• Capítulo Vinte •

3.8K 618 339
                                    

Kevin estava prestes a sair de casa para ir ao orfanato no sábado à tarde quando ouviu soluços baixos vindos do quarto dos pais

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Kevin estava prestes a sair de casa para ir ao orfanato no sábado à tarde quando ouviu soluços baixos vindos do quarto dos pais. Ele parou, sentiu um arrepio sinistro lhe subir a espinha e foi até lá, batendo duas vezes na porta antes de entrar.

A mãe estava sentada na beirada da cama, o rosto enterrado nas mãos e os ombros sacudindo. Ela parecia tentar a todo custo abafar o choro, mas era impossível.

"Mãe?", Kevin chamou baixinho. Virginie se ergueu em um pulo, assustada olhando diretamente para o filho. "Mãe, o que aconteceu?"

A mulher começou a enxugar as bochechas com força, ao mesmo tempo em que tentava armar-se de um sorriso fraco.

"Não é nada querido", ela disse com a voz ligeiramente embargada, mas dava para ver o esforço dela em tentar esconder o que realmente sentia. "Só um daqueles dias em que a gente fica meio para baixo. Nada demais."

Kevin não acreditou naquilo. Sua guarda estava alta e, desde o dia em que vira aquelas marcas nos braços de Megan, vinha prestando mais atenção na dinâmica da casa.

O acidente na sala de jogos... Aquilo tinha sido como um tapa na cara. Foi como se Kevin finalmente despertasse de um torpor que tinha estado preso desde os quinze anos, quando pensara que por ser maior e mais forte que o pai o homem nunca mais teria coragem de colocar às mãos na mãe. Ou na irmã.

Por quanto tempo estava se enganando? Será que tinha fechado os olhos propositalmente para todos os pequenos sinais? Como aquele pequeno corte no lábio inferior da mãe que definitivamente não estava ali na noite anterior? E, se fosse realmente aquilo, ele não conseguia parar de pensar que de alguma maneira também era responsável por tudo aquilo, pois tinha ignorado tudo, mesmo que inconscientemente.

Kevin sentiu o corte na bochecha arder. O fato de que aquilo nem se comparava às agressões que a mãe tinha sofrido do pai ao longo de todos aqueles anos fazia com que ele quisesse vomitar.

Ele se aproximou da mãe e, sem dizer nenhuma palavra, envolveu-a em seus braços. Ela parecia tão mais baixa perto dele, tão frágil... Kevin queria protegê-la para sempre.

Algo naquele abraço, no conforto de ser amparada pelo filho mais novo depois de anos tentando esconder o que sentia, fez Virginie desabar de uma vez. A dor se transformando em soluções desesperados.

Kevin a apertou mais contra o peito, colocou uma das mãos em suas costas e a outra na cabeça, sussurrando coisas que ele nem conseguia identificar. Seus olhos ardiam e o nó em sua garganta o impedia de respirar. Estava tentando ser forte por ela, mas era difícil demais.

"Ah, Kev...", ela sussurrou enquanto suas lágrimas molhavam a camisa dele. "Eu sinto tanto, filho. Me perdoe."

"Mãe, nada disso é culpa sua, ouviu? Nada." Kevin engoliu em seco. A tristeza e a raiva se misturavam e de repente ele não conseguia mais identificar o que estava sentindo. Queria socar o homem que deveria ser seu pai ao mesmo tempo em que queria se trancar no quarto e se esquecer do mundo ao redor, se esquecer dos problemas e dos sentimentos ruins. "Eu te amo tanto, mamãe. Amo muito."

Do Alto da TorreOnde histórias criam vida. Descubra agora