GAROTA NOVA

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AMANDA

Já foi decidido, esse ano precisa ser perfeito. Amanda pensa, enquanto anda pelos corredores da escola. Com uma mochila nas costas, cabelo amarrado para cima em um rabo de cavalo apertado, uma maquiagem leve e um gatinho para completar, ela está com um humor ótimo, por que tudo está acontecendo como planejado.

Ela acordou cedo e fez um delineado sem defeitos, além de ter conseguido organizar na sua agenda com sucesso o seus afazeres de hoje. A única coisa que tinha saido fora dos seus planos era a sua amiga, que sempre a fazia ter atraso.

Ao esperar, Amanda encosta um ombro em um cartaz que diz" Bem vindos de volta" decorado com flores e letras coloridas. Na sua frente, vê várias bexigas coladas nas paredes entre o vai e vem de pessoas andando devagar, sem pressa para começar a estudar. Olha várias vezes no seu relógio de pulso, e conta os segundos passar, 1, 2 3...

Exatamente as 7:35 sua amiga Carol chega, como esperado. É normal a amiga se atrasar alguns minutos para qualquer evento, é a sua marca registrada. Assim como chegar cedo é uma qualidade de Amanda. Algo que as duas sempre discordavam.

- Ah eu sei amiga, estou atrasada. Mas são somente 5 minutinhos. Carol já fala antes mesmo de chegar. Amanda dá um leve sorriso com a atitude da amiga, afinal, ela já previa o sermão que iria receber.

- Tudo bem, é o primeiro dia afinal. Não acho que vai vim muita gente hoje.

- Acho que só a gente. Odeio vir na primeira semana, os professores só sabem se introduzir, dizer seus nomes e essas coisas. Carol reclama.

- Bem eu acho super importante, eles falam sobre os livros que iremos ler e o plano de estudo... Carol boceja ao ouvir a palavra livro.

- Tá eu sei, parei. Amanda diz, conhecia a amiga o suficiente para saber que falar sobre estudos a deixava com tédio.

- Obrigado. Está muito cedo para isso.
Ela fala, com um braço envolta de Amanda.

- Amiga, quando se fala de estudar, sempre é "cedo" para você.

- É, acho que sim. Carol olha para lado e avista algo que a interessa. Seu rosto adquiri uma feição de surpresa por alguns segundos e depois, de completa ironia.

- Olha só se não é Leonardo, com a mesma blusa de sempre. Ela fala apontando a cabeça para Leo, que acabava de surgir da multidão de alunos se espremendo para passar nos corredores apertados da escola. Ele estava com seu melhor amigo, chamado Matheus.

- Olha só se não é a Amanda, com a mesma cara de sempre. Matheus responde para defender o amigo.

- Pelo menos dentro dessa minha cara tem um cérebro, diferente da sua. Carol responde.

Amanda e Leo olha um para o outro, com olhar cúmplice. Os dois sabiam que os amigos amavam discutir um com outro sempre que se viam, por isso, se limitavam a se divertir com a situação.

- Todo mundo sabe que seu cérebro é do tamanho de uma ervilha Carol, não viaja. Matheus responde.

- Não viaja você garoto, estou surpresa que alguém desprovido de cérebro seja capaz de formular uma frase. Ela levanta as duas sombrancelha rapidamente e abaixa, com os braços cruzados.

- Olha aqui... Ele aponta o dedo para Carol, mas Leo rapidamente intervém na frente.

- Acho que já chega por hoje crianças, já estamos atrasados para aula.

- Meu irmão tem razão. Vamos Carol. Ela pega o braço da amiga, e a puxa em direção da sala de aula.

- Dá para acreditar nessa garota? Ela acha que pode falar alguma coisa de mim com aquele intelecto dela.

- Esquece cara. Leo fala.

- Você não acha que ela está certa, acha? Matheus fala. Leo balança a cabeça, rindo.

- Não mesmo. Com essa sua cabeça, ouso a dizer que você tem um cérebro e tanto. Ele diz.

- As garotas adoram esse meu cabeção cara. Matheus fala, apontando para sua cabeça, que se destacava bastante em relação ao seu corpo magro.

- Se você diz. Leo fala, dando de ombros.

LEONARDO

Ir para escola não é tão ruim, acho que eu sentia falta disso tudo. Do mundo real, com adolescentes cheirando à hormônio de manhã, gente animado demais para esse horário e também de ri junto com o Matheus. Posso dizer que não é chato.

Ver a animação da minha irmã não me irrita tanto, sentada lá na frente, vejo suas pernas balançarem de ansiedade para o começo da aula. Tenho certeza que ela irá começar a morder os lápis em pouco tempo se o professor não chegar logo. É, todo mundo está aqui, não existe nada de novo.

Não é como se fosse racional buscar algo de novo nas pessoas, elas são sempre as mesmas, como se tivessem sido feitas dentro de um molde que as comprimem sempre que tentam sair deles. Acho que é preciso quebra-lo para sair. Mas exige esforço. Para o Igor mesmo, o palhaço da turma, fazer essa mudança seria trabalhoso demais. Para o João Pedro, turista da sala, seria um trabalho e tanto. Por isso todos são os mesmos.

É mais fácil assim. Até para mim, que teria de mudar a forma de ver eles. Uma mudança que faria alguém ser enxergado com outros olhos não envolve somente a si próprio, envolve a percepção dos outros. Será se alguém vê que decidi mudar ? Talvez eu devesse ter colocado uma camisa nova afinal de contas. Leo pensa.

Já é tarde demais para pensar sobre camisas. Ele olha para cima e depois para o lado. Ainda não tem ninguém sentado na quarteira do meu lado. O Matheus sempre senta na minha frente, mesmo com o seu cabeção. Ele acha que sento no fundo demais. E que sou egoísta de querer sempre sentar do lado da janela.

É porque tem uma árvore muito bonita lá fora. Grande e solitária. Ela é mais velha que todo mundo daqui. Gosto de fazer companhia para ela. Leo olha instintivamente para janela e de repente vê uma garota andando à passos largos. Você com certeza está atrasada. Ele pensa. E sente algo familiar ao olha-la.
Será se a conheço de algum lugar?

DISTANTE SINTONIAOnde histórias criam vida. Descubra agora