Capítulo VII - Ósculo

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O ritmo do meu coração estava acelerado. Não sabia o que ele queria exatamente com aquilo, por isso, sem raciocinar muito bem, fechei minhas pálpebras fortemente e virei meu rosto para não o encarar mais. Em seguida, senti sua respiração ebulir em meu ombro, pescoço e em minha região auricular. Eu não entendi muito bem o que senti naquele momento, ao mesmo tempo em que estava temerosa com a atitude do mago e adoraria dar uma joelhada no meio de suas pernas, sentir aquilo era... bom e, naquele momento, a parte de mim que queria descobrir o que poderia vir a seguir, ganhou, de lavada.

— Eu nunca quis te abandonar ou te deixar sozinha. A primeira vez que isso aconteceu, foi porque o Happy e eu não queríamos que você pudesse correr perigo com a gente. Sobre isso acho que já estamos resolvidos, né? —seu hálito extremamente quente fervia onde encostava em minha pele e o ardor estava começando a me incomodar.
— Si... sim, estamos. —Respondi vacilante, com a feição cada vez mais traduzindo meu desconforto e ainda evitando contato visual.
— Dessa vez, não consigo explicar muito bem o motivo de me afastar. —Ele apertou ainda mais forte meus pulsos— Eu tô... tentando descobrir algo que venho sentindo já tem um tempo e eu... queria conversar com você só depois que eu descobrisse isso. —Conforme confessava, minha intuição dizia que nossos batimentos cardíacos estavam na mesma frequência. O senti soltar suas mãos de mim, que alívio! Depois, o rapaz descolou nossos corpos e levou seus dedos até minhas bochechas, segurando minha face e a colocando na direção da sua— Me distanciar agora serviu pra que eu pensasse um pouco sozinho. Acontece que nunca fui muito de ficar só pensando, mas sim, de agir. —Aproximava nossos rostos cada vez mais e mais... e eu conseguia prever que, logo mais deveria ser levada às pressas para ser cuidada por Porlyusica-san ou Wendy, caso meu coração oscilasse uma batida. "Céus, o que está acontecendo?!" esse pensamento passou por várias vezes em minha mente nessa ocasião— Me responda, você está se sentindo mal com essa minha aproximação, Luchi? —Fazendo com que eu acordasse de meus angustiantes devaneios, questionou.
— Eu... —não sabia como o responder, não era a primeira vez que nossos rostos ficavam tão linearmente próximos, mas, diferente das outras vezes, dessa vez eu não sentia que era preciso desviar. Nada muito formulado que eu dissesse, ele iria entender, então respondi apenas o que eu achava mais adequado e que sei que não seria complicado para um crianção como ele, compreender— Não.

Ficamos nos encarando, um mergulhado no olhar do outro.
Diálogos não eram mais necessários.
O corpo de Natsu e o meu estavam em uma sintonia que nunca imaginei algo como isso realmente acontecendo entre nós. Se era magia ou apenas algo que a ciência pudesse explicar, eu não sabia e ainda não sei.
Suas pupilas dilataram, meus poros transpiravam assim como os seus, eu ainda percebia nossas pulsações em sincronismo.
Naquele instante, senti que meus braços moveram-se sozinhos, seguindo para as costas do dragon slayer, um pouco abaixo de seus ombros, por baixo de parte de seu cachecol, onde minhas mãos o acariciavam até chegar em sua nuca e brincar com os poucos fios de cabelo que haviam ali, fazendo uma forcinha para traze-lo mais para perto na medida em que meus olhos, hipnotizados pelos seus, fechavam aos poucos.

— Dessa vez você não vai tentar desviar então, Luchi? —me questionou, em um tom de voz grave, porém agradável.

Seu olhar estava entreaberto e seus dedos acariciando minha mandíbula, até o malar, me causando uma sensação de arrepiar, até então inédita para mim.
Realmente, em alguns outros momentos, Natsu e eu já tivemos oportunidades de fazermos o que estávamos prestes a fazer, mas sempre o recusei, afinal, nunca havíamos pensado sobre isso seriamente.

— Não.  —Respondi.

