VOCÊ ME FEZ SENTIR MELHOR

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LEONARDO

Eu estava triste por ter passado de fase no concurso de piano, não fazia sentido passar sozinho, sem a minha irmã. Não era possível se sentir feliz quando ela estava tão triste. Era por minha causa que ela tinha chorado? Eu pensava. Ela berrava e dizia que queria ter passado junto comigo.

Eu fui egoísta por ter conseguido passar? Meus pais sempre me chamavam de egoísta por nunca ajudar a minha irmã o suficiente com o piano. Eu tentava. Mas tocar era algo tão natural para mim que eu não conseguia expressar com palavras os meus sentimentos. Eu só sentia algo e passava para os dedos.

Eu não queria ser melhor do que ela.

Não me lembro de ter recebido nenhum parabéns dos meus pais. Só me lembro de vê-los  correndo em direção a minha irmã aos prantos. E me lembro dos meus pés aos poucos se afastando deles. E meu corpo se movimentando sozinho, e saindo do salão do auditório, esbarrando em todas as pessoas que estavam na minha frente.

Parei na saída do estacionamento quando já estava de fora e percebi que não tinha mais lugar para onde correr, só um grande espaço vazio.  Eu vi a o tamanho do estacionamento e  me senti sozinho. Então agachei, cruzei os braços e coloquei minha cabeça entre eles. Eu havia me afastado dos meus pais e deixado minha irmã triste. Tenho certeza que eles irão demorar perceber que eu desapareci. Por isso, eu vou ficar aqui por alguns minutos. Talvez eles se lembrem de mim. Era o que eu ansiava.

Então percebi que alguém estava se aproximando. Eram meus pais? Uma pontada de alegria surgiu em mim.

  Mas com a cabeça virada para baixo, só pude ver dois pés. Com seus sapatos.

Eram verdes, e idênticos aos sapatos de duende dos filmes.

Não era os meus pais.

Pensei na possibilidade de realmente ser um duende,  talvez eles tivessem vindo me animar, e por isso levantei a cabeça, somente para conferir. E era uma garota. E ela não tinha orelhas de duendes. Estava usando um vestido preto social, daqueles que as meninas usam para fazer as apresentações de piano.

- Você tem sapatos engraçados. Falei.

Ela colocou as mãos na cintura.

- Essa é a primeira coisa que você diz quando vê uma pessoa, por acaso? Ela parecia zangada.

Ignorei o que ela tinha falado.

- Eles parecem de duende. Mas você não é uma. Afirmo.

- Eles são os meus sapatos da sorte. Dizem que duendes dão sorte. Não sabia ? Penso um pouco.

- Não, não sabia. Respondo com sinceridade. Você usa esse sapatos por causa disso ? Pergunto.

- É. Meu avô me disse que eles pertenciam a um duende de verdade. E que por isso, ainda existe magia neles.

- E eles te dão sorte sempre que você usa.

- Dão sim. É por isso que não estou triste como você. Quer experimentar? talvez eles tem deixem melhor. Foi por isso que vim aqui falar com você.

- Não, não quero gastar sua magia. Falo. Eu não queria tirar a sorte da garota.

- Não me importo, você precisa mais que eu. Ela diz. Seus olhos tinham um brilho muito bonito. Talvez eu me sinta melhor também.

Penso por uns minutos.

- Tudo bem. Digo. E me levanto.

Rapidamente, ela começa a tirar um dos sapatos. Mas infelizmente, uma voz a chama, era o pai dela, e ele grita o seu nome duas vezes. E minha nova amiga fica parada indecisa, se fica ou vai com o pai.

- É melhor você ir. Digo.

- Mas e você ? Ainda não calçou os sapatos.

- Não precisa. Dou um meio sorriso. - Acho que eles são poderosos mesmo. Estou me sentindo melhor, só de estar por perto do par.

Ela abre um sorriso. E arruma novamente o sapato.

- Então eu vou indo ! aliás me chamo Júlia! Ela grita ao se afastar.

Júlia. Repito baixinho. E depois grito:

- E eu me chamo Leonardo! Foi um prazer garota duende ! Aceno.

E ela desaparece na escuridão. Aperto o meu peito com um sorriso no rosto.
Espero vê-la novamente. Foi ela que me fez sentir melhor, não os sapatos. Penso.

Mas eles eram realmente... Grito em voz alta: Engraçados !

DISTANTE SINTONIAOnde histórias criam vida. Descubra agora