A câmera de Elifas está na mão de Gellert. Elifas a tinha esquecido ali poucas semanas antes de viajar por aí. A esqueceu no sofá da sala, e eu a trouxe pro meu quarto. Cartas dele sobre a viajem acabavam de chegar.
Grindelwald está deitado na minha cama, com as pernas pra cima. Ele gira o objeto e o passa de uma mão a outra com displicência exagerada.
E não está deitado ali por nenhum motivo especial, a não ser por preguiça mórbida, daquelas que dão durantes todos os verões na face da terra.Muitas tardes eram assim, ele vinha pra minha casa e conversávamos por horas a fio. Até que eu precisava subir ao meu quarto e ele subia atrás de mim.
Ariana continuava brincando na sala lá embaixo. E nós ficávamos conversando e conversando, até ficarmos entediados, como estávamos agora.Por isso ele estava deitado ali. Jogado. Jogado é uma palavra que descreve melhor a forma como ele estava ali. Era estranhamente atraente vê-lo jogado em minha cama. Embora não tivéssemos feito nada e nem iríamos fazer, era atraente ver ele ali.
- Devíamos tirar uma foto. Essa tarde, eu acho. - ele falou.
Eu olhei pra ele, sério. Ele não estava brincando. O que foi engraçado, pois esse tipo de coisa, tirar foto ou qualquer coisa do gênero, geralmente partia dele e eu ainda não estava acostumado com isso. Essa forma diferente de agir, como se me desafiasse a contraria-lo, mas ao mesmo tempo esperasse bem no fundo da alma que eu o fizesse, me deixava confuso e tímido, logo, eu ficava vermelho e desviava o olhar antes de rebater sua proposta com um argumento bom o suficiente que articulasse o porquê de não podermos tirar uma foto com aquela câmera.
E embora eu tivesse certeza quase absoluta que ele não ia ligar pro meu argumento, eu me coloquei a falar.- Essa câmera não é minha, Gellert. Sinto muito, não posso usar ela sem o consentimento do dono.
- Essa câmera não é minha, Gellert. - ele me imitou, uma voz engraçada saindo de suas cordas vocais. - Sinto muito, não posso usar ela sem que o dono deixe...
- Sem o consentimento do dono! - eu disse e ele me olhou confuso. Eu sorri e expliquei: - O que eu disse foi: "sem o consentimento do dono" e não "sem o dono deixar".
Gellert revirou os olhos, deu um sorriso e se levantou da cama. Veio em minha direção e pôs a câmera na minha mão. Depois pegou a lapela da minha blusa e a "ajustou" no meu corpo. Eu engoli em seco, pois seu contato físico me deixava desajeitado e excitado.
Ele deu dois tapinhas no meu peito, como se limpasse uma sujeira e olhou no fundo dos meus olhos.- De quem é a câmera? - ele falou, baixo demais, levando em conta que não tínhamos motivos pra conter a voz, já que não estava à noite e nem conspirávamos nada. Ele falou quase sussurrando, porque, de certa forma, sabia que aquilo mexia comigo.
Quando eu comecei a pensar no que responder, só então percebi que estava prendendo a respiração. Soltei o ar com calma pra ele não perceber.- É de Elifas Doge... a câmera, digo...
Sempre odiei a forma que eu ficava sem jeito por causa dele. Mas nunca fui capaz de me controlar, a não ser quando virei adulto. Ainda assim foi difícil pra mim.Mais novo, quase não era capaz de conversar com Gellert me mantendo dentro da calça. Minha cabeça flutuava em pensamentos não muito inocentes. Bastante sodômicos pra ser sincero. De certa forma isso me marcou pra vida toda, e depois daquele verão levaria uma vida de celibato, ainda menos atraente que meus pensamentos da época.
- Elifas não vai se importar se batermos uma, vai? - ele fez uma pausa, analisou a frase e completou: - Bater uma foto só não é problema, digo...
Engoli em seco novamente. Pausa desnecessária. Pergunta mal formulada propositalmente. Gellert estava brincando comigo. Sempre brincou comigo de uma forma nada saudável pra ser sincero. Isso ainda me machuca.
Ele era sempre tão... tão... tão desejável. Ele era sempre essa mistura de sensualidade, perspicácia e genialidade. E naquela época eu não sabia fugir disso, pois foi a primeira vez que me deparei com isso.
