Capítulo 1

242 24 70
                                    

LORENZO VICENZO D'ÁVILA

Eu acordei antes do sol nascer. De novo.

Minha mente conflituosa encara meu reflexo sério no espelho esperando que uma solução caia do céu para meus pesadelos recorrentes. A aparência cavernosa que o quarto cinza escuro e preto exibe àquela luz me traz paz e, aos poucos, minha respiração desacelera. Minha noite já está perdida mesmo.

Em um recorde, dormi por cinco horas ininterruptas.

Deslizo para fora da cama forrada com lençóis de seda negros e sigo para o banho. Encarar meu reflexo é uma maneira de me acalmar dos pesadelos absurdos que povoam meu inconsciente desde os meus 9 anos. Mesmo vinte e dois anos depois, ainda é delicado pensar nessa situação e as diversas cicatrizes espalhadas no meu dorso de alguma forma me lembram que eu fui forte para sobreviver nas três vezes e estava ali para continuar contando minha história. E se isso não fosse bastante, bastava passar a mão na minha nuca.

Roma está um verdadeiro iglu e preciso colocar meu chuveiro na temperatura mais quente possível para espantar os últimos calafrios que teimam em correr pelo meu corpo. Inevitavelmente, graças ao recente pesadelo, penso em quanto tem faz que não divido a cama com uma mulher. Dois anos? Talvez mais. Quem vê o tipo de piadinha que eu faço com Daniel não faz ideia de que eu quase nunca transo.

Pensar no meu primo me lembra que preciso finalizar minhas malas e preparar meu notebook, IPad e Kindle para a viagem que precisarei fazer em dois dias. Cruzar o mundo pelo menos varias vezes para ver aquele retardado e minha única sobrinha dá ânimo e colori minha vida. Mesmo que eu não tenha voltando a ver ela.

A lembrança dos belíssimos cabelos ruivos ainda está bem viva na minha memória.

Desliguei o chuveiro, encerrando o banho e busquei um secador, ou Genevieve engoliria meu fígado. Minha irmã, a única mulher na minha geração D'Ávila, era a única mulher, além de Thaline D'Ávila, que me fazia comer direitinho na palma da mão dela.

E, bem, tinha Marco na equação também, porque eu moveria o mundo para fazer meu sobrinho feliz. Marco era realmente uma verdadeira motivação para continuar vivendo porque eu jurei proteger aquele menino desde que o segurei pela primeira vez em meus braços depois da minha irmã dar à luz a ele.

Minha mãe, Genevieve, Dante — meu irmão — e o pirralho eram as únicas pessoas que já tinha pisado na minha casa. Ou batcaverna, como Marco gostava de chamar. Nem mesmo Carina, mia sorella do coração, mais conhecida como dona de Dante, tinha tido o desprazer de pisar no meu apartamento simplório.

Daniel parece ter liberado algum tipo de maldição em cima dos D'Ávila porque foi só ele aparecer com a namorada a tiracolo e todo mundo da famiglia encontrou o amor. O nível de praga é tão grande que Phelippo achou a dita cuja no aeroporto. NO AEROPORTO DEPOIS DE VIAJARMOS DE VOLTA DO CANADÁ!

Giovanni e Dante foram os seguintes, sobrando só eu e o pobre Pietro para ter os ouvidos alugados com papos de como nossas mammas já estão ficando velhas e precisam ver seus filhos casados e estabelecidos com boas moglies. A questão é que quando se trabalha umas boas 16 horas por dia, não sobra muito tempo para relacionamentos. Nem sei como eu arrumo tempo para fazer faxina na minha casa e manter todos os meus filhos limpos e bem-cuidados.

Contra todas as indicações da minha família, eu moro sozinho, sem contato com vizinhos, sem empregadas, sem seguranças. Minha mãe morre de medo de que algo aconteça comigo e eu não tenha ninguém a quem recorrer, mas eu gosto de estar sozinho. Comprei o imóvel na planta e quem fez toda a mobilização foi Phelippo, ele é um excelente arquiteto. Gosto do meu silêncio, de poder lidar sozinho com os demônios que a vida trouxe para mim.

Uma razão para amar - Os D'Ávila 2Onde histórias criam vida. Descubra agora