16 - Eloah Calvazzara

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Estava de noite e eu não insisti para ir de moto. Mas pedi que me deixasse dirigir.

Ângelo não discutiu, assim ficamos em um silêncio confortável por todo o caminho. Quando chegamos próximo ao local que eu queria mostrar, eu disse que teríamos que fazer o resto do caminho a pé.

Ângelo, eu percebi, ficou nervoso com o quanto parecia escuro, saquei a lanterna e iluminei o caminho, eu não tinha medo do escuro. Essa era uma coisa que eu aprendi a gostar na vida. E não a temer. Ele agarrou minha mão e colocou a mão na cintura. Provavelmente uma arma descansava ali. Eu não me importava com isso também.

Andamos por uns dez minutos mata adentro.

A terra estava seca pelo calor dos últimos dias e de vez em quando nossos pés faziam barulhos altos pelo caminho.

Eu não me importava. Não havia nada que pudesse nos ferir nesta floresta, Genaro sempre dizia isso. Ele me garantiu que eu poderia vir aqui sempre que quisesse.

Avistei a cabana, mas não segui para ela. Dobrei para a esquerda e subi uma pequena colina.

Quando avistei os três túmulos, parei.

Contemplei os três nomes.

Paola, Giovanna, Marcus. Barone era o sobrenome dos três.

Ângelo me olhou sem entender então eu expliquei.

— Eu tinha muitos pesadelos quando vim morar aqui! Genaro considerou fazer tratamentos, me mandar estudar longe para que eu pudesse respirar novos ares. Até que eu me abri com ele e disse com o que sonhava. — Engoli em seco. — Eu sonhava com ela — Apontei o túmulo da minha mãe! Paola limpei as folhas de cima do nome dela. — Eu sonhava com seus olhos abertos, que eu não fechei, e, depois, fui embora. Eu nunca consegui deixar a culpa de lado. Então o Genaro a achou, e... Eu consegui voltar a dormir. Por um tempo...

Ângelo estava prestando atenção, muito envolvido com a história para falar qualquer coisa. Então continuei.

— Quando eu fiz dezessete anos. Uma coisa aconteceu. Meu pai, o verdadeiro, apareceu me reivindicando, ou melhor, pedindo dinheiro ao Genaro, como se eu fosse uma mercadoria, que estivesse à venda. Não sei como ele me achou, não sei se o Genaro sabia como ele conseguiu, mas ele estava lá, dizendo que me amava e que queria que eu fosse com ele. Eu queria ir, claro, era meu pai. Genaro não permitiu. E claro, que ele deu dinheiro para ele. Mas meu pai não parou por aí, ele vivia voltando, me magoando, e sumindo novamente quando o Genaro dava o que ele queria. Mas deve conhecer seu pai ao menos um pouco, para saber que ele não cedeu a chantagem por muito tempo, então. Meu pai tentou me levar. Genaro ficou desesperado. Ele sabia que meu pai não era confiável, eu estava perto de completar dezoito anos. Ele sabia que um processo de adoção levaria o tempo de eu completar maior idade. E das duas uma, ou justiça deixaria que eu ficasse com meu verdadeiro, principalmente se eu quisesse, ou ficaria no sistema. Então. Meu pai sumiu.

Ângelo arregalou os olhos e eu apontei para o túmulo do meu pai.

— Eu sofri mais uma vez, mas Genaro me consolava dizendo que era a última vez, que passaria e tudo mais. Então eu fiz dezoito anos e cismei de procurar meu pai. Genaro vivia nervoso, com um peso nos olhos, nos ombros. Então ele me trouxe aqui de novo.

Desta vez apontei para o Túmulo da Giovanna.

— Ele já tinha me feito mudar o nome um ano antes. Mas foi quando meu pai sumiu que ele enterrou aquele nome e aquela família para sempre. — Ângelo piscava sem acreditar. — Ele disse que era para eu esquecer o meu passado, ele estava morto e enterrado, todos eles. — Tentei apagar as lembranças daqueles dias balançando a cabeça. — Passei um bom tempo com raiva dele, como você. Mas conforme eu fui amadurecendo, eu vi, de verdade o mal que meu pai estava me fazendo, não queria que Genaro tivesse feito isso. Não queria que ele estivesse tão desesperado pra me proteger que chegou a isso, mas... Desde que ele tentou voltar pra minha vida, ao estar morto eu... Estava bem. Eu o perdoei, demorou, mas no fim, sempre que eu olhava para os lados, ele estava lá, me esperando perdoá-lo, dizendo que faria de novo, só para nunca mais me ver chorar e que algumas pessoas, sejam elas importantes ou não para mim, não mereciam a dádiva de viver.

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