— Esse cachorro é uma vergonha absoluta — disse Chris, e eu compreendi que certas coisas nunca mudariam. Apenas sumiriam e voltariam.
Após todo o episódio do ponto de ônibus, cheguei em casa e, depois do jantar, Chris e eu fomos levar Miffy, o cachorro nanico do nosso vizinho, para seu passeio costumeiro. Como sempre, vestíamos os capuzes para que ninguém nos reconhecesse, porque, nas palavras do Chris, a visão do Miffy era um desastre completo.
— Quando o Keith arrumar outro cachorro — sugeriu ele —, vamos pedir para arranjar um rottweiler. Ou um dobermann. Ou, no mínimo, alguma coisa com que se possa ser visto em público.
Paramos em um cruzamento.
Chris se inclinou para Miffy e, em um tom superamistoso, disse:
— Você é um cretininho horroroso, Miffy, não é? Não é? É, sim. Você sabe que é.
O cachorro lambeu os beiços e arfou, todo contente. Não tinha a menor ideia de que Chris o estava sacaneando. Nós três atravessamos a rua.
Meus pés se arrastaram. Os do Chris passeavam.
Miffy andava aos pinotes, e a guia tilintava junto dele, no compasso da sua respiração.
Olhando-o, percebi que ele tinha o corpo de um roedor e a pelagem de alguma coisa que só poderia se chamar de espantoso. Como se tivesse girado mil vezes em uma secadora de roupas. O problema é que adorávamos aquele cachorro, apesar de tudo. Na mesma noite, ao chegarmos em casa, eu lhe dei o pedaço de bife que a Taylor não conseguira terminar na janta. Infelizmente, estava meio duro para os dentes fraquinhos do Miffy, e por pouco ele não engasgou.
— Mas que diabo, Lauren. — Meu irmão riu. — O que está tentando fazer com o pobre cretininho? Ele está entalado.
— Pensei que não teria problema.
— Não teria problema o cacete. Olhe para ele — disse Chris, apontando. — Olhe só para ele!
— O que devo fazer? — perguntei.
Chris teve uma ideia:
— Talvez você deva tirar a carne da boca dele, mastigar um pouco e depois dar a carne a ele.
— O quê? — Olhei para Chris. — Você quer que eu ponha aquilo na boca?
— Isso mesmo.
— Talvez você deva fazer isso.
— De jeito nenhum.
Aí basicamente deixamos o Miffy se engasgar um pouquinho. No final, não pareceu mesmo tão grave assim.
— Vai fortalecer o caráter dele — sugeriu Chris. — Nada como uma boa engasgada para incentivar um cachorro.
Nós dois observamos com atenção enquanto Miffy ia enfim terminando de comer a carne.
Quando ele acabou e tivemos certeza de que não ia morrer sufocado, fomos levá-lo em casa.
— A gente devia era jogá-lo por cima da cerca — disse Chris, mas nós dois sabíamos que nunca faríamos uma coisa dessas.
Há uma grande diferença entre ver um cachorro meio sufocar e atirá-lo por cima do muro. E, depois, o nosso vizinho Keith não ficaria nada satisfeito conosco. Keith sabia ser meio desagradável, especialmente quando se tratava daquele cachorro. Ninguém imaginaria que um homem tão durão tivesse um tipo de cachorro tão fofinho, mas tenho certeza de que provavelmente ele colocava a culpa na mulher.
“É o cachorro da patroa”, imagino Keith dizendo à rapaziada do pub. “Minha sorte é ter aquela garota e aquele garoto com titica na cabeça, na casa do lado, que levam o bicho para passear. A mãe deles os obriga.” O Keith, ele podia ser durão, mas era legal mesmo assim.
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A garota que eu quero(camren g!p)
FanfictionO Chris nunca amou nenhuma delas. Nunca se importou com elas. Nem é preciso dizer que Chris e eu não somos muito parecidos em matéria de mulher. Lauren Jauregui é a caçula de três irmãos, e a mais quieta da família. Não é nada parecida com Stefe, o...