Eu sempre gostei de ficar na janela olhando a Lua. Minha mãe me ensinou desde pequena que a Lua é o lugar mais incrível e sombrio do nosso sistema solar.
Nunca entendi o real motivo pelo qual ela havia me chamado de Luna, não sabia se era porque eu sou sombria ou se porque já sabia, que eu teria mais fases que a Lua.
Devo ter perdido a noção do tempo, pois o céu já estava clareando quando eu finalmente terminei de ler meu livro. A Lua na noite passada estava incrivelmente linda, o que me deu mais vontade ainda de ler. Era um dos meus livros preferidos, O Inferno de Gabriel. Eu devo ter lido ele pelo menos sete vezes, mas todas as vezes era como se fosse a primeira.
Como um coração pode sangrar por tanto tempo e continuar batendo?
Todas as vezes, eu me fazia a mesma pergunta. Guardei o livro, fiz um café e me sentei para ver o nascer do sol. Ia ser um dia lindo, e eu decidi ser grata por ele. Por estar viva, por ter sobrevivido e por ser forte mais um dia.
Esperei dar a hora e fui me preparar para mais um dia de trabalho. Me arrumei e saí. O dia realmente estava lindo e eu sorri.
Peguei o ônibus lotado, como sempre. Mas isso não me afetou, eu sabia que no final, valeria a pena.
O dia foi corrido e chato como sempre, eu precisava de um trabalho em que eu fizesse coisas diferentes, fazer sempre a mesma coisa irrita. Mas decidi mais uma vez, ser grata.
No fim do dia, marquei de ir ao cinema com um amigo, estava precisando mesmo mudar um pouco meu dia.
O filme foi incrível, era uma das minhas histórias preferidas. Particularmente eu sempre preferi a versão dos "vilões", sempre acreditei que existem sempre dois lados de uma história.
Meu amigo decidiu que iria dormir lá em casa, pois não queria me deixar sozinha, e eu adorei a ideia. Ele sempre me fazia muito bem e rir com ele era incrível.
O Murilo me fez rir a noite inteira, tomamos sorvete e assistimos filmes de terror, até perto das quatro da manhã, quando eu decidi que iria dormir, pois precisava estar de pé as seis.
"Estava sentada na praça, quando o Theo chegou para conversar, ele disse que não se sentia muito bem, e que precisava desabafar. Chamei ele para ir lá para casa e ele aceitou. Nos sentamos no sofá e ele foi me contar como tudo estava difícil em casa, sua mãe não queria falar com ele direito e seu pai se culpava por tudo o que estava acontecendo. Arrumei o bongue com água gelada como ele gostava e nos sentamos na janela para poder curtir a brisa e o vento que vinha da noite.
- Sabe Mari é bom poder conversar com você, e fumar também. É sempre a melhor brisa, e você me deixa leve.
- Gosto de ter você por perto, você faz o meu coração se alegrar.
Fiquei observando os traços dele por um tempo, me perdi nos seus olhos castanhos. Fechei os olhos e afastei aquela sensação para longe.
- Você não parece bem, o que houve?
- Nada, me peguei pensando em coisas. Coisas complicadas.
- Vamos Mari, converse comigo. Abra esse coraçãozinho.
Ele me deitou no seu colo, e começou a acariciar meus cabelos. Meus olhos se fecharam, como se eu finalmente estivesse no lugar mais seguro do mundo.
- Acho que eu quero beijar você.
As palavras saíram mais rápido da minha boca, do que eu pude controlá-las. Me levantei e me afastei um pouco, olhando para o chão.
- Desculpa.
- Não me peça desculpas, porquê eu também quero beijar você.
Quando dei por mim, estava sentada no colo dele, nossos lábios entrelaçados, minha mão na sua nuca e suas mãos na minha cintura. Foi um beijo longo e cheio de desejos, nossos corpos estavam tão perto um do outro, que eu podia sentir o coração dele pulsar.
Nos separamos e ele segurou minha mão e me levou até o quarto, ele já havia estado ali outras vezes, mas nunca assim. Aquilo fez meu sangue gelar.
Ele sabia de todos os meus segredos mais sombrios, isso fez meu corpo gelar. O sorriso dele, teria iluminado uma cidade inteira e foi isso que me fez ficar mais calma.
Deixei a luminária acesa, queria poder ver o sorriso dele na penumbra. Lá fora a Lua brilhava sem cessar, acho que até ela ficou feliz, quando nos viu ali nus.
A cada peça de roupa minha que ele tirava, o beijo ficava mais intenso. Conhecer alguém vai além da nudez, então ele ficou de roupa, porque eu sabia que era assim que ele se sentia melhor.
Eu me sentei no seu colo e o beijei cheia de desejos, entrelacei meus dedos nos seus cabelos. Ele mordeu meu lábio e meu corpo inteiro se arrepiou, era como se ele me conhecesse.
Tirei meu sutiã e o joguei no chão, seus lábios percorreram meu corpo, do meu pescoço até meu mamilo, que já estava duro, meus olhos se fecharam e ele me chupou, como se eu fosse algo que ele desejava a muito tempo. Já não controlava direito minha respiração, quando me deitou na cama, eu fiquei ali olhando ele, tirar minha calcinha com cuidado, me olhando nos olhos, como quem dizia que eu poderia confiar.
Ele jogou minha calcinha no chão e me alcançou com a boca, me chupando com vontade e carinho, de uma forma que meus pés começaram a ficar quentes e minhas pernas trêmulas. Coloquei o travesseiro sobre o rosto, para abafar os sons que saíam da minha boca, eu rebolava devagar na sua boca, com tanto desejo e querendo mais. Seus dedos entraram em mim devagar e sem pressa, pouco depois, ele entrava e saía de mim rápido mais não tão forte, sua boca ainda me chupava e eu estava completamente aberta, ali para ele. Meu corpo já não me pertencia mais.
