Capítulo 1 - Detroit sob a neblina do Apocalipse

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Apocalipse: cataclismo onde as forças do mal vencem as forças do bem. O famoso "fim do mundo". Considerado por alguns como algo iminente, por outros uma impossibilidade. Eu nunca tive uma opinião formada a respeito desse assunto, nem havia parado para pensar sobre, mas com o que estava acontecendo, era exatamente o que vinha em minha mente.

Quase uma semana se passara, e lá estava eu novamente, privado de sono. Atormentado, minha mente não conseguia organizar os pensamentos, e isso me causava uma angústia profunda. Para onde iríamos? O que faríamos? Eu ansiava desesperadamente por alguma resposta. Assim, às 7 da manhã, decidi sair às ruas. O cenário sombrio da manhã arrepiava minha pele. As ruas áridas e gélidas de Corktown estavam desprovidas de vida. As casas eram meros casulos vazios, os estabelecimentos comerciais e edifícios eram apenas estruturas de concreto despropositadas. Aquele lugar não oferecia nem paz nem luminosidade! Decidi então dirigir-me ao Rio Detroit.

Apoiando-me nas barras de ferro gélidas e enferrujadas, observei pela centésima vez a vista majestosa do rio. Enquanto a brisa suave acariciava meu rosto, agitando meus cabelos, minha mente se esvaziou e uma sensação de paz tomou conta de mim. Fechei os olhos e um sorriso se formou em meus lábios. Mas logo se dissipou. Não conseguia parar de me perguntar o que teria acontecido para que as pessoas simplesmente desaparecessem!

  Comecei a me lembrar dos meus pais, quando me levaram ali pela primeira vez. Eu tinha 10 anos, e fiquei maravilhado com a vista e não queria sair daquele lugar nunca mais. Era meu lugar de paz.

- Mãe, por que a gente não vem aqui mais vezes? – Perguntei enquanto apertava suas mãos com toda minha força.

- Tem muita gente aqui filho, e eu não gosto muito disso... – Realmente, haviam muitas pessoas lá, afinal era um lugar maravilhoso!

- Maggie, segura a mão dele. Você se lembra quando perdeu o Charles aqui? – Meu pai sorriu, e seguiu até as barras.

- Não precisa me lembrar disso Abraham – Ela baixou a cabeça, como se revivesse uma dor ainda recente. Seguimos dali e fomos direto para casa.

  Eu era só mais um garoto vivendo em Detroit. Fazia coisas de garoto, apenas isso. Tinha 16 anos, e minha vida se resumia em ir à escola, ouvir música e pensar na vida. Sabe, eu não gostava da escola de jeito nenhum. Além de não gostar do ambiente e das pessoas, eu não tirava boas notas, o que acarretava broncas e mais broncas da minha mãe. Eu era tímido e nunca dominei a arte da comunicação.

  O calendário marcava 4 de abril de 2022, uma segunda-feira. Eu odiava acordar cedo. Vesti minha tradicional jeans preta junto ao meu sapato também preto (minha cor favorita), coloquei a camisa branca na qual levava o brasão da escola e minha jaqueta college preta com branco. Eu tinha um carinho especial por aquela jaqueta, e não era porquê ela tinha um "D" de David estampado no peito ou muito menos pelo valor alto. Havia comentado com meu pai a um tempo que achava muito bonita a jaqueta, e que um dia compraria uma. Na época estávamos passando apertado, visto que tínhamos gastado 90% do nosso dinheiro investindo na busca pelo meu irmão, então foi um esforço muito grande da parte dele para comprar ela para mim, o que me deixou muito feliz. Quase nunca a tirava, fazia chuva, frio, calor, o que fosse, eu sempre estava com ela. Borrifei então meu Cool Water, escovei os dentes e desci as escadas. Andei como de costume até o ponto onde passava o ônibus (ficava a 2 quarteirões da minha casa) e lá como já estava meu amigo Nathan me esperando. Nate era meu melhor amigo, crescemos juntos e éramos como irmãos. Ele morava perto de mim então passávamos muito tempo juntos.

  Nas salas de aula eu geralmente ocupava o último lugar e Nate sempre ficava a minha frente quando tinha aula comigo. Lá do fundo raramente alguém notava minha existência e eu tinha o ângulo perfeito pra olhar a bela garota dos cabelos morenos e cacheados chamada Anne. Seus olhos escuros se destacavam eu seu rosto branquinho. Ela estava sempre com o seu colete preto por cima do uniforme. Ela também amava preto, assim como eu. Cada movimento dela, resultava em um suspiro meu. Eu só a via na aula de biologia, infelizmente.

Devastação - Nenhum detalhe é obra do acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora