43 - Eloah Calvazzara

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Ouvi o barulho vindo do escritório e engoli em seco.

Eu poderia ir lá, falar com ele, pedir que conversasse comigo, mas eu sabia. Ah, como eu sabia o que era aquele sentimento de raiva. Ele não precisava de mim naquele momento, ele precisava sentir que era livre para extravasar a raiva.

Deixei meu café da manhã sem terminar e me dediquei às aulas de luta e tiro.

Aquele sentimento de impotência quase me abraçava e eu sentia que o melhor a se fazer era chutar e bater nas coisas.

Almocei com um Ângelo calado e o mesmo aconteceu na janta. Ele estava tentando digerir as coisas e eu por fim, parei de perguntar se estava tudo bem. Por que eu já não me sentia bem para conversar sem estourar. Por fim, fomos para a cama e fizemos amor, gostoso e lento.

Ângelo parecia mais relaxado em meus braços. E ele adormeceu me fazendo carinho como sempre. Não demorou muito eu também acabei dormindo.

Dirigi-me para o quarto do Genaro, levando a janta dele.

Quando entrei ele não estava na cama. Deixei a bandeja sobre a mesa de trabalho dele e fui até o banheiro, a porta estava aberta.

Ele jogava todo o conteúdo dos remédios dele na pia e eu o olhei horrorizada e peguei o frasco já vazio das mãos dele.

— Por que está fazendo isso? Enlouqueceu?

— Não preciso mais tomar esses remédios, estão prolongando a minha vida, apenas isso, mas não estão fazendo nada para que eu possa sair deste quarto. Minha casa e você estão desprotegidos...

— Do que está falando, você tem um exército de seguranças nessa casa!

— O líder está morrendo, filha! E quando o líder mal puder dar as ordens... Não posso deixar que isso te afete, preciso de alguém saudável e forte para cuidar de tudo. Para cuidar de você.

— E quem seria esse alguém?

— Alguém que só vai pisar aqui quando eu estiver morto. — Genaro andou mancando para o quarto eu o segui.

— Não vou permitir que faça isso!

— Não devia ter visto isso! Não era para saber! Mas agora que sabe, vai aceitar sim, é a minha vontade e quanto a isso não abro mão, Eloah!

— Você quer eu deixe cometer suicídio? — As lágrimas desceram furiosas — Não pode me pedir para aceitar isso!

— Preciso que aceite minha vontade! Que a sua segurança está em jogo! Quer continuar sendo livre? E tendo a vida boa que tem?

— Não sem você!

— Sobreviveu muito bem sem mim por muito tempo!

— Por favor, não me peça para permitir isso, Genaro! Eu não quero ficar sozinha, ninguém aqui gosta de mim!

— Você vai ficar bem, filha! Eu cuidei de tudo!

— Você vai morrer rápido sem os remédios!

— Sim, mais rápido do que meus inimigos imaginam e desta forma, consigo te proteger.

— Genaro...

— Nada disso, Eloah! Se tentar burlar minha vontade. Irei embora para morrer longe de você! Eu não quero fazer isso sozinho, então, a única coisa que te peço é que aceite.

Coloquei as mãos no rosto e chorei. Ele veio até mim e me abraçou.

— Não faz isso, por favor!

Ele não disse nada, só me abraçou.

Acordei com o rosto molhado e lembrando daquele momento.

Levantei e fui até o banheiro. Deixei-me cair no chão soluçando. Puxei os cabelos para aliviar a raiva.

Vinho e confusões COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora