Sóis E Ampulhetas

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“Eu fumo porque eu quero morrer.”

Aquela frase estava ecoando em minha cabeça já há mais ou menos uma semana. Fazia mais ou menos uma semana desde que o episódio com Taehyung aconteceu e aquela maldita frase continuava tamborilando o tempo inteiro em minha cabeça. Eu não sabia o porquê, mas aquela frase parecia até mesmo me machucar por dentro.

Eu não entendia como uma pessoa poderia querer morrer, muito menos como usaria o cigarro como forma de suicídio. Naquele dia, eu não soube o que lhe responder e acabamos por ficar em silêncio durante o resto das horas em que o estúdio continuou aberto.

Era noite quando voltei para casa, levei um puxão de orelha da minha mãe e tive meu celular confiscado. Quando estava no hospital, estava tão vidrado naquela aura preta que sequer lembrei da existência de um aparelho de comunicação, onde eu poderia dizer a minha mãe que pelo menos não estava morto.

Mas como castigo, ela não confiscou só meu celular como também disse que eu não poderia sair de casa durante duas semanas, apenas poderia ir para a escola e voltar. Nada de visitas do Yoongi e nada de ir a casa dele também. Estava começando a ficar sufocado lá dentro e minha mãe sabia como era difícil para mim ficar parado.

Eu gostava de caminhar por aí, de dançar e de conhecer gente nova. Eu gostava de experimentar novas comidas, sentir a adrenalina no meu corpo ao fazer algo perigoso e de descobrir a vida. Eu gostava muito de viver.

E aquilo novamente me fazia voltar a pensar na frase de Taehyung. Eu, que amava viver cada segundo da minha vida mesmo que estivesse de castigo, não conseguia compreender a visão de alguém que queria morrer. Eu não conseguia como alguém no mundo queria se encontrar com a morte, enquanto eu sentia medo só de pensar que um dia ela chegaria para mim também.

ㅡ Jungkook! ㅡ minha mãe chamou da cozinha.

Eu ficava um pouco irritado sempre que ela me chamava, porque eu tinha que obrigatoriamente ir até ela, entretanto se eu a chamasse, ela ficava brava e dizia que se eu queria falar com ela, deveria ir eu mesmo atrás dela. Mães e suas personalidades são verdadeiras incógnitas da humanidade.

Mas apenas levantei do sofá de onde estava sentado e fui até a cozinha, que era de onde havia a escutado me chamar. Ela estava sentada em uma das cadeiras que ficavam em volta da mesa de jantar, enquanto cortava suas unhas ali em cima. Era anti-higiênico e eu não consegui conter minha cara de nojo com aquilo, entretanto apenas ignorei.

ㅡ O que foi? ㅡ perguntei.

ㅡ Como assim “o que foi”? ㅡ ela disse com a voz um pouco alta. ㅡ Você tem que dizer “como posso lhe ajudar, cara soberana dessa casa, rainha de todas as mães e melhor mulher do mundo?”

ㅡ Tá, mãe. O que foi? ㅡ perguntei e acabei soltando um riso anasalado.

ㅡ Vai no mercado comprar alface e cebolinha. Acabei tudo ontem pra fazer o almoço espetacular que você não comeu porque sumiu por aí com alguma namorada. ㅡ falou fazendo drama.

ㅡ Já disse que eu não tava com uma garota mãe, era um amigo que eu conheci esses tempos.

ㅡ “Esses tempos” ㅡ repetiu desconfiada e então negou com a cabeça. ㅡ Tá, que seja. Mas vai no mercado do centrinho, eles estão com promoção de cebolinha hoje.

Choraminguei um pouco, porque aquele mercado era mais longe do que o outro, mas não a contrariei, até porque isso significaria morte na certa. E bem, pelo menos assim eu teria a oportunidade de tomar um pouco mais de ar e sair um pouco daquela casa abafada.

As ruas sempre ficavam bem desertas aos domingos, o pessoal geralmente ficava em casa com sua família, descansando da semana árdua que tiveram em seus trabalhos. De todo modo, eu gostava daquele clima, gostava das ruas vazias que pareciam ser inteiras só para mim, como se só existisse eu ali e eu fosse o dono de tudo.

O Menino ÍndigoOnde histórias criam vida. Descubra agora