cápitulo 8

420 38 44
                                    

Talvez eu esteja sendo duro demais com o jovem Gellert. Eu me lembro de tudo o que passei com muita pena de mim mesmo. E talvez isso esteja influenciando as minhas memórias.
Gellert gostava de mim. Eu sei o que falei antes sobre ele só estar me usando, mas a verdade sincera é que ele gostava de mim e eu gostava dele da mesma forma. É óbvio que ele se aproveitou disso em muitos sentidos, mas sei que de certa forma nem tudo foi por pura perspicácia.
Depois daquele quase beijo e daquela longa conversa, relembrando tudo isso, eu me dei conta que Grindewald realmente se apegou a mim, e a nossa "separação" o faria tão mal quanto fez a mim. Talvez até mais. É possível que existisse uma espécie de inveja por parte dele. A forma como ele ficou quando o falei sobre meu irmão me mostrou um pouco isso.
Nesse longo mês em que estivemos juntos eu tenho certeza que nos apaixonamos mutuamente. A certeza disso foi o dia em que fizemos o pacto.

Eu estava conversando com Abeforth quando Ariana veio e se sentou no tapete cor de cáqui, no centro da sala de estar.

   - É provável que eu e Gellert viajemos pra Escócia daqui um tempo. - eu disse de repente.

   - Quando forem adultos? Quando eu me formar em Hogwarts? - ele perguntou em tom de brincadeira.

   - Daqui alguns dias, talvez.


Ele me olhou e parou de sorrir. A piada perdeu a graça de repente.

   - Ah é? E quem vai ficar com Ariana?

   - Não quero discutir. Ela vai comigo. Se você quiser também pode ir...

   - Isso é loucura. Você tá maluco, né? - ele me indagou incrédulo.

   - Não vamos discutir sobre isso agora, ok? A viajem não vai ser hoje, vamos adiar essa conversa. Estamos indo bem por enquanto, não vamos discutir, por favor.

   Ariana levantou os olhos e disse devagar e baixo. "Vocês estão brigando?"

   - Óbvio que não, querida. Só estamos conversando. Não é, Abe? - eu falei e maneei a cabeça no tom "viu?" e Abe confirmou a contragosto.

   - Ainda não terminamos essa conversa. - ele disse e saiu do cômodo.


Suspirei de forma cansada e me encostei relaxado no sofá. Fechei os olhos, precisava ver Gellert. Nosso quase beijo ontem foi algo tão bom, tão surreal que eu acabei me precipitando. Eu sabia que Abe não iria aceitar a viajem de forma simples. Ele não gostou tanto de Gellert, e o fato de Grindewald ir lá em casa quase todos os dias não melhorava o humor dele.


Naquela tarde encontrei Gellert. Estávamos sentados enquanto ele segurava um pote de feijõezinhos de todos os sabores na mão.

   - Talvez não seja uma boa ideia viajar na semana que vem, assim sem mais nem menos. - eu disse.

   - E por que não seria uma boa ideia? - ele falou enquanto comia um feijãozinho de cor azul clara. Parou, fez uma careta. - Água? Sério que vocês britânicos comem isso?


Eu ri. Ele riu e me entregou o pacote. Eu recusei com a cabeça, e ele pegou mais um com uma cor verde clara.

   - Quando eu tinha seis anos comi um desse de cera de ouvido, desde então nunca mais provei. Eu catava todos os de cor verde clara porque geralmente vinha de sorvete de limão. - eu disse e ele gargalhou. Eu ri um pouco e disse depois fingindo chateação: - Não tem graça. Foi muito decepcionante.

d e v a s t a d o rOnde histórias criam vida. Descubra agora