo esquentava o corpo todo, chocolates quentes, mãos dadas e abraços com antigos romances, cachecol e luvas, sobretudos, coisa que eu amo e estão no meu podia como minhas peças de roupa favoritas.

Apesar de tudo, eu não acordei essa manhã para ver o amanhecer, nem ao menos quis sair da minha cama, estava tão bom, quente, aconchegante e eu estava afundada naquele colchão, era macio e eu estava coberta da cabeça aos pés.

Tirei a minha mão daquele casulo que eu me encontrava. Tentei encontrar meu celular na mesinha ao lado, quando o encontrei levei minha outra mão para puxar o cabo do carregador, assim o retirando, levei meu celular para dentro do meu casulo quentinho, desbloqueei com minha icônica senha de 6 dígitos que basicamente era a data do meu antigo namoro - a curiosidade apenas não a troquei por nenhuma necessidade, era apenas uma série de números, além de tudo foi um dos melhores verões da minha vida - era o que mais significava para mim quando lembrava daqueles momentos.

Quando minha tela inicial se abriu, as notificações chegaram. Era uma chuva delas. Mais do que eu recebia em dias utilizando o Twitter, apertei meus olhos pela claridade da tela, levei minhas mãos e os cocei, fiquei rolando as notificações e a grande maioria havia vindo dos meus colegas de turma e amigos do colégio, algumas do Twitter mas poucas que não eram no geral mensagens de pessoas mandando positividade. Um sentimento tão bom parecia que havia me consumido, eu me sinto realmente amada sobre todas essas mensagens, com tanta saudade deles... Eu sinceramente iria voltar para o colégio, só não estava bem para sentir tantos olhares de pena como eu havia recebido desde que o tratamento de mamãe tinha começado, eram tantos, pessoas as quais nunca haviam me dado um comprimento chegavam e perguntavam se eu estava bem, eu sabia que era apenas para me consolar e eu os recebia com todo carinho, mesmo sabendo que muitos não sabiam nem como um tratamento como aquele destruía uma pessoa, eles me abraçavam, diziam que eu não estava sozinha, pediam se podiam me ajudar nos estudos e trabalhos, não sendo uma aproveitadora insensível mas eu aceitava as aulas de reforço que me davam, a cobertura que me prestavam em trabalhos e provas, em dias que eu tinha que passar noites e manhãs com mamãe, eu chegava no colégio sem nem conseguir me manter acordada ou vezes que eu só pedia para ir ao banheiro para chorar, porém, na semana em que mamãe morreu, eu estava tão indiferente, ela havia morrido em uma segunda chuvosa, eu chorei o dia todo, não conseguia nem ao menos parar para comer, aquilo parecia tão insignificante naquele momento, passei o dia seguinte terminando de arrumar tudo para sua despedida, ela iria ser cremada, era o que sempre quis e me pedia.. Quando fui a aula na quarta, entrei no laboratório de biologia e todos me abraçaram, nas aulas que se seguiram, a semana foi inteiramente comigo sendo o foco, as pessoas me abraçando, me fazendo carinho, me falando sobre pôs vida, sobre caminhos que Deus escreve, sobre o nada que nos aguarda depois da morte, e que ali não era o fim de tudo para mim, e eu ali no automático cagando para um pós morte ou ao nada, com o corpo cansado e o psicológico fodido.

Eu parei depois de duas semanas de frequentar as aulas, e fiquei assim por esses últimos meses.

Passei a mão no meu cabelo, me espreguicei e sai daquele embolado de coberta que eu havia me colocado, nada como uma bela adormecida. Levantei deixando ali na cama meu celular, iria responder todos depois com menos sono e mais disposição, caminhei até a janela para a abrir e me deparei com meu reflexo tão nítido, estava toda descabelada, que era até engraçado, sorri fazendo uma pose ali, gargalhei baixo de mim mesma. Eu amava me ver assim ao acordar, tão crua, cabelo despenteado, roupas amassadas, a melhor forma de mim, abri a janela e puxei mais a cortina para os lados, o dia estava frio, um frio nada insuportável como o de Londres, estava tão agradável, olhei para aquele céu, tempo fechado mas ainda o achava lindo.

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