Não tenho a menor ideia de como será minha primeira viagem para o exterior, e eu estou um tanto nervoso com isso. O meu pequeno coração não para quieto no peito. Ele está batendo muito mais rápido do que o normal. Quando eu soube que a minha faculdade de Design de Interiores estava ofertando dez bolsas de intercâmbio para cinco destinos (EUA, Espanha, Alemanha, Tailândia e Coreia do Sul), não perdi tempo e me inscrevi. Para conseguir a bolsa, fiz uma das provas mais difíceis da minha vida. Quando eu fiz minha inscrição, eu tinha um objetivo em mente: conseguir a bolsa de intercâmbio nos EUA, um dos destinos mais disputados pelos participantes. Eu queria muito ir para lá, conhecer todos aqueles cenários que aparecem nos cinemas, curtir o inverno novaiorquino.
Mas o destino nos prega peças e nos pega de surpresa. E foi exatamente isso que aconteceu comigo. Embora eu tenha ganhado a bolsa, eu não fui tão bem na prova e acabei em décimo lugar, longe da possibilidade de ganhar a bolsa para ir aos EUA. Fiquei um pouco chateado quando vi que a bolsa com destino a Tailândia foi a única que me restou. Agora estou aqui no aeroporto esperando o meu voo com destino para Bangkok ser chamado. E, falando sério, como eu posso ir para um país que nada tem a ver comigo e que pouco conheço? Passei algumas noites em claro pesquisando por informações de viajantes sobre aquele país asiático, vulgo A Terra do Sorriso. Provavelmente terei um choque cultural assim que meu avião pousar na Tailândia.
"Vamos Kulap, você precisa relaxar, está muito tenso." Mamãe me tira do transe massageando a minha testa com seus polegares.
"Sua mãe está certa, filho. Você precisa relaxar, são apenas seis meses. Logo, logo, você estará de volta, e com uma bagagem cheia de conteúdos e experiências."
"Mas não era para a Tailândia que eu queria ir." Como eu estava prestes a choramingar, abracei meu pai para evitar isso. Ele ri do meu comportamento e retribui o abraço.
"Deixa de ser manhoso, Kulap. São apenas seis meses."
"182 dias mãe, eu contei."
Mamãe olha para o papai e balança a cabeça, rindo.
"Esse meu filho." Papai bagunça meu cabelo, também rindo.
"Escuta Kulap, quando chegar lá, não dê trabalho para a sua tia. Mesmo que você não more com ela nesse tempo, ela te ajudará no que você precisar. Entendeu?"
"Por que a senhora fala comigo como se eu fosse criança?"
Ela suspira e continua:
"Você entendeu, ou não?"
Reviro os olhos e concordo:
"Sim, mãe. Eu entendi."
"Olha meu amor, você não estará sozinho lá. Você terá a sua tia e seus primos contigo."
Mamãe tem razão. Eu não estarei sozinho naquela desconhecida Terra do Sorriso. A tia Paula é um amor em pessoa, ela é brasileira e sem descendência asiática, como todos nós da família Ribeiro. Ela se casou com um tailandês que conheceu numa expedição turística em Foz do Iguaçu, e foi morar com ele em Bangkok, onde tiveram dois filhos.
"É agora meu amor, seu voo acaba de ser chamado." Novamente eu sou tirado de meus devaneios por minha mãe. "A mamãe te ama, seu pai e seu irmão também." Ela me abraça, com os olhos já lacrimejando.
"Vai dar tudo certo, meu garoto." Papai se junta ao abraço.
"Eu amo vocês também."
"Ok, agora se apresse. Você não pode perder esse voo." Mamãe seca seu rosto e me entrega minha mochila.
Terminei de me despedir deles e caminhei para o portão de embarque.
E aqui começa a minha jornada de seis meses na Tailândia.
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Juntos Por Um Tempo
RomansaKulap Ribeiro é um estudante brasileiro sem ascendência asiática. Após fazer uma prova difícil concorrendo a bolsas de intercâmbio, com destino a cinco países de culturas diferentes. Ele acaba passando, só que em último lugar, garantindo uma bolsa n...