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As sombras transformaram-se em seres humanos e havia três deles caminhando na nossa direção. Estavam de jaquetas e caras fechadas.

— Então, você é o Chris? — perguntou o do meio, o maior.

Tinha a voz límpida e violenta e cuspiu na direção dos nossos pés, quase sorrindo ao ver a cusparada não nos atingir por um triz. Chris deu um passo à frente.

— Sim. Sou eu.

— Dizem que você é bom de briga, mas não está me parecendo essa maravilha toda.

— Bem, é uma questão de opinião, não é? — retrucou Chris, em tom amável. — E depois, ainda não fizemos nada. Você pode decidir quando a gente tiver terminado.

— Tudo bem.

O sujeito começou a dizer mais alguma coisa, só que era tarde demais.

Chris o segurou pelo pescoço e o jogou na cerca de arame, em seguida o acertou com uma saraivada de socos que cortou o sujeito na mesma hora. Ele tentou se esquivar das mãos do meu irmão, mas Chris era rápido demais e sempre acertava o alvo. O sangue espirrou no chão e os dois caras que tinham ido para dar apoio moral começaram a ficar nervosos. Até Chris notou e, entre um murro e outro, encarou-os calmamente e disse:

— Nem pensem nisso.

Foi aí que errou o primeiro soco, e o outro cara conseguiu se esquivar, agarrando-se à cerca para se levantar.

Chris poderia ter ido atrás dele, mas preferiu parar a alguns passos de distância e fazer algumas perguntas. Eu o vira agir assim uma centena de vezes. Para ele, estava dando ao adversário uma chance de fugir, antes que a coisa ficasse violenta demais. Uns aproveitavam. Outros não.

— E qual é o seu nome, afinal? — perguntou.

— Jarrod.

A resposta escorreu da boca do sujeito junto com o sangue.

— Bem, Jarrod, você não está me parecendo nada bem. Já apanhou o bastante?

Infelizmente para Jarrod, a resposta era não, e, quando ele se levantou e partiu para cima do Chris, foi quase assustador ver a velocidade com que meu irmão acertou-lhe as costelas e socou a cara do sujeito mais uma vez. O som do Jarrod batendo na cerca lembrava um chocalho, enquanto os trens quebrados pareciam olhar desamparados do outro lado.

Paft. Pausa. Paft.

O sangue continuava a pingar lentamente no chão, só que dessa vez Jarrod foi caindo junto. Tinha sangue no cabelo, nas mãos e na roupa. A certa altura, achei que ia se afogar nele.

O único problema da história foi este:

Não era real.

Não era real porque Chris e eu ficamos esperando no antigo pátio da ferrovia e o cara não apareceu. As sombras que vimos no beco viraram para outra ruela, deixando-nos sozinhos no fim da rua.

— Ele está atrasado.

Foram as primeiras palavras do Chris, minutos depois das oito. Às oito e meia, ele estava irritado, e às quinze para as nove, prestes a enfiar o punho na cerca.

Foi então que vi a luta imaginária. Foi uma cena bem típica do Chris. Admito que era incomum ele entrar na briga tão cedo. Na maioria das ocasiões, o outro sujeito tentava surpreendê-lo, mas o Chris sempre era rápido demais. Por isso, dessa vez, para variar, eu o imaginei sendo a pessoa que tomava a iniciativa. Se um dia isso acontecesse, a luta acabaria antes mesmo de começar. Chris era ótimo em brigas, por muitas razões. Não hesitava, não tinha medo de se machucar, adorava vencer e tinha um timing fantástico. Mesmo quando não batia com força, doía, porque ele escolhia o momento perfeito e acertava exatamente onde pretendia.

A garota que eu quero(camren g!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora