Capítulo 13 - Repita a receita sempre que desejar

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Nem dois dias depois de voltar para Nova York, eu já estava me debatendo por não conseguir lembrar da voz dele. Passava horas tentando lembrar do seu timbre, tentando repetir na minha cabeça coisas que ele tinha me falado, mas simplesmente não conseguia lembrar de sua voz. Queria conseguir, queria guardá-la em um potinho e poder ouvi-la quando me desse vontade. Mas não conseguia! E me perguntava várias e várias vezes, se algum dia eu a escutasse outra vez, a reconheceria?

Eu reconheci. Sua voz, seu sotaque, suas palavras. E, por mais que ele estivesse até longe de mim, as senti na minha nuca, arrepiando meu corpo inteiro, até as pontas dos meus dedos.

Não sabia se devia me virar para ele, não sabia se queria arriscar. Sua voz devia ser a única prova de que eu precisava que ele realmente estava ali. Mas, ao mesmo tempo, sentia como se eu tivesse entrado em uma bolha de um sonho que, como todas as outras vezes antes, estouraria assim que eu me deixasse acreditar que estava acontecendo de verdade.

Mas me virei, porque, no fundo, eu sabia que, por mais doloroso que seria descobrir que tinha me confundido, que era outro cara, falando com outra garota e que a ilusão só existia para mim, a mínima possibilidade de ser ele valia a pena.

Levei as duas mãos à boca assim que vi seu rosto, tentando ao máximo não deixar aquela vontade de gritar que crescia na minha garganta sair. Minhas pernas fraquejaram, me obrigando a segurar na estante, enquanto minha outra mão puxava minha blusa para baixo, colocava meu cabelo atrás da orelha, limpava discretamente qualquer batom que podia estar borrando o canto da minha boca.

E ele sorriu, me dando vontade de bater nele. Queria jogar meus braços em volta do seu pescoço, fosse ele alucinação ou não. Mas também queria bater nele, esmurrar seu peito e reclamar do quanto ele tinha me feito gostar dele só para me deixar ir embora.

E não fiz nenhum dos dois. Cruzei os braços, mordei a boca, mas não cheguei perto dele. Ainda ofegava, cada respiração mais rápida que a última, tentando acalmar meu coração e tratá-lo como ele provavelmente me trataria, como uma pessoa qualquer.

Mas era inútil. Eu não conseguia tirar meus olhos dele, tinha que plantar meus pés no chão para não me inclinar na sua direção e abraçá-lo. Praticamente apertava meus braços, enquanto ele olhou para o chão, entortando o nariz. Quando voltou a me mirar, sorriu de novo, um pouco apreensivo.

Mas aquele silêncio estava demais para mim. Só havia o rastro que sua voz tinha deixado no meu ouvido e eu queria muito poder ouvi-la de novo! Uma frase não tinha sido o suficiente.

"Johann?" Foi o máximo que eu consegui fazer sair da minha boca, e já tinha levado todas as forças que ainda sobravam em mim. Podia sentir meu coração na minha garganta, cada batida refletindo pelo meu corpo todo como uma onda que me afogava uma vez por segundo, sem nunca conseguir me deixar tomar ar.

Seu sorriso pareceu ser ameaçado quando falei seu nome, e Johann respirou fundo, desviando seu olhar por mais alguns segundos antes de falar de novo.

"Não sabia se eu devia ter vindo-" ele começou.

"Devia," o cortei, dando um passo na sua direção e sentindo meus joelhos quase não conseguirem me sustentar.

Estava sendo idiota demais. Ele era só um cara. Só um cara, Audrey, pensei. Só uma pessoa que está na sua frente.

Não. Ele não era só um cara. Ele era o cara. Aquele com quem eu tinha sonhado incontáveis vezes. E, mais do que isso, aquele era o momento que eu tinha imaginado durante tanto tempo, que tinha se tornado praticamente impossível acontecer de verdade.

Peguei o primeiro livro que avistei na estante e o trouxe para abraçar à minha frente, como um escudo. Eu realmente já tinha imaginado demais aquela cena, em cenários e ocasiões dos mais diversos. A ponto de que nunca, nada que acontecesse conseguir chegar ao nível da minha expectativa. E eu já tinha pensado demais em vê-lo outra vez só para ter que ouvir sobre sua vida longe de mim e como ele tinha me esquecido.

Receita (Infalível) de InspiraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora