A psicóloga

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"É isso, sou uma vadia narcisista.", disse, encarando a psicóloga que havia escolhido.

       Desde que Raúl havia lhe proferido estas palavras, Lilia refletia todo o tempo. E se realmente fosse o que ele disse? Vadia narcisista! Vadia! Digna de pena! Narcisista! Egoísta! Na verdade, o que mexeu com ela não foi o impacto das palavras em seu ouvido, mas a involuntária concordância com o que foi dito. Foi pensar que ele poderia ter razão. E ela não queria ser vista assim pelas pessoas nem, principalmente, por ela mesma.

       Em casa, incomodada com toda essa situação, decidiu ligar para sua melhor amiga e lhe contar tudo. Clara lhe aconselhou a buscar ajuda profissional, mas Lilia não pensou que fosse para tanto. Não é que você precise de um psicólogo. Mas um te ajudaria muito. Argumentou sua fiel companheira. Pensando sobre os conselhos da amiga, Lilia buscou na internet algumas indicações e encontrou um consultório perto de sua casa.

       Doutora Susuko ouvia, em silêncio a afirmação direta de Lilia. Eu sou uma vadia narcisista. Embora tivesse anos de profissão, nunca havia encontrado um paciente tão direto até então.

"E por que você chegou a essa conclusão?", perguntou, curiosa.

       Lilia então lhe contou tudo. Falou sobre os amantes. Contou que sempre gostou de seduzir os homens só por elevação de ego. Os olhos puxados da doutora fitavam a mulher, analisando as expressões corporais desta.

"Você sabe o que significa uma pessoa narcisista?"

"Uma pessoa que nutre uma excessiva admiração por si mesma?", Lilia esperava uma confirmação da especialista,

"Exato.", fez uma pausa. "E você acha que é esse tipo de pessoa?"

       A paciente parou para refletir um pouco. Analisou, rapidamente, sua vida desde a adolescência e se deu conta de que não lembrava quando começou a se comportar assim.

"Isso. Isso mesmo. Também sou muito egoísta.", respondeu ela, curiosa para saber como a senhora Susuko lhe ajudaria.

       A doutora estava pensativa. Já havia atendido pessoas narcisistas antes. Geralmente, esses pacientes não admitiam suas próprias falhas e defeitos, ao contrário de Lilia. Não há uma ilusão da parte dela. Ela não se acha mais do que realmente era. Talvez não fosse narcisista. As características apresentadas em sua paciente eram da Síndrome de Afrodite, ou seja, ela fazia de tudo para se sentir desejada, tinha compulsão por seduzir. O tratamento para isso ainda era desconhecido. A psicóloga teria de começar pelo mais provável de se obter sucesso, que era trabalhar o lado egoísta de Lilia.

"Você lembra quando foi a última vez que fez algo por alguém?", Susuko perguntou.

       A outra pensou. Tentava puxar na memória alguma coisa, como ajudar algum idoso a atravessar a rua ou levar as sacolas pesadas de alguém. Nada lhe ocorreu.

"Eu não sei...", pensou um pouco mais "Não me lembro.", admitiu.

       A psicóloga escreveu algo na ficha de Lilia.

"Bom, então eu tenho uma tarefa de casa para você. Daqui a quinze dias você volta e me conta como se saiu.", escreveu um pouco mais enquanto sua paciente assentia. "Nessas duas semanas você vai ajudar uma pessoa. Mas não é somente aquela ajuda rápida, como dar uma informação ou ajudar um idoso a atravessar a rua. Nada disso. Você se aproximará de alguém que precise de algo que você possa dar sem receber nada em troca. Só valerá se você não ganhar nenhum benefício com tal atitude. Ah! E não vale ajudar seus alunos."

"E como eu faço isso?", Lilia perguntou, confusa.

"Você terá de observar a seu redor as necessidades do outro.", orientou a doutora.

Pelos Teus Olhos [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora