Eu tive que arranjar um novo lugar para morar quando tomei o maior pé na bunda do século.
Encaro Vancouver se estendendo abaixo da minha janela no penúltimo andar de um prédio em Yaletown enquanto divago sobre minha existência miseráveis. Eu perdi o amor da minha vida para uma garota. Ela teve seu clichê, e nele eu sou a vilã.
Beberico meu café. O vapor embaça meus óculos, mas é uma coisa com a qual eu já sou habituada. Como modelo, passo a maior parte do tempo com lentes de contato, mas em casa eu sou adepta dos meus bons e velhos óculos, com a mesma armação desde que eu tinha 16 anos. Ou melhor dizendo, quase a mesma. Thaline a quebrou quando tinha 2 anos. Arremessou no chão e pisou em cima. Eu realmente amo minha afilhada, mas aos dois anos, ela era uma peste.
Jensen não gostava de Thaline. Na verdade, meu ex-noivo sempre detestou crianças, tinha aversão completa a ideia de ser pai. Talvez fosse por isso que ele tenha surtado tanto quando eu engravidei, mas a culpa não foi só minha. Eu não tinha feito a criança sozinha, muito menos queria usá-la como trunfo depois do meu relacionamento ter ido por água abaixo por causa da secretariazinha mequetrefe. Por Deus! Era meu filho! Meu filho com o homem que eu amava mais que a mim!
Jensen controlava completamente a minha vida, de um jeito que eu sequer conseguiu perceber. Daniel tentou me alertar. Erik tentou me proteger, e o que eu fiz? Ignorei propostas de trabalho como nunca fiz, apenas porque Jensen não gostava que eu, uma modelo, me expusesse demais, fui humilhada para o mundo inteiro assistir e agora sou uma louca amargura.
Mas é claro que a vilã sou eu, não é? Eu que não fui com a cara da secretaria amável e adorável, aquela que todo mundo ama, menos a modelo vadia insuportável que ninguém gosta. A coisa grudenta que está com o CEO magnata. A culpa nunca é da secretaria adorável que se meteu no meio do noivado do CEO. Já li livros demais para saber que eu sou a vilã da história, ninguém se importa com o que acontece com a rechaçada.
Eles sempre dizem que deixavam claro o tipo de relacionamento que tinham com a dita modelo, mas será que deixavam mesmo? Porque eu tenho memórias bem vividas do dia que Jensen me pediu em casamento no meio de um passeio em Amsterdã.
Minha vontade é jogar minha xícara na parede, sentir a raiva condensada se espatifar junto com a porcelana frágil, mas não é isso que eu faço. Meu pai está a um triz de me enfiar em uma consulta com um psicólogo, com total razão aliás, mas não é isso que eu quero. Mesmo que meu melhor amigo seja um.
Volto a minha rotina de todas as manhãs.
Depois que terminei com Jensen, meu número de seguidores teve uma queda substancial, mas aos poucos eu estava me recuperando. Trabalhos também ficaram um pouco mais escasso, principalmente porque era meu noivo que cuidava da minha carreira. Porém, eu sou uma Izegora e sempre vou me levantar.
Gravo os primeiros stories da manhã falando sobre meus compromissos e próximos projetos. Com a chegada do fim do ano, acabei com várias campanhas de natal e ano novo nas costas, então, precisava correr para colocar em dia tudo que eu precisava fazer. As festas de fim de ano coincidiam com o aniversário de Daniel e eu já faltei o do ano anterior, não podia vacilar de novo.
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Uma razão para amar - Os D'Ávila 2
Romance*Para melhor entendimento, leia Alguém para amar.* EM BREVE Lorenzo D'Ávila jurou se manter solteiro eternamente, contrariando todas as expectativas que sua família tinha sobre ele. A aparência relaxada e o sorriso bem-humorado escondem bem mais qu...