Com minhas maçãs do rosto quase em chamas, fechei meus olhos.
Senti nossos lábios se tocarem e, instantaneamente, uma descarga gélida percorrer meu abdômen.
Que quente! Era outono e tudo indicava que eu estava prestes a sofrer um choque térmico.
Nunca imaginei que alguém tão espirituoso quanto ele guardaria esse tipo de intenção.
Sua mão esquerda acariciava toda minha nuca enquanto sua direita passeou do meu rosto, pescoço, ombro, minhas costas, deslizando em minhas curvas, até chegar em minha cintura e ali estacionar, me apertando com firmeza. Sua língua passou pelos meus lábios e eu entendi que ele gostaria de me provar ainda mais. Não o recusei. Provavelmente esse foi seu primeiro beijo, parecia não levar muito jeito ao andar com aquele músculo aqui dentro, o senti muito afobado e, com a minha língua, tentei acalma-lo, na medida em que acariciava, calmamente, seu cabelo espetado.
Era uma hora silenciosa da noite, eu ouvia apenas o roçar de nossos corpos, nosso beijo e nossas respirações.
Experimentei o quão ardente, acre e terno Natsu é. Nada em demasia e nem em falta, tudo em ótimas medidas.
Nos separamos, em busca de um pouco de ar. Levei minhas mãos para o batente da pia com o intuito de me apoiar ali, tentando me recompor. O mago afastou-se um pouco de mim.

— Nunca imaginei isso. —Comentei, um pouco ofegante.
— Eu também não. —Revelou, sem olhar diretamente em minha direção. Dobrando seus cotovelos, levou suas mãos para trás de seu pescoço, entrelaçando seus dedos, se apoiando ali e virando de costas para mim.

Sorri e fui para perto dele, me colocando ao seu lado. Eu estava um pouco constrangida, não negarei, por isso deixei os dedos de minhas mãos brincando atrás de mim, com elas apoiadas em cima de minha saia, enquanto eu pensava em algo para dizer.

— Você deve estar pensando... —falei, também evitando vê-lo.
— Em que? —perguntou, ainda sem direcionar seu rosto até mim.
— Como não deixamos esse beijo acontecer antes? —me encolhi mais um pouco ao sentir minha face esquentar.
— Acho que só consegui analisar melhor o tipo de pessoa que estava lado a lado comigo depois que tive tempo pra isso. Me desculpa por demorar a entender esse negócio e como agi até agora.

Por algum motivo eu me enchi de alegria ao escutar essas palavras vindas dele.
Aos poucos, voltamos a direcionar nossos rostos um para o outro.

— Talvez... talvez ainda não tivéssemos nos preocupado com esse tipo de coisa, me refiro aos nossos sentimentos em comum. —Ergui minha cabeça— Sempre zelei por sua vida e você pela minha, além, claro, a de todos que são importantes pra nós, por isso nunca houve malícia entre mim e você. —Eu dizia ao rodopiar um pé no chão— Tivemos muito trabalho com missões, guildas das trevas e toda essa galera que se metia com a gente, então... esse tipo de preocupação nunca nos deu espaço para analisarmos nossos sentimentos —Minha visão procurou a dele e aquietou quando a encontrou—, nossos verdadeiros sentimentos.
— É. —Sorriu. Fazia tempo que não o via sorrir.
— Natsu!
— Uhm? —Me fitou, curioso.
— Você sorriu! Finalmente! —não me contive e o abracei. O escutei rir e senti seus braços me contornarem de volta— Que saudades eu senti do Natsu que eu conheço! —deitei minha cabeça em seu peito e percebi seus dedos alisarem por cima de meu cabelo.

Como eu pude ignorar um sentimento tão sublime em alguém que tenho tanto apreço? Sempre gostei do Natsu, desde que o conheci nós nos tornamos parceiros e, realmente, também tínhamos algumas brincadeiras que eu não tinha com mais ninguém.
Imaginei que não pudesse existir o "cara legal" que Aquarius me dizia que eu nunca encontraria, mas, na verdade, parece então que essa pessoa esteve a todo momento bem debaixo do meu nariz!

Estranha SinfoniaWhere stories live. Discover now