20 - Eloah Calvazzara

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Eu estava envergonhada por ter feito todas aquelas coisas na frente de Ângelo, mas a maquiagem que eu estava disfarçava qualquer ansiedade que eu pudesse demonstrar. O pior foi cantar o pedido da Poliana, aquilo mexeu comigo. Pelo fato dela estar se isolando.

Eu nunca perguntei a Clara o histórico dela, mas acho que não fazia isso, por que sentia, que não era algo fácil de digerir.

Quando sai do banho, vesti minha roupa e fui até o Ângelo, não resisti e deixei um beijo em seu lábio. Ele sorriu e apoiou a mão em minha cintura.

— Eu gostaria de levar a Poliana para um passeio, tem um parque na cidade, eu acho que... Ajudaria! – apertei os lábios querendo o apoio dele. — Preciso pedir autorização a madre! Volto num minuto, mas vá andar por aí, a Clara vai arrancar suas bolas se te encontrar aqui no quarto dela.

Ângelo riu e concordou indo comigo para fora do quarto.

Respirei fundo e soltei a mão dele quando chegamos numa parte do jardim. Ele ficou ali me esperando sentado em um banco.

Fui até a diretoria e bati na porta levemente. Uma voz suave chegou até mim. Era a voz da Madre Cristina. Entrei e a encarei com um sorriso a mulher idosa sentada. Que quando ergueu o olhar se levantou saudosa. Eu tinha vindo algumas vezes com o Genaro e eles o respeitavam muito.

— Por favor, sente-se! – Sorri.

— Sinto muito por sua perda, menina! – Sorri triste.

— Obrigada, Madre!

— A que devo a sua visita? – ela quis saber, gentil.

— Eu – Mordi os lábios e sorri sem graça. – Das últimas vezes que vim com Genaro. – Estava me sentindo mal por mentir. – Eu e Genaro conversamos algumas vezes com uma garotinha, o nome dela é Poliana. – A Madre franziu a testa.

— Ela tem dado bastante trabalho ultimamente. Tentou fugir duas vezes essa semana. – Assenti alegando que sabia do acontecido.

— Eu não sei se conhece algo sobre mim, se Genaro algum dia contou...

— Sim, menina, sei muita coisa sobre você, a quem acha que Genaro recorria quando não sabia o que fazer com você! Infelizmente não temos todas as respostas, mas ajudamos como podemos. – Sorri sem graça.

— Eu agradeço, por tê-lo ajudado, eu não sabia! – Ela sorriu colocando a mão apoiada na mesa.

— Eu criei certa afeição por ela, e saber dessas coisas. Me deixou com vontade de ajudar. Por experiência própria, sei que se ela quer fugir, é por que se sente sufocada. Achando que esse lugar não a pertence. Eu queria... Levá-la para passear. Para ver algo além desses muros, talvez, conversar um pouco. – Engoli em seco e mexi nas mãos, nervosa. A Madre me olhou um pouco sentida.

— Sinto muito, menina. Mas creio que isso não será possível. Não depois das tentativas dela de fugir. Você não tem experiência alguma com crianças. Apesar da carga que carrega sobre o que ela passa. Perder Poliana para o mundo, caso você não conseguisse cuidar dela, seria lastimável.

— Eu sei, Madre. Sei dos riscos, mas eu vi vocês tentarem o que podiam, e não está dando certo. Por que não me deixa tentar algo diferente, não só com ela, mas com as outras que tenham essa dificuldade também. Eu posso ir com meus seguranças, eles são muito atentos, ela não vai fugir, eu prometo!

A Madre suspirou e me encarou hesitante.

— Esse pedido requer resposta imediata? Gostaria de pensar um pouco, conversar com o padre.

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