Capitulo 4 - O passar dos minutos

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“Vivemos em dois mundos, o real e o mental, há quem diga que o mental no qual falo é o mundo espiritual, pode até ser. Repita uma mentira várias vezes e ela se tornará verdade, mas quem disse que é mentira? Para você ela é a verdade, sua mente a faz ser verdadeira. Vivemos em dois mundos, um real e um mental, o real funciona totalmente isolado do mental, porém, a realidade é quebrada por nós a partir do momento em que fundimos o mundo real com o mental, feito isso tudo é possível, desde seus sonhos e crenças religiosas mirabolantes até seus pesadelos e medos, fantasmas da mente, mitos e lendas, sua mente fará o favor de materializa-los para você.” – Filipe Soares Luz

Tic-tac, tic-tac, tic-tac.... (o tempo não passa!).

00:06hrs

Tudo que penso é em como aconteceu tanta coisa em apenas 6 minutos, desde o inicio do ritual eu vi vultos, enlouqueci com o tic-tac do relógio, perdi o foco da realidade e me apeguei a loucura desse ritual.

Mesmo perdendo tanto assim para a lógica desde ritual vou me manter firme a minha lógica, a lógica de que toda essa merda não passa de ilusões da minha cabeça, tudo isso é psicológico, tudo isso é mental.

As primeiras 3 horas são para nos prepararmos psicologicamente não? Tudo bem, vou me ater a isso, parece ser algo racional visto que são longas horas sozinho nesse vazio. John disse que se acontece algo eu poderia sair pela porta que eles me esperariam no final do corredor. Meu ego não permitira isso, seria covarde de minha parte, se alguma merda real acontece aqui eu serei a chave para tudo. Merda real? Oque estou dizendo, simplesmente estou começando a acreditar nesse ritual? Devo esvaziar minha mente, não posso ser tão facilmente manipulado por esse mito.

Esvaziar...esvaziar...meditar....

Lembro-me de quando era criança, sempre fui incrédulo quanto as coisas sobrenaturais, apesar de tudo eu fui criado em um lar religioso. As respostas para tudo era orações e suplicas a um deus no qual nunca vi, mas, apesar de tudo, eu me apeguei a isso, tanto que em minhas oras depressivas eu simplesmente chorava e clamava por deus, eu suplicava perdão por algum pecado ou misericórdia para que pudesse sobreviver as minha loucuras, sempre que fazia minha prece eu alivia meu coração e podia sentir que o dito vazio no do meu coração era preenchido por alguma presença divina.

Desde meus sete anos de idade foi assim, sempre vivi crente em deus, minhas preces eram a base de meus feitos, se era bem sucedido foi porque me apeguei  bastante a essas preces. Pensando nisso, parece até ser lógico, porque abandonei minha fé?

Com meus 10 anos eu comecei a indagar sobre a lógica da realidade, sobre o material, sobre como vejo as coisas como interpreto esse mundo. Desde aquela idade eu sentia que o mundo não passa de um interpretação mental, a realidade pode ser diferente para cada tipo de pessoa. Eu indagava sobre minha crença e sobre tudo, imaginava uma explicação para onde deus poderia ter vindo, naquela idade eu imaginava que ele venho de uma arvore eterna, algo do tipo, não entrava na minha cabeça que deus simplesmente existiu, eu entendia que ele venho de algum lugar e para mim era agradável pensar que ele venho de uma arvore de luz, uma arvore que sempre existiu e que não podia deixar de existir. Porque uma arvore? Eu também não sei o porque de eu ter escolhido uma arvore.

Sempre que eu indagava a lógica da realidade eu voava em meus pensamentos, em meu imaginário, eu me perguntava e se toda vez que eu não vejo algo ele deixa de ser real? eu sempre imaginava que toda vez que eu deixava de encarar meus pais eles poderiam se tornar lagartos ou seres estranhos e toda vez que os encarava novamente eles assumiam a aparência dos meus pais novamente. Nisso eu tinha explicação, naquela idade eu já ouvia falar pela internet de repitilianos, seres humanoides com aparência de lagarto, diziam que eram seres que viam a terra e habitavam entre nós, nos manipulando, talvez isso tenha afetado meu inconsciente, talvez isso me fazia imaginar que toda vez que eu perdia meus pais de vista eles se tornavam lagartos.

Aos 12 anos de idade eu e meu amigo sempre pesquisávamos na internet sobre teorias da conspiração, eu me impressionava com tudo aquilo, aquelas ideias de que o mundo poderia não ser o que realmente imaginávamos me enlouquecia, sempre chorava e me encontrava aflito ao tentar descobrir a origem de tudo ou da realidade, pensar em como tudo poderia ter sido um vazio me fazia imaginar que eu não existia, isso me dava ataques depressivos, angustia e crise de choro, frequentemente meus pais me acudiam e pediam para que eu parasse de pensar nisso, a resposta era a mesma de sempre, oração.

Eu imaginava, a realidade pode ser tudo e nada, ela pode ser essa ou pode ser outra, a realidade está dentro da minha mente. Na verdade não há como afirmar se o que vivo é o real ou deveria ser, eu poderia muito bem ser um experimento alienígena vivendo uma realidade virtual, poderia estar vivendo num mundo preso a uma ilusão, estaria eu vivendo em uma matrix? Todas essas perguntas eram formuladas a partir de minhas pesquisas sobre terias da conspiração.

Isso tudo poderia ser algo vindo do imaginário das pessoas, até mesmo esse ritual no qual estou fazendo pode ser algo criado mentalmente, essa realidade pode ser imaginada ou simplesmente abstrata. Imagino que eu possa sair tranquilo daqui, tudo que acontecer aqui vai depender de mim.

Olho o relógio e noto que minhas longa atividade mental teve efeito, já são 00:34, o tempo não passa para os que não tem nada para fazer, mas eu tinha o que fazer, dentro da minha mente.

Essa longa atividade metal fez o tempo passar mais rápido, talvez essa seja a solução para mim passar ileso por essa experiência. Talvez esse seja um momento perfeito para eu repensar minha vida, voltar no tempo e aprender tudo novamente.

Tic-tac, o tempo não para, sinto o calor da vela, essa é minha única fonte de calor nessa fria e gélida prisão, deveria eu ter trazido um casaco.

Começo a lembrar das fotos tiradas dos pacientes trazidos do ritual, cortes, tripas, sangue, será que tudo isso não foi montagem, eu estou indo bem no meio dessa loucura. Apesar de que, se passou somente 34 minutos, muita coisa pode acontecer.

Minha visão começa a embasar, a escuridão volta a consumir a luz da vela, diversas formas surgem diante de mim, todo tipo de forma bizarra, lembro do livro, “as primeiras 3 horas são para você se preparar psicologicamente”, sim, não deve acontecer nada agora, minha visão só não se acostumou com a luz fraca da vela.

Com o passar do tempo, tento fazer uma pratica que sempre zombava, tentei meditar. Busquei esvaziar minha mente. Talvez isso seja o mais racional a se fazer nesse longo dia.

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