Surpresa desagradável

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       As crianças esperavam, pacientes, pela término das aulas. Lilia escrevia algumas palavras no quadro e lhes pedia para repetir.

"Casa...Repitam...Ca-sa."

       Os pequeninos diziam, em um único som, a palavra pedida. Assim que o fizeram, a mulher mudou de palavra.

"E essa, qual é?", apontava para o quadro negro.

       Poucos minutos depois, a aula terminou e Lilia ajudou-os a formar duas filas de meninos e meninas. Segurando as mãos das primeiras duas crianças, levou toda a turma para o pátio. Enquanto seguiam, cantavam uma música infantil. Assim que chegaram, os pais dos pequenos os aguardavam. A professora conferia se os adultos presentes realmente eram os responsáveis dos pequenos.

       Vladmir a observava de longe. Lembrava-se da noite que havia tido com ela e em sua cabeça surgiam planos que gostaria de realizar com Lilia. Não tinha entendido por que ela o havia deixado só, mas isso não tinha muita importância. Assim que todas as crianças foram embora, ele se aproximou da professora.

"Olá, senhorita Martins.", disse, intencionado.

"Oi, diretor Vladmir.", respondeu, um pouco seca. A noite que tiveram não a agradou muito. Ela havia se precipitado e cometido o mesmo erro que com o professor Henrique. Não queria que o sexo se repetisse.

"A senhorita tem compromisso hoje à noite?"

"Sim, tenho.", não deu muitos detalhes.

"Que pena. E amanhã?"

"Amanhã não sei, preciso ver.", respondeu, evasiva.

"Está bem, não vejo a hora de estarmos juntos de novo.", sussurrou.

       Lilia sorriu, sem graça. Havia feito uma péssima escolha em dormir com o diretor da escola em que trabalhava.

***

       Era início da noite. Clara estava sentada no sofá, impaciente. Fazia mais de uma hora que esperava sua amiga se arrumar.

"Anda, Lilia, que demora!", gritou.

"Já vou, só falta uma coisinha.", Lilia respondeu do quarto.

"Aaaargh", a outra bufou.

       Sempre que as duas marcavam de sair acontecia a mesma coisa. Clara cruzou os braços. Que se dane! Tirou os sapatos e deitou no sofá. Vinte minutos mais tarde, a amiga saiu do quarto e encontrou a outra cochilando.

"Levanta, Clara!", cutucou-a, despertando-a.

"Que horas são?", perguntou, assustada.

"Hora de nos divertirmos.", respondeu Lilia.

       Ela estava radiante. Usava um vestido vinho provocante. Seu cabelo fazia ondas degradês que a deixavam, a seu ver, ainda mais sensual. Pensava em pintar de loiro. Enquanto caminhava com sua melhor amiga pelas ruas badaladas do bairro, lembrou-se de Raúl. Estranhava o fato de não sentir saudades. Pensava que talvez tivesse perdido a capacidade de ter sentimentos amorosos. Isso não lhe dava medo. Dava-lhe alívio. Alívio em saber que jamais se envolveria em uma rede emocional infindável, como todas as outras pessoas.

       Ao chegar no barzinho, as duas buscaram uma mesa. Clara, animada, foi pedir algumas bebidas. A confidente de Lilia enfrentava um processo doloroso de separação, passando a sair para se divertir sempre que podia. Seu ex-marido lhe havia traído com uma mulher desconhecida, terminando a relação de cinco anos que tinham.

       Enquanto esperava a amiga, Lilia checava as mensagens do celular. Vladmir, o diretor, desejava-lhe boa noite. Ela revirou os olhos. Seria difícil se livrar dele.

Pelos Teus Olhos [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora