Capítulo 10; Há Caminho do Norte

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Já havíamos terminado de subir a rua a par daquela viatura de polícia, o Rob dirigia devagar em direção reta a caminho da avenida, ele parecia tenso, afinal. Quem não estaria? O mesmo teria de dirigir no fim do mundo para executar uma missão de grau suicida. Fico me perguntando se algum jogo possuía uma missão tão doida e difícil para se fazer quanto essa. É, acho que não. Enquanto o Rob dirigia em meio às ruas, eu as observava, havia destroços de carros, zumbis idiotas caminhando e cambaleando sem rumo, sangue e fogo para os cantos, algo que se tornou padrão, nada que possa surpreender a respeito do fim do mundo, certo? Peguei-me encostado a janela do carro, refletindo, e o silêncio tomava o ambiente, quanto ao Rob? Eu não queria atrapalha-lo, então preferi não puxar assunto, sendo assim acabei pensando ao vazio; e se ela estiver morta? E se chegarmos lá e tiver sido tudo em vão, essa nem é a questão para falar a verdade, pois eu iria de qualquer maneira, mas o fato é, por que motivos eu continuaria vivendo no fim do mundo, se não tenho ao meu lado aquela que me faz respirar? Seria como viver, mas não viver, é igual estar no automático, sabe? Fazer as coisas por fazer e não por querer. Resumindo, eu acho que se ela estiver morta não tem por que continuar sabe, posso estar até sendo dramático, como sempre, mas não me vejo vivendo em um mundo sem ela, mas lógico que eu ajudaria o Rob a voltar para cá, obviamente, mas após isto, não sei, para ser sincero, não sei de nada.

Enfim o silêncio foi quebrado junto com meus pensamentos graças a um comentário do Rob. – Cara, que estranho, é o fim do mundo, por que tanto silêncio, bem, claro, há os grunhidos deles, mas e as pessoas? A gritaria? Isso é esquisito.

– Bem, isso é verdade, deve ser pelo menos umas dez horas da manhã agora, a praga começou ontem e se alastrou por hoje ao nascer do sol, nessa altura as pessoas já devem ter fugido para longe ou estão em suas casas mantendo o silêncio para não serem pegas, ou sei lá, se isto é esquisito ou não, para mim é ótimo, imagina ter que dar carona para alguém, ainda mais um desconhecido. – Respondi enquanto olhava para frente e fazia sinal para que o Rob virasse a próxima direita, assim, ele contornou a avenida em direção à rodovia.

Ele virou ao meu comando e logo já estávamos percorrendo a direita, uma longa rua reta, nada fora do comum até então, porém algo nos chamou a atenção, gritos de socorro, gritos grossos e horríveis de alguém sofrendo e quando olhamos, nós vimos o pior, havia um homem tentando defender sua mulher e filhos contra um grupo de seis zumbis, nós estávamos a, pelo menos, trinta metros deles e vínhamos em velocidade média. O tal homem vociferava socorro, pelo que pude ver, ele estava desarmado e inutilmente tentava puxar seu filho das garras de um deles, tal que já estava sendo mordido por outro dos mortos-vivos, enquanto isso sua mulher chorava abraçando sua pequena filha ao lado, meu coração se apertou no mesmo momento, cara, que cena horrível, que tipo de punição foi jogada a nós? Um pai de família rebaixado a nada, sem nem poder proteger os próprios filhos e esposa, isso é o que o fim dos tempos nos trás, a impotência a quem menos precisa dela.

O Rob se mostrou tenso diante daquilo, olhando para mim sem saber o que fazer, mas a resposta era mais do que óbvia, mas mesmo assim ele continuou a olhar para mim enquanto desacelerava o carro e eu o encarei de volta dizendo.

– Nem pensar cara, você viu, o garoto foi mordido e são adultos, você acha que ele vai concorda em matar ou deixar o próprio filho? Ele nem deve ter ideia que seu filho logo também será um deles e temos um caminho a seguir.

– Mas Mike, isso é... Cara, olha o sofrimento deles... A minha fé mesmo afirma, devemos primeiro amar o próximo antes de... – Antes que ele pudesse terminar de dizer eu o interrompi contornando sua fala.

– É, mas estamos no fim do mundo, se existe mesmo alguém por nós, não irá nos punir por tomarmos a decisão certa, afinal, eu e você sabemos que se o filho viesse, uma tragédia maior ocorreria, de todas as formas possíveis, então por que temer se estamos fazendo o melhor que podemos? Mas espiritualidade a parte, seja sensato, eu também quero ajudar, mas o espaço no carro; o filho mordido... Eles não vão querer ir até nosso objetivo, e outra, são adultos, você sabe o que quero dizer. – Ele olhou novamente para frente e engolindo em seco sua escassa saliva, o Rob acelerou, ele sabia que eu estava certo, eram decisões similares a hoje de manhã no colégio, não prejudicamos aquelas pessoas, não seremos prejudicamos por elas, é assim que penso, a respeito de sobrevivência básica em um apocalipse zumbi, porém na visão humana, sei que talvez eu esteja errado, mas essa é a vida agora... Se o mundo foi dominado por seres não-humanos, talvez devêssemos nos tornar um tanto desumanos para sobreviver.

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