Eu soltei o travesseiro para poder segurar seus cabelos, minha respiração estava acelerada e meu corpo inteiro formigava, eu gemia e chamava pelo nome dele.
Ele parou de me chupar devagar, subiu beijando minha barriga e voltou a chupar meu seio, brincando com meu piercing, mas sem tirar os dedos de dentro de mim. Seus lábios passearam por quase todo o meu corpo, até chegar aos meus lábios. Nos beijamos cheios de desejos, meu gosto estava espalhado por sua boca, e eu adorei senti-lo, mordi seu lábio devagar e pedi mais, pedi para que ele não parasse.
Minhas pernas estavam ao redor da sua cintura."
Quando meu despertador tocou, eu quase caí da cama. O Murilo estava sentado me olhando, rindo como se tivesse lido alguma piada.
- Que? Onde eu to?
- Você está em casa, sua safada, você gemeu desde a hora que dormiu.
- Que mentira, eu nem faço essas coisas.
- Desliga esse despertador, se não eu quebro seu celular.
Peguei o celular no chão, já eram seis e quinze e provavelmente eu iria me atrasar. Meu gerente ia encher meu saco, mas depois do sonho dessa noite, eu com certeza não ligaria muito.
Me levantei, meu lençol azul estava todo embolado e o Murilo já tinha se enroscado no edredom roxo que ele tinha me dado de presente, mas que era dele. Eu sempre admirei a facilidade com que ele dormia.
Meu sofá estava coberto de pêlos, a Lilith estava na fase da troca.
- Eu deveria ter adotado sua irmã, pelo menos ela era branca, no sofá marrom não ia aparecer tanto. E nem vem com miau, mamãe tá atrasada.
Tomei um banho rápido, mas tive tempo de apreciar as paredes escuras do meu banheiro, enquanto eu lavava meu corpo e me lembrava com saudade, de cada detalhe daquele sonho.
Vesti a primeira roupa que encontrei, mas não esqueci de colocar nossa música para tocar no celular. Aumentei o volume no máximo e saí, meu coração disparado, a boca seca. A viagem até o trabalho demorou uma eternidade, eu devo ter ouvido Chasing Cars, na voz do Boyce Avenue umas oitenta vezes, até que cheguei no meu ponto.
Já passava das quatro da tarde, quando meu celular tocou, era um número desconhecido. Pedi licença para o Lucas e fui atender.
- Alô.
- Oi Mari.
Meu coração bateu tão forte, que eu pensei que fosse pular pela boca, minha mão começou a suar, era a voz dele, era o Theo.
- Ah, oi.
- Queria saber como você está, tive um sonho contigo essa noite e acordei preocupado. Liguei para o Murilo e ele me passou seu contato.
Será se eu deveria ter contado que sonhei com ele? Bem, meu orgulho falou mais alto. Haviam três anos que nós tínhamos nos visto pela última vez, o último beijo, o último abraço.
- Eu estou bem, seguindo como sempre. E você?
- Estou com saudades, você faz tanta falta.
Eu já nem sentia minhas pernas, eu tinha esperado por essa ligação nos últimos 1.097 dias. Me sentei na banqueta da última mesa, respirei fundo. Devo ter demorado muito para responder, pois a voz dele soou aos meus ouvidos, como alguém que me tira do fundo do mar.
- Saudades são passageiras, logo você esquece isso.
- Você pode não ser tão fria assim comigo?
- Desculpe, eu não quis soar grosseira, foi modo de dizer. Como estão as coisas? Como está tudo com seus pais?
- Tudo melhor, eu mudei de trabalho, minha mãe voltou a falar comigo tem mais de um ano, e meu pai. Bom é meu pai.
- Isso tudo é tão bom de ouvir, a vida sorriu para ti.
- A gente pode se ver? Eu sinto falta de você por perto.
- Claro, vamos marcar algo. Qualquer dia desses.
- Você pode hoje? Estou de folga.
- Hoje eu não posso, mas se você quiser podemos marcar no sábado. Vai ter um evento lá no parque, podemos tomar uma cerveja.
- Tá bom, se você quiser posso ir te buscar.
- Melhor não, que tal as 17 hrs?
- Como você achar melhor, te encontro as 17.
- Fica bem.
- Você também.
Coloquei o celular sobre a mesa e senti meu corpo inteiro se arrepiar, me levantei devagar. Olhei no relógio faltavam vinte minutos para eu ir embora. Engoli tudo o que estava sentindo e voltei para o balcão.
Conversei pouco com o Lucas, ele sempre foi complicado de lidar, mas tinha dias em que era quase insuportável. Ele era o tipo de homem que achava que todas as mulheres do mundo o queriam.
Observei seu corpo malhado sob a camisa polo, me perguntei como teria sido se tivéssemos ficado juntos. Seus olhos azuis brilhavam atrás das lentes quadradas dos seus óculos, e seus cabelos claros estavam bagunçados como sempre.
- Quer que eu te leve?
Balancei a cabeça, afastando cada pensamento complicado.
- Pode ser, estou meio cansada hoje. Essa noite foi complicada.
- Eu te espero no carro então.
Terminei de arrumar as coisas, preparei meu café, o mais forte que eu consegui.
Parei na frente do espelho do banheiro, meus olhos estavam mais fundos que o normal. Meus cabelos presos no mesmo coque, meu sorriso sem graça e eu com aquele olhar de quem já não vive mais.
- Pelo menos você tem uma boa pele, não fique tão mal.
Eu sempre me dizia frases motivacionais, para tentar aliviar a pressão de não ser tão bonito quanto queria ser.