Entenda, as garotas em Hogwarts basicamente se jogavam aos meus pés, mas eu estava ocupado demais construindo uma reputação, ganhando títulos e me tornando o melhor aluno da escola, ao mesmo tempo que observava meus colegas homens secreta e silenciosamente pra satisfazer meu cérebro com histórias completamente indevidas que jamais aconteceriam de fato. Eu era adolescente, não me culpe por essa fase em que os hormônios estão à flor da pele.O pior de tudo na verdade, era o fato dele saber que suas palavras mexiam tanto comigo. E usar isso pra me convencer era de uma má índole sem precedentes. Tudo bem que na época eu não via isso como algo ruim; pelo contrário, eu achava bom até demais, pois assim construía uma realidade na minha cabeça que nunca viveríamos. Muitas de suas palavras sem dúvida eram verdadeiras sobre e para mim. Ele gostava de mim, mas usava isso de alguma forma. Eu sei que pareci um tolo diversas vezes, essa culpa eu atribuo totalmente a minha busca incessante por aprovação.
E mesmo que ele não quisesse realmente tirar essa foto, ele fazia isso só pra ter certeza, dia após dia, que eu estava sob seu "domínio" psicológico. E adivinhem?! Eu estava consciente do seu joguinho e estava disposto a jogar da maneira que ele preferisse.
Essa espiral de pensamentos de desejo, influenciados pela carga excessiva de hormônios da adolescência masculina, me fazia uma espécie de "escravo mental" de Gellert. Logo estaria fazendo coisas por ele e para ele, caso ELE me pedisse, desde que eu também pudesse ganhar com isso de alguma forma.- Ok. Mas só uma foto. - eu sedia finalmente.
Um pouco mais tarde naquele dia, fomos à casa de Batilda. E ela tirou a foto em seu quintal. O sol estava forte. Vestimos trajes um pouco formais pra entrar no clima. Foi um pouco engraçado, eu diria.
Ela tirou duas fotos, e uma ficou definitivamente boa. A melhor eu permiti que ficasse com Grindewald. Fiquei com a segunda e a guardei.Ele me acompanhou até em casa naquele fim de tarde.
- A foto não ficou tão ruim assim, ficou? - ele perguntou sorrindo. Eu sorri de volta.
- Não muito. - disse despreocupado.
Eu abri a porta e me deparei com a sala de estar bagunçada. Havia barro no chão e a mesinha de centro estava virada de cabeça pra baixo. Não tenho outra palavra pra descrever o que senti no momento, a não ser a palavra "surto", pois foi exatamente o que eu fiz. Eu surtei.
Comecei a gritar por Ariana. Não estava com raiva, só estava preocupado. Muito preocupado. "Arianaa", gritei.
Peguei a varinha no bolso da calça e Grindewald me imitou. Bom, pelo menos ele estava ali pra me ajudar. "ARIANA".
Um bode veio correndo pela casa e fiquei assustado, o bicho balindo como um louco. Ele tinha se desprendido do quintal. Minha primeira reação foi lançar um feitiço pra fazer o bicho parar.
Ariana vinha logo atrás do animal e ao me ver lançar um feitiço no bode, com o qual, aparentemente, ela estava se divertindo, ficou extremamente assustada e começou a chorar loucamente.
O bode não estava morto, mas ela era uma criança, como ia saber disso?
Em minha tentativa inútil de acalmá-la, ela se enfureceu mais. Gellert tentou se aproximar e eu mandei que ele se afastasse. O idiota não me deu ouvidos e tentou se aproximar de novo, então falei ainda mais alto "Dá um tempo, Gellert!" e Ariana se desesperou completamente.Uma massa escura de magia explodiu dela, me jogando longe, do outro lado do cômodo. Eu bati as costas num espelho que caiu e se espatifou no piso. Gellert ficou sem reação alguma. Simplesmente parado no mesmo lugar, ele guardou a varinha devagar e observou tudo calma e atentamente. Olhou pra mim e depois para minha pobre irmã que flutuava no ar no formato estranho e assustador de um obscurial.
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d e v a s t a d o r
Fanfic❌Essa fanfic foi postada primeiro no App "Amino Harry Potter", no perfil de Will Serley.❌ O perfil era meu!! ❗os personagens principais dessa história pertencem a autora J.K. Rowling❗ Sinopse: Dumbledore conhece Grindelwald em Godric's Hollow. Ele...